SXSW® 2020

Leopoldo Jereissati
Fala Man
Published in
7 min readMar 9, 2020

Foi épico, sem ser.

O South by South West (SXSW®) é um movimento que acontece há aproximadamente 34 anos nos EUA com a intenção principal de provocar reflexões em torno de nós mesmos. Os assuntos são diversos e as trilhas, assuntos macros para você acompanhar, são super interessantes vide figura abaixo.

The South by Southwest® (SXSW®) Conference & Festivals celebrate the convergence of the interactive, film, and music industries. Fostering creative and professional growth alike, SXSW® is the premier destination for discovery.

SXSW® é um lugar de convergência entre as indústrias de entretenimento, tecnologia, música e produção audiovisual. Em suma, como disse Fernando Tche em um dos grupos de whatsapp que me incluí: “…não é um lugar para você ir ver o que as marcas estão fazendo. É o lugar onde as marcas vão para poder ver o que nós (as pessoas) estamos fazendo e conversando sobre”.

A primeira reflexão que me veio foi a de que estava prestes a embarcar para o maior festival de inovação e criatividade do mundo, onde os principais players se juntariam. Aquela chance real de trombar o Elon Musk no piano bar, conhecer o/a CEO da NASA ao acaso, ver de perto uns TED Talkers raíz, etc; me empolguei. Comecei a entrar em contato com executivxs que admiro aqui no Brasil para sondar quem mais estaria indo nessa. Outra surpresa boa: quase todo senior level das multinacionais e grandes clientes que atendemos tinham seus representantes a caminho: presidente, diretora de transformação digital, diretor de marketing, founders, venture capitalists, todos os cargos que persigo no Linkedin na minha rotina indo para sua 6ª ou 7ª edição do Festival — Eu, a primeira.

Recebi o convite de um amigo que admiro muito, o mineiro Guilherme Maciel. Em uma noite de quinta-feira, horário nobre paulistano, reuniu outras pessoas que também iam para o festival na casa dele e pegamos umas dicas sobre como escolher as melhores palestras e não cair nas ciladas de “primeira viagem”. Falamos de vinhos, festas, edições anteriores e pessoas incríveis que encontraríamos. Falamos do F.O.M.O (fear of missing out) termo que surgiu por lá em função de não ser possível participar de tudo, já que muita coisa imperdível acontece simultaneamente. Pelo que entendi, Austin vira o “Barretão”, tudo lota e fica caro por um período curto de tempo. Nessa pegada, eu e o Gui, resolvemos rachar um hotel melhor e bem localizado à pegar cada um um quarto em outro mais longe do centro.

Um dos caras que estava conosco nesse dia é um dos principais responsáveis pelo sucesso do Cubo, Flavio Pripas. Fomos convidados portanto na sequência para um evento de warm up que rolaria com a tribo dele. Infelizmente eu não consegui ir no dia por estar retornando de uma viagem à trabalho, mas imaginei um lugar com gente jovem, empreendedora e de diversos setores. Molecada interagindo enquanto uma empresa focada em curadoria de grandes eventos, a White Rabbit, dividia suas principais impressões sobre como funcionava o festival e como seria a edição desse ano. Material incrível que nos disponibilizaram de fato.

@whiterabbittrends no instagram

Outro grupo de whatsapp interessante que entrei, graças à uma cliente querida — a Carol, foi o da Rede Globo. Impressionante o poder de juntar pessoas poderosas em escala que eles tem. Foram quatro grupos se não me engano, já que a cada um que abriam o limite de participantes estourava. Ali pude ter contato, mesmo que breve, com figurões do setor da publicidade. Caras renomados de todas as áreas, da criação à mídia. Gente do Brasil inteiro. Gente mais velha, verdade. Bateu aquela dúvida se isso era bom porque eu estava entre os mais sêniores do setor, ou se a empresa como tantas outras da legacy media* está também na árdua luta de se reinventar. Um pouco dos dois…

Fato foi que eles organizaram um evento de cair o queixo. Os principais diretores envolvidos iam nos apresentando os top 3 speakers imperdíveis sob sua ótica. A proximidade gerada com cada diretor(a) e de certa forma a vulnerabilidade com qual cada um ia justificando suas escolhas pessoais, deixou claro para mim um dos principais golaços desse movimento: ele aproxima você ao outro, independente das cadeiras que ocupem; no fim somos todos iguais e vivemos tensões parecidas.

