Para bom empreendedor

Leopoldo Jereissati
Fala Man
Published in
8 min readMar 31, 2020

Meio Corona basta!

Não sei você mas com overdose do Corona. Graças a Deus ainda não pegamos o vírus aqui em casa. Sabemos que vamos pegar e estamos nos esforçando para que seja “lá na frente” quando as coisas voltarem ao normal e se caso precisarmos de assistência médica, o sistema de saúde esteja de volta ao ritmo normal.

Pensando bem, nada voltará ao normal pós Covid. Acho que vou montar um calendário paralelo: 2 anos A.C (antes do covid) e 10 anos D.C (depois do Covid) — Não tem um que não esteja repensando a vida nesse momento. Daqui a uns meses volto nesse tema e conto para vocês o que mudei na minha. Vem coisas muito boas por aí.

Entre intermináveis vídeos no whatsapp e teorias infinitas do caos achei três textos muito bons que recomendo sobre o momento:

O primeiro deles é o “The Hammer and the Dance” do Tomas Pueyo. Melhor relação entre o isolamento social necessário e a necessidade de aos poucos voltarmos à rotina normal. A famosa curva que você não deve mais aguentar ver mas precisa lembrar de fazer sua parte para que ela aconteça. Tem uma relação aqui da própria mutação do vírus se ficarmos em casa muito tempo que é ruim. O bicho é ninja.

Artigo do Tomas Pueyo

O segundo vem de alguém cujo repertório para escrever sobre quase qualquer coisa é de dar inveja: Daniela De Rogatis . Nesse link vc lê na íntegra “a necessidade de uma resposta sistêmica em um mundo ainda binário”. Não estranhemos se virmos nas próximas semanas o impensável há poucas semanas atrás. Para quem gosta do viés político-econômico & social é um baita texto.

Posicionamento do Legado sobre o tema. https://drive.google.com/file/d/1kdzqfwrJFTPHCZdP5htivO0E6fWTFFht/view?usp=sharing

Eu tenho essa mania sabe… eu leio apenas o suficiente. Busco fontes boas e já era. Com esses dois artigos acima você arrasa no Zoom da família, dazamiga e dos futuros enroscos quando o Covid permitir.

Lava Jato está para Moro assim como Covid está para Mandetta.

Quando falamos na semana passada sobre o assunto, a Dani me disse algo aliviante: “demorei um pouco para conseguir sintetizar, mas saiu…”. Eu tava na mesma… Cheio de coisa na cabeça mas sem respaldo para poder ter voz naquilo que eu fosse dizer. O Mandetta e o Bassitt tão mandando muito na saúde, não ousaria aqui. Para encher o saco, o Zap tá cheio de corneteiros — nem que eu quisesse daria para competir. Se tomar como base o tempo que os véio tem para mandar coisas aleatórias nos grupos, aposentadoria podia chamar quarentena daqui para frente.

Estava buscando algo pragmático, claro e direcionado para o(a) pequeno(a) e médio(a) CEO. Então acredito que aqui venha a minha contribuição seguindo o guidance desse terceiro texto do Ram Charan : O plano de 180 dias.

Empresa = Gente, Processos e Sistemas

  1. Cuide do seu time. Da saúde deles e da saúde dos seus clientes. Sem isso você não tem nada e vai ficar muito difícil superar a crise. Estamos na semana 3 da quarentena e começamos a abrir as reuniões via video conferência com “ice breakers”. Hoje a Squad 4 (time 4) usou a snapcam e fizeram o call cheio de filtros na cabeça. Cada dia lançam um tema diferente. Já a Squad 7 abriu a reunião com o tema curiosidades, assim cada um contou uma e descobrimos All Setter que tomava vinagre na infância à patinadora profissional na equipe. Nosso talento é maior que a nossa função e em tempos de Covid isso é mara!
Squad 4 — P.O Danilo Novais Vilela

2. A segunda coisa mais importante é ter dinheiro no caixa (liquidez) e é sobre isso que vou discorrer abaixo.

Resumidamente precisamos sobreviver à crise que é conhecida: tem começo, meio e fim. Para isso, precisamos de um caixa com valor equivalente a 180 dias da operação caso não entre mais um real na empresa como consequência do Covid. Na hora que li fiquei contente por perseguir esse valor há 2 anos e termos batido essa meta em dezembro de 2019. Por outro lado estamos agora com um problema bom, que foi termos crescido a operação para caramba no primeiro trimestre de 2020 (que onda maravilhosa surfamos) mas agora termos apenas ~80 dos 180 dias da meta original. O que fazer para buscar rapidamente a diferença ou asap (as soon as possible) na linguagem corporativa?

