Feminismo e a luta anti-gordofobia: de mãos dadas pela libertação do corpo da mulher

Rachel Patrício
falando sobre gordofobia
3 min readJan 8, 2016

Texto originalmente publicado no site Gordxs – Por Rchl Ptrc e luciana moraes

“Uma cultura focada na magreza feminina não revela uma obsessão com a beleza feminina. É uma obsessão sobre a obediência feminina. Fazer dietas é o sedativo político mais potente na história das mulheres; uma população passivamente insana pode ser controlada” – Naomi Wolf

Já conversamos um pouco sobre as diferenças entre pressões estéticas impostas pela nossa sociedade patriarcal e gordofobia aqui e como a gordofobia é cruel com mulheres gordas. Já entendemos que a pressão que existe para que todas as mulheres tenham corpos perfeitos não é a única pauta de discussão da luta anti-gordofobia. Sabemos que quanto mais gorda uma mulher é, mais seu corpo será estigmatizado, mais ela será colocada como doente pela sociedade, mais ela será invisível. E que isso é bem diferente da pressão para ter um corpo dentro de um determinado padrão que todas sofrem, independente de tamanho, cor, forma.

Mas vamos falar um pouco sobre onde essas lutas se cruzam? Falar da libertação do corpo da mulher é falar sobre gordofobia também. O feminismo não pode ser gordofóbico. A luta contra a gordofobia não pode ser machista.

Se o feminismo visa o corpo da mulher liberto (e esse corpo deve ser livre para abortar, para gerar OU NÃO filhos, para decidir conscientemente e com todo o acesso à informação sobre quando e como isso vai acontecer, para usar a roupa que bem entender, para não ser violado/assediado/agredido/estuprado em nenhuma hipótese, para não ser tocado ou exposto sem o consentimento da mulher senhora deste corpo, etc) libertá-lo dos signos estéticos também é importante.

Quando nossa sociedade diz que apenas corpos brancos, magros, depilados, com determinados tipos de cabelo, jovens, maquiados, perfumados (insira aqui todas as condutas que você já ouviu ou leu em revistas sobre o que uma mulher DEVE fazer para ser considerada bela), o recado é bem claro: ou você segue a cartilha, ou será excluída.

Não seguir essas regras é parte da nossa revolução. Aprender a não exigir que outras mulheres sigam essas regras e não cobra-las de si também.

Nossa função no mundo não é ser bonita, e a beleza pode ser muito mais do que essa que nos foi ensinada. Deixar de usar atributos estéticos como ofensa é bem importante. Gorda não é xingamento, magra não é elogio.

Em um mundo em que a magreza é elogiada, optar por não viver de dieta é um ato de rebeldia.

Não adianta então, dentro da luta do empoderamento do corpo gordo reproduzir frases machistas como “homem não gosta osso, gosta de carne”. Amigas, grandes merda o que homem gosta ou não. Nossa luta não é sobre quem é a mais bonitinha do bairro, e sim sobre todas sermos importantes, e aprender a vermos beleza em cada uma de nós.

Esse é o pulo do gato: sem o feminismo, podemos nos perder e acabamos nos focando apenas na estética, acabamos por reproduzir as mesmas merdas de sempre, só que com uma nova roupagem.

Não quero novos padrões, quero revolução.

Um conceito bem interessante dentro do feminismo é o conceito de sororidade. Ele significa, de forma bem geral, entender que não somos inimigas umas das outras, que podemos e devemos compartilhar e que juntas somos mais fortes. Sororidade é não colocar outra mulher numa posição inferior à sua para que você se sinta melhor.

Temos visto dentro do mundo das mulheres gordas um desenvolvimento de laços fortes, dividindo o processo de desconstrução de padrões e auto-aceitação. Isso é sororidade na sua prática mais verdadeira.

Como já dissemos, o processo de deixar de odiar o corpo gordo não é algo simples mesmo para quem é gordo, pois fomos ensinados a rejeitar esses corpos. E precisamos umas das outras para desaprender esse ensinamento.

Vamos juntas.

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