O Mosquito e o Touro

Leopoldo Jereissati
Fala Man
Published in
5 min readOct 28, 2018

Lições de uma eleição polarizada e vazia

Diz Esopo que um desses mosquitos de estábulo pousou no chifre de um Touro e lá ficou longo tempo enquanto o Touro ruminava as palhas que comera. Antes de sair em seu vôo, ele pergunta: “Desejas que eu me afaste?” O Touro lhe responde: “Nem notei que estás aí; e ao partires, também nem perceberei que te foste”.

É com essa falsa indiferença do Touro de Esopo que tratamos à Política. Durante as eleições o tema zune em nossos ouvidos por toda a parte. Assim que ela passa, a ignoramos por completo. Também nos assemelhamos a este animal da fábula quando a desdenhamos. Ficamos quatro anos com os mosquitos defronte nossa face alheios. Na hora de votar, ao invés de nos concentrarmos nessa que é nossa única chance de mudar o quadro, fingimos que não é com a gente e que tanto faz.

Quem já trabalhou no campo e viu as nuvens de moscas sobrevoando os bois da vida real sabe que ignorá-las seria a última coisa que os pobres bichos conseguiriam.

Pela primeira vez, sinto-me aliviado pelo fim do período eleitoral. Acredito que mais gente também esteja com essa sensação. Não aguentava mais esse circo. Não por acaso o palhaço Tiririca estará lá pela terceira vez, agora junto com célebres figuras do meio artístico-depressivo.

Talvez a gente não perceba, mas o sistema político atual é uma triste peça de teatro. Ali quem chama a atenção são os atores e atrizes que melhor incorporam personagens que nos trazem euforia ou medo, heróis e vilões, é a emoção que nos move e não a razão. Esse é o “x” da questão. Daí 17 e 13, não 17 ou 13.

Na matemática, o “e” serve para conectar duas afirmações e traz consigo o sentido de simultaneidade, isto é, as duas afirmações devem ocorrer ao mesmo tempo.

Então, dizer que x ∈ A “e” x ∈ B é dizer que o x está tanto no A quanto no B ao mesmo tempo.

Nada de novo, de novo.

A boa nova é podemos atuar em pelo menos três frentes para as próximas eleições Municipais.

  1. Combater as Moscas: As Moscas são pequenos grupos lobistas, as vezes clandestinos, outrora disfarçados em páginas influentes de facebook, entre outros que manipulam e/ou financiam os partidos e candidatos. São projetos de poder executados via mecanismos públicos e privados, entranhados nos três poderes. Devem ser combatidos pela sociedade criticando, ignorando, e acompanhando de perto candidatos eleitos nas urnas e continuando a ir para as ruas sempre que necessário.
  2. Imprensa mais moderna e menos histérica: o teatro político não perdura sem audiência. A imprensa tem que ser mais comprometida com os fatos de fato e não com o terrorismo político. O problema aqui é que ninguém “vende jornal”, como diziam os mais antigos, sem fazer barulho… aí vem o medo e a euforia novamente e agora endossados por especialistas e ainda pior, com um poder de alcance ainda gigantesco destes veículos. Precisamos de uma imprensa mais séria e atualizada com um novo tipo de debate — o modelo atual já era. Quantas “Start-Ups” será que já existem e resolvem as pesquisas políticas melhor do que os tradicionais Institutos divulgados com margem de erro de 97% para cima e para baixo???

3. Nossa imaginação: por último e mais importante é a nossa imaginação. Temos que nos manter equilibrados e racionais dentro de nós mesmos. Quantas vezes traçamos na nossa cabeça o cenário perfeito ou horrível se um ou se outro candidato levasse as eleições de 2018? Fizemos ou não o “Estouro da boiada” dentro da cuca. Nosso terror interno é que estimula a mídia a propagar a euforia e o medo, inclusos nossos amigos em redes sociais que hoje tem poder e engajamento maiores do que as mídias tradicionais. Acho que recebi no meu Whatsapp, na proporção de 1 para 50, videos de propostas de candidatos vs pornochachada política e videos de violência entre “torcidas organizadas” vermelhas ou verde-amarelas (que no final por um movimento bizarro de campanha ficaram todos da mesma cor).

Recentemente surgiram movimentos civis apartidários em direção a um futuro político mais eficiente e correto como o RenovaBR e o Agora. Preferi me ater e estimular a eleição de candidatos apoiados por este tipo de movimento. Conseguimos eleger na esfera estadual e federal. É só o começo.

Até hoje, as moscas souberam de forma inteligente e organizada como enfurecer os Touros sociais. Está na hora de reagirmos. Dar uma “insetiçada” nelas (Pires, Alexandre — 1993).

Chega da zoeira sem fim!

Está nas nossas mãos e no sistema de ensino estimular o pensamento e o diálogo com nossos filhos para que eles consigam ressignificar as Touradas do futuro que pasmem, estão presentes ao menos desde 1936 quando Munro Leaf escreveu o conto “The Story of Ferdinand”.

Ps: Já votou hoje?

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