  1. As vendas vão cair. Salvo raríssimas exceções, esse é o cenário que você deve trabalhar para montar seu cenário (fluxo de caixa). Vai chegar a 50% a queda em alguns casos. Seja realista, não tenha medo de ver o tamanho do buraco.
  2. A maior parte das empresas tem recebíveis, ou seja, tem NF faturadas com pagamentos de 30, 45, 60, 90 dias. Ao mesmo tempo, boa parte dos seus consumidores/clientes vão perder a capacidade de pagamento já-já. Tente descontar o mais rápido que puder suas duplicatas, e quantas duplicatas puder. Comece agora. Achei que era apressado o movimento mas chegamos a outra conclusão em call hoje de manhã com nosso Diretor Financeiro. Melhor arcar com o custo da taxa e trazer mais alguns meses de folha de pagamento pro caixa agora à correr o risco das empresas “barrigarem” os pagamentos em pouco tempo. Aqui vale dizer que descobrimos que as grandes e médias empresas possuem negociações especiais nos grandes bancos para seus fornecedores. Isso reduz bastante a taxa de desconto que tem no seu banco comparado ao banco que a grande empresa escolheu. De 3.5% para 0.7% ao mês no nosso caso. Outra curiosidade é que se você quiser correr o risco da duplicata vencer e esperar para ver se vão pagar ou não, aí seu caminho muda de grandes bancos para pequenas factorings e aí a taxa dispara.
  3. Para negócios com estoque, estes tendem a se acumular. Entenda a necessidade de recompra automática ou não de cada item. Desliga esse botão aí! Cuidado com os perecíveis que perdem valor ao longo do tempo. Qualquer coisa com validade de até 6 meses a partir de agora tende a te dar mais dor de cabeça do que alegria.
  4. Se seu negócio envolver produção, talvez seja a hora de parar esta. A não ser que esteja envolvida entre os negócios essenciais citados pelo governo ou no combate direto ao Covid.
  5. Se tiver uma linha de crédito no banco, talvez seja a hora de pegar. Não sabemos até quando os bancos vão estar dispostos a emprestar dinheiro para empresas desse porte. Aqui vale ficar atento às linhas de crédito que aparentemente são lançadas a cada dia. Olhe bem os asteriscos. O pacote da folha de pagamento parece que só vale até dois salários mínimos. Além da taxa do BNDES de 3.75% ao ano, ainda vem uma série de taxas adicionais para você entender realmente quanto vai pagar pro banco de juros no final das contas. Mesmo assim, se valer a pena, tome o dinheiro e muito cuidado para não se endividar demais. Lembre-se que é para puxar uma quantia para te ajudar a passar pela crise, mas que depois tem que pagar do mesmo jeito e ainda mais caro (juros). Agora pela noite recebi de um colega que trabalha em um grande banco que “O BNDES disponibilizou uma linha bem interessante para os principais Bancos darem crédito de até 7 anos com 2 anos de carência. O custo não é subsidiado, mas o BNDES fornece 100% do funding para os Bancos e tem bastante flexibilidade no uso do Caixa. Quem precisar de um colchão durante a crise, vale ligar pro seu banco e provocá-los com esse tema. A linha é relativamente simples: Até 70 MM, faturamento de até 300MM com até 7 anos de prazo. Os bancos tomam o risco de crédito e o funding vem do BNDES. Começou a valer hoje!” — as restrições são compras de importações ou uso no exterior ao que parece apenas. Minha recomendação é ter uma finalidade definida para essa verba. A nossa é folha de pagamento.

Nem tudo tá ph%&dido. Aproveite as oportunidades. É mais fácil olhar para o lado e ver que a casa tá caindo geral. Nessa hora do efeito manada é que grandes empresários e investidores fazem a festa e dão passos importantes para o futuro. 2008 eu não tinha dinheiro para fazer nada. Prometi para mim à época que estaria capitalizado na próxima janela que viesse a abrir e estou. Sabia que levaria cerca de uma década para. É tipo “dólar a dois”, não dá para perder. Eu não costumo investir diretamente na bolsa, mas se olhar o cenário atual e comparar ao histórico recente e lembrar que essa é uma crise passageira apesar do baque; tem bons papéis à preço de banana. Não me pergunte quais pois não sou especialista, o que posso dizer é invista um dinheiro que não vá precisar mexer nos próximos dois anos (independente de quanto for, faça esse exercício). Quando vier a próxima crise na década seguinte você vai grandão pro jogo, calejado dos erros com pequenas quantias. Por fim, para assuntos financeiros tem um gestor fantástico qual confio parte importante das minhas reservas: www.v2investimentos.com.br . O Vitor é o típico cara que você liga preocupado com um cenário e ele já executou 2 ou 3 alternativas ao fato duas semanas antes de você pensar nisso. Consistência é o segredo dessa empresa e desse gestor.

Sobre os negócios em si, como trabalho com publicidade, impossível não parafrasear o Nizan Guanaes nesse momento: “Enquanto eles choram, eu vendo lenços”. Não está fácil para ninguém mas nós decidimos junto com nosso time abraçar o maior número de oportunidades que estão surgindo nessas últimas semanas para tentarmos assegurar, na medida do possível, novas receitas para a empresa trazendo assim maior segurança e novos desafios para os colaboradores e empregos existentes.

Sobre o time, talvez estejamos mais unidos do que nunca nessa distância que nos foi imposta. Estamos trabalhando com maior produtividade, maior transparência e maior autonomia no modelo home office.

Sobre os processos, estamos focando no essencial. Deixamos de lado qualquer burocracia desnecessária. Estamos revisitando tudo e ficando apenas com o que interessa. Isso é ser ágil para nós. Sem apego à métodos, fiéis à filosofia. Leiam esse livro: A Única Coisa

Sobre sistemas, slack, trello, basecamp3, zoom/meet. Com isso e caixa de entrada resolvemos 80% da operação. Conta Azul para controladoria e já era. Provavelmente cortaremos mais de 30 mil reais de custo no ano em breve com sistemas que não precisamos mais.

Sobre custos, não tem segredo: OBZ (orçamento base zero). De louco e Ambeviano, todo mundo tem um pouco. Dá trabalho mas começamos hoje a ver linha por linha, o que precisamos cortar e o que não. Sobre despesas, estamos postergando toda iniciativa que pudermos postergar para preservar o caixa — por exemplo a reforma do novo escritório. Com as obras paradas, nem que a gente quisesse acelerar daria. Seria contra nossa cultura que olha para a cadeia como um todo, estimular fornecedores a se expor durante a Pandemia.

Sobre o futuro, deu para notar que tem muita variável fora do nosso controle. Foque no que está na sua mão. Cada semana é uma semana. Isso é o que posso lhes dizer para essa.

Bom dia São Paulo!

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