Greta Gerwig e o “coming of age” feminino no cinema

Quanto uma diretor ou roteirista consegue entregar emoções, experiências e características de si mesmo?

Clarisse Ventura
Fale com Elas
5 min readJul 5, 2019

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Greta Gerwig, atriz, roteirista e diretora americana que recentemente foi nomeada a quinta mulher a ser indicada ao Oscar de melhor filme em 2018, pelo longa Lady Bird, concorrendo também ao prêmio de melhor roteiro original.

Lady Bird (Saoirse Ronan) e Greta Gerwig como diretora em Lady Bird

Com toda certeza Greta Gerwig tem deixado partes de si em cada participação de seus filmes, mais especificamente de três deles, Frances Ha (2012), Mistress America (2015), e Lady Bird (2017).

Em Frances Ha, uma cena em que a heroína titular pede desculpas a um amigo quando seu cartão é recusado no restaurante.

“Eu estou tão envergonhada”, ela admite, “eu não sou uma pessoal real ainda”

Frances Ha

Sophie (Mickey Sumner) e Frances (Greta Gerwig) em Frances Ha

Essa autodepreciativa, mas sincera confissão, caberia facilmente em qualquer um dos três últimos filmes que Greta Gerwig escreveu sem sequer mudar a perspectiva do roteiro. Embora este ano tenha marcado sua estréia como diretora, essa “multihyphenate” de 34 anos se viu em um cenário onde, grande contadores de histórias de filmes independentes puderam afirmar que, Gerwig andava escrevendo, interpretando e dirigindo um trio de filmes, enquanto consistentemente explorava a vida de mulheres jovens em busca de personalidade e significado.

Eu quero este momento. É…é o que eu quero em um relacionamento, o que poderia explicar por quê estou solteira agora. É difícil…é aquilo de que, quando você está com alguém e você ama esta pessoa, e ela sabe disso e ela ama você e você sabe disso, mas é uma festa, e vocês dois estão conversando com outras pessoas e estão rindo e contentes, e você olha para o outro lado da sala e seus olhares se encontram… mas não por possessividade ou nada exatamente sexual…mas porque…aquela é a sua pessoa nessa vida e é divertido e triste, mas só porque essa vida irá acabar, e é também um mundo secreto que existe exatamente ali em público, desapercebido, que ninguém mais sabe a respeito, é mais ou menos como dizem, que há outras dimensões ao nosso redor, mas nós não temos a capacidade de percebê-las. É isso… é isso que eu quero de um relacionamento.”

Frances Ha

Tracy (Lola Kirke) e Brooke (Greta Gerwig) em Mistress America

Lady Bird. Mistress America. Frances Ha. A Trilogia segue o caminho do ensino médio para a faculdade, para uma vida pós-graduação, uma continuidade que Gerwig escreveu e criou em ordem cronológica inversa, ao mesmo tempo em que coincidia com sua transição gradual para fora da tela.

“Este é um nome dado a mim,por mim mesma”

Lady Bird

Por mais que esses filmes sejam estudos de caráter insular, seus núcleos emocionais se baseiam nas relações externas que essas jovens têm com outras pessoas, especialmente com outras mulheres. Onde Lady Bird retrata o relacionamento entre mãe e filha, Mistress America segue as desventuras de duas cunhadas e, Frances Ha é em grande parte sobre altos e baixos em um relacionamento entre dois melhores amigos. Todos esses três relacionamentos passam por altos e baixos esmagadores, muitas vezes dolorosos. No final, Gerwig sempre reúne as mulheres de uma forma ou de outra que aprofunda ou altera sua conexão para melhor. E embora Gerwig desenvolva todos os personagens como pessoas singularmente imperfeitas que desafiam suas heroínas e, por consequência,os atropelos da vida e o processo de amadurecimento feminino que por muitas vezes é esteriotipado na grande maioria dos filmes adolescentes, em muitos casos elas são uma extensão ou reflexo de si mesmas, apesar de podermos dizer que elas são, em muito aspectos, a mesma pessoa confusa em extremos opostos do caminho para a idade adulta.

Lady Bird (Saoirse Ronan) e sua mãe (Laurie Metcalf) em Lady Bird

Não é só uma questão de mostrar um “coming of age” feminino de forma crua e o mais aproximado possível do real, é sobre a representatividade de grandes protagonistas e diretoras nos grandes catálogos e premiações. Em 2018, Greta Gerwig estreou como diretora e roteirista de seu próprio filme, Lady Bird. Levando este “coming of age” até as premiações, onde foi indicado a mais de uma categoria. Greta Gerwig consegue mostrar sentimentos e experiências femininas que até então eram negligenciadas ou esquecidas no ramo cinematográfico e, isso de certa forma nos causa uma boa representatividade.

“Às vezes eu acho que sou um gênio e gostaria de poder avançar rapidamente a minha vida para a parte em que todos sabem disso”

Frances Ha

Kyle (Timothée Chalamet) e Greta Gerwig como diretora em Lady Bird

Em última análise, Gerwig criou uma série de obras de arte individuais únicas, cada uma com uma progressão de seus talentos à medida que ela própria aprecia como escritora e diretora, o único tipo de artista que (e um dos mais dominado por homens) críticos de cinema e fãs estão ansiosos para conhecer, uma grande representatividade feminina no cinema. Os diálogos são quase que improvisados e tão realistas que, em filmes como Lady Bird, é notável situações que acontecem na maioria do processo de amadurecimento feminino, acontecimentos que lhe causam o pensamento de “Nossa! É assim mesmo.” ou “Pensei que isso só acontecia comigo”. Greta Gerwig consegue nos mostrar que tudo bem seguir nossos instintos e tudo bem meter a cara nos desafios da vida, faz parte. Apesar de todos os contratempos e todas as limitações, se não insistirmos, se não cairmos e quebramos a cara, não valerá de nada. Por isso, vá lá, tente, e se vier a dar tudo certo, se orgulhe disso, e se não der certo, se orgulhe mais ainda por ter tentado.

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Clarisse Ventura
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Sagitariana, graduanda em História, membro do Coletivo Jovens Transcendentais