“Mulheres são poderosas e perigosas” (Créditos da imagem: www.huffingtonpost.es)

Ain’t got no racism

A cultura enraizada do racismo

Nathália Enriques
Fale com Elas
Published in
3 min readDec 11, 2016

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Talvez uma estrada de ferro pudesse ser uma linha tênue entre o que queremos e podemos ou o que merecemos e ganhamos. Sim, é preciso expor a ferida para curá-la. Ao deixarmos encoberta (para aparentar estar tudo bem), ela continua ali: úmida, fria, dolorida.

Falar sobre questões que atualmente estão em pauta na sociedade, porém, não são assuntos bem vistos ou aceitos, está se tornando cada vez mais comum. No entanto, isso não significa que está sendo ouvido. É normal começar a falar de racismo e sentir um desconforto nas rodas de conversa. Mas o barulho é revolucionário, mais do que isso, o conhecimento é uma ferramenta de libertação.

Vamos falar sobre isso, sim! Até que a intolerância entranhada na sociedade seja extinta. Até que não haja mais problema em ser negro, em ter oportunidade, informação, conhecimento, dignidade. Isso é um direito de todos e o nosso dever é conscientizar as pessoas sobre.

Apesar de não termos a possibilidade de buscar nossas reais origens devido à queima de todos os documentos que comprovavam a escravidão no Brasil — feita pelo então Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, para que ninguém pudesse pleitear indenização para o Estado devido à alforria (para saber mais, clique aqui) — , podemos, a partir daqui, construir um futuro brilhante e uma sociedade mais tolerável. O ruído da ausência do ensino da história da África ou dos afro-brasileiros nas escolas foi um claro reflexo da necessidade de manter uma posição de inferioridade para os negros, o que reflete diretamente em nossas vidas até os dias de hoje. Apesar de o Brasil ter vivido 350 anos de escravidão, não é só isso que queremos que as pessoas retratem. Queremos saber quem foi Zumbi ou Dandara — a esposa de Zumbi que não tem rosto e é praticamente uma lenda.

Conforme Alain Pascal Kaly (professor de Culturas Africanas da UFRRJ), é de fundamental importância ressaltar que, ao longo de séculos de processos coloniais, os próprios africanos e os de ascendência africana no Novo Mundo tiveram de criar mecanismos e diversas formas de respostas para desconstruir as crenças na inferioridade do negro e resgatas a dignidade humana negada ou colocada em dúvida. Muitos desses mecanismos e formas proporcionaram também, ou para ser mais precisa, contribuíram bastante para a edificação de civilizações nacionais e da civilização mundial.

Vamos contestar, buscar respostas, problematizar, fazer rodas de conversa, troca de experiências, leituras e escrita.

Se, em pleno século XXI, precisamos falar sobre racismo (institucional, inclusive), está nítido que essa ferida continua sendo tampada com curativos mal feitos até os dias de hoje.

“ (…) Liberdade é apenas um sentimento…. É como perguntar para alguém: Como é estar apaixonado? Como você irá pedir para alguém que nunca se apaixonou, descrever a sensação de estar apaixonado? Você não pode descrever coisas se nunca a viveu. Mas você sabe quando passa por isso. ” (Tradução da autora — Fonte: Documentário “What Happened Miss Simone?”)

Que a liberdade e o orgulho sejam sentimentos mais presentes em nossas vidas. Em nosso futuro.

Nota da autora: Nina Simone foi uma mulher, negra, pianista clássica, que lutou em prol dos direitos civis dos negros nos EUA. Ela é um exemplo fundamental quando falamos de feminismo negro e me inspirou a fazer este texto.

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Nathália Enriques
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Publicitária, Redatora, Especialista em Estratégia e Design Digital | Acredito em negócios de pessoas para pessoas