Primeira Semana

Leopoldo Jereissati
Fala Man
Published in
5 min readFeb 21, 2024

…na Escola Primeira

Sou pai do Francisco e fiz a adaptação dele na escola no G2. A Luiza, mãe, está com nosso recém-nascido, José, então assim nos dividimos. Ajustei minha agenda pelas manhãs, para que ele se sentisse seguro e partisse para o que deverá ser uma das maiores aventuras de aprendizado e socialização da vida dele: a Escola.

Minha saída foi super gradual. Ao todo foram nove idas e voltas, com o carnaval no meio. Comecei o primeiro dia dentro da sala, literalmente. Dia seguinte em uma mini-cadeira logo na janela da classe e ao lado de outras mamães a gente entrava e saia sob demanda; uma delas está na terceira gestação — impressionante a força de uma mulher — adaptando um enquanto gera outro.

Curioso e inimaginável, passei mais de uma semana no jardim de infância com 38 anos de idade. O que puder ver e vivenciar? Um ambiente todo feminino e muito diferente do dia a dia corporativo qual estou imerso há vinte anos. De homem ali tinha Eu, o faxineiro e um prof. de Ed. Física. Como pode aquelas mulheres, da coordenação à assistente de classe, orquestrarem aquela sinfonia de choros constantes e variados colocando ritmo e pausa entre brincadeiras educativas, aulas de música, danças carnavalescas, comida para os peixinhos e subidas no “brinquedão”?!

— Hora do Lanche!

E como o reiniciar de um computador os pequenos organizam-se e sentam-se à mesa com suas cadeirinhas e esperam calmamente sua vez e suas vontades entre frutas , “bicôitos” e pães com manteiga ou geléia e pães de queijo.

— Banheiro?

Crianças sentadas lado a lado para que a prof. pudesse acompanhar e ir levando um a um para os vasinhos e trocas de fraldas. As mini pias são um convite para a autonomia, descoberta e bagunça.

O papel dos pais ali é ser invisível, ao menos o máximo que pudermos. Por mais que tentasse, a medida que passavam-se os dias minha figura começava a ficar comum para os pequenos na escola. De vez em quando aparecia um no meu pé:

— Olha tio, eu toco Tuba! Eu nem sabia o que era uma tuba mas a colher de pau cheia de areia ia em direção a boca do Pedro e ele saltitava feliz assoprando aquilo para todo lado. A mesma colher se transformava em guitarra com batidas ritmadas. Do meu lado tinha uma bacia de metal cheia de água e areia que virou uma bateria ensurdecedora que o deixava cada vez mais feliz a cada batida.

— Olha tio, esse é o meu tênis! Entre vários pares na janela, um camuflado de exército super legal era de um garoto sorridente com cabelos cacheadinhos: Fabian. Gosta de jogar bola e logo percebeu que o Francisco também. Virava e mexia e lá iam para o “campo”, ou quadra, brincar.

Uma cesta de basquete tanto quanto alta não permitia que a bola deles chegasse até o aro. O pequeno Vicente tentava insistentemente mas, por mais força que fizesse, ainda faltava muito para chegar. Ele me olhou, eu olhei para ele… — Ergue o braço. O levantei no alto até ele cravar a cesta e ficar estonteante. Dia seguinte, ele veio com a bolinha amarela e virou de costas na minha frente tipo, — Tio, me ergue de novo pô!, mas tive que me conter.

Nesse meio tempo o Dedé fez aniversário e levou um bolão para o lanchinho deles. Quando vi o bolo devo ter feito uma cara do tipo, lascou, mas logo fui informado pela mamãe que a receita era feita com tâmaras, uva passa e cacau. Entendi um dos motivos para minha esposa ter gostado tanto da escola, tem essa consciência nutritiva entre os pais também… eu sou do tempo de lamber a lata de leite condensado… to evoluindo…

O Dudu é um menino doce. Na dele, adora carrinho e as rampas de madeira que monta pela classe. O João Pedro, bem simpático, eu o conheci no carrinho de volta para casa ontem pelo bairro com sua babá enquanto interagia com o Chico. O Lucca é um touro de forte e de uma esperteza interessante. Ele sabe que a mãe dele está por perto na escola e nos momentos que encontra dribla todo mundo e vai indo em direção ao G1, onde imagino que ela esteja. Algumas poucas crianças estavam no meu “contraturno” de poucas horas, o Leo, a Olivia o Lucas e ou o Nicholas. Difícil lembrar todos os nomes… perdoem-me se comi bola com algum deles, se esqueci de alguém.

As meninas tem uma certa maturidade maior desde muito cedo. Você nota com maior clareza a personalidade de cada uma delas. Sofia, uma pequena observadora, atenta, percebe tudo a sua volta. Lulu é decidida, coloca a cadeira dela onde quer sentar e senta. Quando precisa de algo, vai lá e pega. Malu, independente, canta tudo, pinta, parece a frente do tempo. Tetê adora comer. “Quem tem boca vaia Roma”, e ela com fome, logo chamou a atenção da prof. e foi a primeira a ser servida.

Hoje pela manhã quando a professora Nat me disse:

— Pode ir, ele está pronto!

Primeiro veio a sensação de dever cumprido, uma pequena vitória a ser celebrada em casa hoje. Depois veio a abstinência. Focado aqui em minha sala na agência, de volta a minha rotina, silêncio absoluto antes das nove da manhã. Passou todo esse filme muito rápido na minha cabeça e tomei a liberdade de compartilhar com vocês.

Voa filho!

Ps: Um muito obrigado as professoras Gé (com quem ele criou grande afinidade), Nat (com quem ele já criou seu vínculo), Pri (assistente) entre outras assistentes e professoras das classes vizinhas que fazem todo o pátio um lugar único com seus cantinhos particulares. A Cris, idealizadora, a Ana e Nana, coordenadoras, obrigado pelo cuidado constante com a gente também nesse processo. De quebra ainda vi minha cunhada e duas sobrinhas de presente, todos esses dias pelas manhãs…

A Luiza, mãe, espero ter conseguido com fotos e essa mensagem dividir com você um pouco do que sei que gostaria de estar fazendo no meu lugar mas não pôde dessa vez, pela nossa família =)

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