ONDE QUE ESSA MOÇA É GORDAAA?

Rachel Patrício
falando sobre gordofobia
3 min readJan 22, 2016

Sei lá por qual motivo desenterraram a campanha de lingerie de 2014 da Calvin Klein com a modelo Myla Dalbesio.
Em algum momento a mídia chamou Myla, cujo manequim é 40, de modelo plus. Ela estrela a campanha com as outras modelos. A ideia da marca era ser minimamente inclusiva, tentando ter alguma diversidade de corpos. É muito pouco, mas falando de high fashion, é uma mudança considerável.

Na época em que esse ensaio saiu, Myla deu uma declaração bem importante à revista Elle:

“Eu não sou magra o suficiente para estar com as meninas magras, e eu não sou grande o suficiente para estar com as meninas grandes. Não tenho conseguido encontrar o meu lugar”, comentou Myla. “Por isso,(estrelar a campanha) foi uma sensação maravilhosa”.

Myla sabe que não é uma mulher gorda. Mas quando o referencial são mulheres de manequim 34, é difícil não se sentir grande, destoando. Myla falou também da adolescência com distúrbios alimentares, e do convite para ser modelo plus size.

É nesse momento em que a gente entende a importância da representatividade. No momento eu vejo apenas dois tipos de corpos na mídia: as modelos de sempre e eventualmente modelos plus size. Nos dois extremos vejo esmagadoramente corpos idealizados, que não falam com a maioria das mulheres. E vejo também um limbo, onde mulheres nem gordas e nem magras são esquecidas. Isso reforça uma falsa dicotomia, reforça a ideia de que se um corpo não é magro, ele certamente é um corpo gordo.

Quando um corpo como o da Myla nos é vendido como plus, vejo sempre a eterna revolta do “ondejáseviu, essa moça não é gorda não!!!!”. Parte dessa reação é movida pelo medo de ser gorda (preciso falar que na nossa sociedade ser uma mulher gorda é considerado um dos maiores pecados? não preciso). Mas parte também é essa incógnita: então plus é a modelo gorda? Ou plus é a modelo que não veste 34? Quem é a mulher que veste 42?

É preciso diversidade. É preciso que diferentes corpos sejam representados de maneira orgânica nas diferentes mídias.
Um exemplo bem legal é a apresentação da nova coleção da Basfond, marca de acessórios de São Paulo.

Quando eu falo de representatividade orgânica, é isso. Os acessórios são para quem quiser, e escolher mulheres gordas para representar a marca deixa claro que beleza é um conceito amplo.

Se é difícil mudar o pensamento das marcas consolidadas, vamos então fortalecer quem está começando, trazendo uma visão diferente do que é bonito? Todas merecemos nos sentir representadas. Todas existimos.

--

--