“A gente aceita o amor que acha que merece!”

Camila Figueiredo
Fale com Elas
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5 min readOct 2, 2017

E nós merecemos muito mais, falta acreditar!

Filme “As Vantagens de Ser Invisível”

Algumas vezes na vida, relações acabam… Pode ser um namoro, uma amizade, uma separação familiar. — Enxergo todos esses tipos de relação no mesmo nível, pois entendo que todas elas são sobre respeito, carinho, amor e comprometimento. — Nas últimas semanas percebi algo que me inquietou por dias, me fez perder horas e mais horas pensando no assunto, analisando a mim mesma e àquelas próximas de mim. E o que encontrei por todos os lados me deixou extremamente triste e inconformada: estamos sempre pensando que o outro está nos fazendo um enorme favor ao se interessar por nós. Estamos sempre nos esforçando para provar que merecemos ser desejadas e amadas. Estamos sempre pensando que aquela pessoa que partiu era a nossa última chance de ser feliz, de estar com alguém, e isso faz com que a gente aceite tanta coisa que não queremos, que me dói só de pensar.
Depois de algumas conversas com amigas e repensando mesmo o meu próprio comportamento diante desses fins, um sentimento me incomodou. Acredito que nós somos tentadas a pensar que todo o fim é uma grande chance que perdemos, ainda que as vezes nem seja. Estamos condicionadas a acreditar que, a cada fim, quem perde somos somente nós, única e exclusivamente, e que cada fim representa a nossa última chance de ser feliz, que perdemos. Isso me deixou inquieta em tantos níveis que nem sei se sou capaz de produzir uma narrativa sobre, mas tento, para elaborar isso para mim mesma e talvez aquietar (um pouco) outros corações angustiados como o meu.
Primeiro me incomoda muito a ideia de que, ainda hoje, acreditemos que somente seremos felizes, plenas e daremos sentido às nossas vidas se encontrarmos um(a) parceiro(a). Mesmo as mulheres que tem condições de viverem suas vidas de forma independente, que buscam seus objetivos profissionais e pessoais, constroem suas carreiras e tem autonomia, mesmo elas ainda esperam, em alguma medida, o outro alguém que dará sentido a todas essas coisas e tornará a vida um espaço de felicidade e realização. Fomos ensinadas a gostar tão pouco de nós mesmas que pouco importa as nossas conquistas individuais, pouco importa o nosso crescimento emocional, psicológico e profissional se não temos um par romântico ao nosso lado. “E daí que se formou, mesmo com todas as dificuldades psicológicas e físicas de passar por uma graduação? E daí que defendeu sua dissertação de mestrado? Conseguiu um emprego ótimo e na sua área? Mas, quando é que você vai arranjar um namorado?” O mundo já implanta neuras o suficiente em nossas mentes, não precisamos ser mais uma pessoa a nos sabotar e bloquear o nosso desenvolvimento. Não precisamos ser mais uma pessoa a acreditar que nossas conquistas somente são legítimas se tivermos um outro alguém para dar sentido a elas. As nossas conquistas, pequenas ou grandes, tem sentido por si só, por nós mesmas, porque a vida que vivemos é só nossa, ainda que tenhamos escolhido pessoas para caminharem do nosso lado e compartilharmos nossos momentos.

A segunda coisa é sobre a visão que temos de nós mesmas, de como essa visão nos impede de existir no mundo, nos impede de agir, de aproveitarmos diversos momentos e de como essa visão nos compele a aceitar “muito pouco ou quase nada” dos outros e, pasme, ainda achar que devemos agradecer quando o outro não fez nada mais do que agir com educação. Estamos tão acostumadas a nos sentir menos do que somos, pequenas, feias, ignorantes, incapazes que quando o outro nos trata de forma minimamente agradável, nos faz pensar que devemos ser muito gratas. Estamos tão acostumadas em nos julgar mal e nos sentir inferiores, que muitas vezes aceitamos migalhas de pessoas que não são metade do ser humano que merecemos. Essa visão que temos de nós mesmas, nos faz acreditar que precisamos provar, o tempo todo, e dar motivos, o tempo todo, para que os outros gostem de nós. Temos que provar que não é um erro se interessar por nós, fazemos um esforço sobrenatural para mostrar ao outro que merecemos ser desejadas, que somos interessantes e que não é um erro ter nos escolhido. Isso é muito desgastante e nada saudável.
Acredito que somos tão educadas para nos sentir sempre incapazes e insuficientes que quando qualquer pessoa nos dedica alguma atenção, sentimos como se essa pessoa estivesse nos fazendo algum favor. NÃO É UM FAVOR! Nos sentimos tão insuficientes que tendemos a ver como o maior dos presentes e da consideração quando uma pessoa não está fazendo mais do que a obrigação dela. Aceitamos pessoas sem um pingo de responsabilidade afetiva ao nosso lado, aceitamos bolos, falta de respeito, aceitamos ser deixadas em último lugar por pessoas que nem ocupam um lugar real de importância em nossas vidas. Deixamos que pessoas completamente aleatórias em nossas vidas ditem as regras do jogo e nos submetemos a essas regras mesmo que elas não nos contemplem em absolutamente nada.
Eu estou muito cansada de ver gente maravilhosa implorando por migalhas de afeto, se contentando com relações que nitidamente não são o suficiente. Estou cansada de ver pessoas incríveis se desgastando em relações em que a outra parte não faz o mínimo, não oferece nada e só suga tudo que pode. Eu estou muito, muito cansada de ver grandes amigas achando que deve se contentar e agradecer quem não faz o mínimo.
Eu acho que devíamos nos enxergar de maneira mais honesta, reconhecer nossas qualidades, nosso valor. Aceitar o quão boa nós somos e parar de dar ao outro o poder de decidir sobre as nossas vidas, de decidir o que nós merecemos. Acho que devíamos estabelecer nossos padrões, saber o que merecemos e o que não vamos tolerar e aí não aceitamos menos do que isso. Já temos um mundo inteiro nos querendo submissas, pouco exigentes e com padrões baixíssimos. Nós não precisamos contribuir com isso! Esse texto é um convite, para pensar em qual é o relacionamento que queremos para nós, nas pessoas que queremos ao nosso lado e NÃO ACEITAR MENOS DO QUE ISSO!

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Camila Figueiredo
Fale com Elas

30 anos, mineira, historiadora, profª, aspirante à escritora e tenta manjar de psicanálise. Vive para se encher de sentimentos, escreve quando vai transbordar.