Afeto

Pequenas demonstrações de afeto me conquistam a alma

Julia
Fale com Elas
4 min readJun 25, 2024

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Photo by Jack Cohen on Unsplash

Alguns fios de seu cabelo escuro caiu levemente sobre seus olhos, me privando de admirar continuamente para ele. Não resisti e, com o gesto mais gentil que pude maquinar, levantei os fios e os coloquei por detrás da orelha. Um leve alisado em seu rosto, quase como uma pena. Sorri. Olhar em seus olhos, tocar seu rosto, deitar ao seu lado. Era tudo que eu não sabia que precisava. Agora, estou deitada, descendo minha mão pelo seu pescoço, passando pelas escápulas, até a cintura. Aproveitando a maciez de sua pele, o alívio de poder tocá-lo, explorá-lo, amá-lo. O amo. Livremente, de forma tranquila, segura. Posso fechar os olhos e adormecer, sem medo, sem preocupações.

Ele me toca também, a mão firma na cintura. Os olhos castanhos brilhando, trêmulos, molhados pela emoção de um simples carinho. As vezes desejo que seu toque fosse mais grosso, que doesse e até machucasse. Estou acostumada a um tipo de amor mais violento, grosseiro e perigoso. Mas ele não o faz. Em momento algum ultrapassa o seguro, o suave e o respeito. Sendo honesta, sinto um estranhamento com esse tipo de afeto. Fácil, sem ansiedade e nem punição. Aprendi a amar tudo errado, confundi a vida toda abuso e violência por amor e agora, tudo se mistura na minha cabeça.

Mas com ele tenho a certeza, que o que vivemos é amor. Não como naqueles livros eróticos ou como é mostrado no cinema. Não é aquela coisa estarrecedora, que faz tudo perder o sentido sem aquela pessoa. Ou aquela sensação de encontrar alguém que te completa. Não é assim. É fácil demais, não tem sofrimento e nem ansiedade. Só o carinho gostoso e a presença constante. A paciência para o conflito, o não julgamento e completude de me amar e ser amada exatamente do jeito que sou.

Nossos pés se entrelaçam por debaixo das cobertas, os olhos não param de analisar, curiosos. O rosto, o corpo, as expressões. As pálpebras piscam devagar, preguiçosas, como um domingo de manhã, um dia de folga que não precisamos nos mexer. O sentimento vem e toma conta do meu corpo, me faz rir a toa, sem inseguranças. Não penso que meu sorriso é feio, ou que minhas dobrinhas vão aparecer, ou que talvez se eu rir vou fazer barulhinho de porco “oink oink”. Não penso em nada disso, nem me contenho. Sei que serei amada, independente. Então me permito apenas sentir, essa tranquilidade enorme que me consome. Deixo o sentimento me preencher como uma onda que chega tranquila, sem fazer muita espuma.

Puxo seu corpo para meu abraço, preciso sentir o calor dele junto ao meu. Ele vem fácil, deita a cabeça em meu peito, suspirando. Uma mão vem e agarra meu seio com carinho, demonstrando o cuidado que sente por mim. A sensação de completude é anestesiante. Algo que nunca senti. Tanta tranquilidade, tanta paz. Confiança. É tão grande que vem acompanhada junto ao pânico. O medo de perder esse momento, de vê-lo esvair das minhas mãos como tentar segurar água e vê-la cair aos poucos, sem controle. Mas não, ele diz que me ama, me beija o colo do peito e fecha os olhos relaxado. Entregue ao momento. E não posso deixar minha insegurança dominar esse momento. Me permito relaxar também e se um dia eu sofrer por esse homem, saberei que sofri porque amei.

Dormimos assim, agarrados, por cerca de três horas. Uma boa cochilada preguiçosa. Acordamos comigo o abraçando por detrás, as pernas misturadas, as mãos entrelaçadas. Ele vira o rosto, me beija suavemente e começa a rir. Não entendo o motivo da risada mas rio também. Estou feliz. Estou segura. Transamos ali mesmo, lento e sem pressa. Um ritmo devagar igual nossa tarde, nossos cochilos. O gozo não vem ao mesmo tempo como nos romances. Ele chega lá primeiro, mas não esquece de mim. Me leva ao apogeu daquela forma que sabe que gosto. E continuamos deitados na cama, ainda com preguiça de fazer outra coisa que não contemplar um ao outro com afetos.

Ele massageia meus pés, meus ombros. Me faz cafuné, diz que me ama. Me beija até perder o fôlego e continuar a me tocar, nas coxas, nos peitos, no pescoço. Quando o sentimento vem com força, ele me morde. Me deixa marcas. Eu gosto e até peço. Quero sair amanhã com as marcas pelo corpo e pouco me importo se alguém irá vê-las. Quero que o mundo todo saiba que estou amando e que estou sendo amada. De verdade dessa vez. Sem humilhação, xingamento, controle ou ciúmes. Amor livre, puro, tranquilo e repleto de felicidade. Demorei para me permitir, mas agora me pergunto:

Por que demorei tanto tempo para amar?

Obrigada! Se você chegou até aqui, por favor, siga esta jovem autora! Abraços.

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Julia
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beating depression but sometimes it beats me