O Perigo Mora ao Lado

Leopoldo Jereissati
Fala Man
Published in
6 min readFeb 21, 2020

Do seu lado.

Essa semana ficamos chocados com o caso de pedofilia deflagrado “em uma escola de elite” em São Paulo. No caso, um professor que lecionava na St. Nicholas School há aproximadamente 20 anos. Resumindo a matéria, o que se provou até agora é que pelo menos desde 2009, o cara escondia câmeras dentro de caixas de remédios, as colocava embaixo da mesa e assim filmava por baixo da saia das alunas menores de idade.

Salvava tudo em HDs e guardava na casa dele. Tamo falando de meninas entre 10 e 16 anos. Tamo falando de um cara já próximo dos 60 de idade fazendo isso. Por acaso essa foi a escola em que estudei da 8ª série ao 3º Colegial, ou Senior 3 ao Senior 6. Por acaso, também fui aluno desse professor que na época nos ensinava Geografia e História do Brasil — um desafio uma vez que os alunos ali dominavam com profundidade os cliffs do Reino Unido mas mal conheciam a nossa Serra do Mar ou nem mesmo o icônico Pico do Jaraguá. O que me assustou, talvez seja o padrão, a persona do criminoso. Esse cara era aparentemente bonzinho: magérrimo, bigodinho, tinha uma voz estridente e ficava irritado com frequência, pois eram raras as vezes que conseguia conter a classe. Todavia nunca imaginei que fosse capaz de tal fato. Doente. Deus abençoe a família dele, que deve estar devastada. Se provarem assédio físico ou qualquer coisa além do conteúdo produzido… já era. Segundo a série do Netflix — Olhos que Condenam (The Five do Central Park), pior que estuprador só pedófilo nas “regras” da cadeia.

Uniforme padrão das escolas britânicas

Fiquei pensando nesse momento como Pai, que ainda não sou, o que eu faria. Qual o grau de responsabilidade que a escola tem em relação ao fato. Se tirar o meu filho ou filha dessa escola resolveria ou protegeria as crianças de tal exposição. Diretora (unidade de Alphaville) e professor são casados. Um problema de compliance? Tantos anos juntos, será que ela não desconfiava? Difícil julgar. No fim, acho que não resolveria. Foi um caso isolado acredito, a escola é fundadae tocada por pessoas muito boas — tive grandes alegrias e saí a frente dos colegas da minha época em termos de hard e soft skills — me formei em 2002. Primeira turma da escola.

Talvez não haja melhor forma de proteger nossos filhos que não o incentivo do diálogo aberto em casa, e o cuidado que devemos ter sempre que eles esboçam comportamentos diferentes ou tentam nos dizer algo aparentemente bizarro que pode ter grande fundamento.

Isso tudo me lembrou um caso antigo e asqueroso de um ex-funcionário da nossa fazenda no Mato Grosso do Sul, que levava sua filha mais velha na carroça para ajudá-lo à salgar os cochos para os bois. Na verdade o cidadão levava a jovem para o meio do pasto, longe de tudo, para que pudesse abusar dela sem que ninguém o flagrasse. Quantos casos nojentos desse devem rolar a cada dia? O que leva uma pessoa adulta, com tantas opções interessantes, desejar alguém tão inocente. Me lembrou também os escândalos da igreja e o descaso com que levavam esse assunto até pouco tempo. Me lembrou porfim uma viagem de carro a noite, parando para abastecer na divisa de São Paulo com o Paraná, uma menina de no máximo 12 anos de idade se oferecendo para nós por apenas 4 reais. Quanta tristeza: o carro em seguida ao nosso aceitou a proposta dela.

Infância roubada

Na semana passada, 3 jovens tentaram assaltar nossa agência de publicidade. Sexta-feira a noite, perto das 20h. Sabiam exatamente o que estavam fazendo. Chegaram com roupa de quem volta do parque do Ibirapuera, vieram de baixo, como quem sobe da Sto Amaro em direção ao bairro. Tocaram a campainha por muitos minutos para ver se alguém atendia. Quando sentiram que não havia ninguém no imóvel, arrombaram o portão e entraram. Aparentemente sem arma de fogo. Sabiam o que queriam e como levariam. Caminharam no ponto cego do alarme mas foram surpreendidos. Fomos salvos por um Job Fura Fila de um cliente de Porto Alegre que precisava às pressas fechar um arquivo para impressão. O time responsável estava na ativa trabalhando no dia. Quando se depararam, ladrões e equipe, cada um correu para um lado e nada de mais grave acabou acontecendo. Só o susto. Susto que nos obriga a sair de onde estamos e pasmem — estamos na Vila Nova Conceição. Na rua onde estamos quase toda casa já foi roubada ou invadida. Coisas que você só descobre nesses momentos de tensão.

3 ladrões

Depois de 20 minutos encostou uma van de luxo preta, na porta da agência com o pisca ligado. “Coincidências”. Fiquei triste também com o despreparo da Polícia Militar. O Cabo saiu concluindo um monte de coisa com base em um caso próximo da região, fez o B.O rapidinho para poder se livrar e coube a nós cidadãos comuns investigarmos até o limite da nossa própria segurança. Escolher ser policial é uma decisão muito nobre; é uma pena que não conseguimos promover para eles condições para que sejam preparados e sejam mão de obra melhor qualificada nas ruas. Depois disso me adicionaram em um Grupo de Whatsapp chamado Vizinhança Solidária. É quase um Brasil Urgente focado na sua região. Acontece coisa toda semana. A gente que não vê, não fica sabendo ou não dá atenção à isso. Minha esposa me perguntou se iríamos blindar o carro dela. Ela acha um desperdício de dinheiro; eu não. — Daria para fazer tanta coisa com essa grana — ela dizia. — Tem que estar vivo para fazer qualquer coisa — eu, já no drama.

Mesmo com tudo isso acontecendo em um curto espaço de tempo, gosto de lembrar que estamos vivendo tempos de paz. O mais longo da história da humanidade segundo historiadores como Harari. Rola polarização em quase todos os assuntos da internet, mas os mesmos que divergem ainda sentam no bar e tomam uma juntos. Pelo menos entre as pessoas que conheço. Pelo menos aqui no Brasa.

No curto prazo mudaremos para um local mais seguro e adequado ao tamanho da operação que não para de crescer; 2020 começou incrível! Longo prazo é investir em educação, em condições mínimas de dignidade e de posse (distribuição de renda) para que as pessoas deixem de colocar suas vidas em risco por bobagem. Investir em negócios de impacto é uma solução pragmática para encurtar o longo caminho que nosso Estado deixou em várias áreas. Melhor ver à não ter capacidade de enxergar. Ainda to naquele período desconfiando de tudo e todos que eu vejo na rua.

Meio “Datena” o artigo de hoje. Acho que foi o efeito de realizar os riscos.

Corta pra cá e chama o Comandante Hamilton!

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