Sugestão de palestras OK;

Pedro Bial OK;

Entrevista OK;

Quando a Céu brotou no bailão com sua malemolência, lembrei da função do pêlo do braço: foi feito para arrepiar. Fiquei encantado e me veio um grande sentimento de gratidão. Acho que não vai rodar o video do Youtube abaixo mas a música está linkada aqui. Curti também o refrão da nova dela, “Alfa by Night”.

Pelo no braço foi feito para arrepiar.

A segunda reflexão que me veio foi a sensação de esvaziamento pelo Corona Vírus (Covid-19). O tempo ia passando e o medo vencendo a inovação para a frustração de ícones como Peter Diamandis. A responsabilidade falou mais alto por outro lado. As principais empresas começavam a cancelar sua participação no festival. Facebook, Twitter, Google e similares vazaram como água pelo ralo, rapidamente sumindo do calendário pré-programado. No Brasil, as grandes corporações iam proibindo a participação de seus colaboradores por precaução, e estes dia pós dia iam avisando no zap — “acho que a Reckitt vai cancelar também”, “a Nestlé já cancelou”… depois as médias iam aparecendo, followers com a mesma postura, e por último as pequenas e startups — parte revoltada e parte desesperada pelo dinheiro de volta — dólar na casa dos R$4,70.

Design: Covid-19 by Fernando Degrossi

Brasilidade a mil, nego começou a leiloar os ingressos pré-adquiridos de um lado enquanto uma bela iniciativa de doar os “badges” para estudantes brasileiros que moravam em Austin nascia do outro. Essa iniciativa que saiu do grupo de whatsapp em que eu estava foi para mídia mainstream em um dia— prova pragmática do poder dos que ali estavam. Enfim, grandes palestrantes apontavam o movimento de saída também. A imagem abaixo sou eu, em um tweet desesperado, tentando convencer o Tim Ferris a não desistir ainda.

All gone in 4-hours

Na tarde de sexta-feira última, o prefeito Mayor Steve Adler se posicionou e solicitou o cancelamento do evento, oficialmente. O mais curioso dessa jornada foi acompanhar as reações das pessoas nos grupos. Me lembrou o filme Parasita. Montanha russa de emoções. Inversões de roteiro em momentos inesperados. Sempre há algo mais embaixo da gente que não damos bola e algo acima qual não fazemos parte mas que influencia a nossa vida. Em massa, somos como o gado, a boiada mesmo. Somos levados de um lado para o outro pela decisão e opinião alheia. Ora tinha certeza de que o certo era ir, ora pensava que melhor seria se cancelassem. Em meio à todo aquele rolê era uma chuva de opiniões e donxs da verdade rolando a cada notificação. Gente querendo fazer novos amigos, gente querendo mostrar que entendia, gente querendo ajudar, gente querendo polemizar, todos querendo aparecer, cada um à sua maneira. Deu bode.

Aqui falamos de música, de tecnologia, filosofia, de arte, cinema, de mídia. Faltou inteligência artificial, algoritmos, neurociência, biometrics, CRISPR é verdade, mas fiz um baita network com dezenas de pessoas do setor quais eu não teria acesso não fosse pelo festival. Entende o poder de transformação dessa parada? Eu não aterrizei no Texas mas não dá mais para dizer que não cheguei a embarcar nessa viagem. Como disse um amigo informado, “o mundo vai parar por uns meses”.

É Mineiro,“cabô que nóis num fômo”.

2021 tá logo aí.

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*Legacy Media = Mídia Tradicional = os tiozões/e tiazonas que ralaram a vida toda e graças a competência do trabalho deles hoje temos uma base sólida para inovar. Nem sempre o que é novo é bom.

Na visão do Peter Diamandis, isso é o que está rolando entre o Vírus e o medo:

“Over the past week, our amygdalas (the fear centers of our brain) have been in overdrive. As Coronavirus (and anxiety) spread, I’m concerned by the level of pandemic fear circulating through our news and social media. The goal of this blog is to give you a thoughtful alternative to fear… to contextualize what you are hearing…

Let’s talk about death rates… While this is no apples-to-apples comparison, how we react to death is primal. And when we hear about Coronavirus-induced deaths, we go on red alert. But allow me to contextualize the numbers for you.

(Disclaimer: The below compared populations are different (China vs. world), and infectious diseases do not maintain a consistent daily average. But the point still stands…)

On one of the worst days for Coronavirus in China (February 10, 2020), 108 people died. But on a given day, globally:

  • 26,283 people die of cancer;
  • 49,041 people die of cardiovascular diseases;
  • 4,383 people die of diabetes.

Meanwhile, suicide takes on average 2,191 lives….

Mosquitoes take the lives of over 2,740 people, and….

And HUMANS kill an average of 1,287 fellow people, every single day.

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