Humana

Dayanne Dockhorn
Fale com Elas
Published in
Jul 1, 2019
Issa Barte

Como escolher-se
entre tantas opções melhores
na prateleira do mercado
o espelho nunca mostra
capas de revista
você tem ideia
quantas edições seriam necessárias
para cobrir as suas imperfeições?

Como amar-se
envolver os braços
ao redor do próprio corpo
e suspirar tranquila
cheguei, enfim
estou em casa
há uma chave? Uma palavra mágica?
Esse caminho não tem volta?

Como tornar-se
o seu próprio refúgio
esquecendo as horas
os dias
em que ele foi invadido
só restou meia dúzia de janelas quebradas
mas faltam mãos para juntar os pedaços
e sobram pedras arremessadas.

Como acreditar-se humana
quando tudo evidencia
o contrário
carne, osso, pele, somos só
células
envelhecendo cedo demais
troféus e metáforas vivas
nas páginas de poetas que vieram antes de nós.

Como libertar-se
afundar a cabeça na água
falhar
e abrir olhos marejados para um mundo
que não se moveu
nem um milímetro
e eu me pergunto
há algo mais cruel do que isso?

2019. Ainda utilizam “homem” como sinônimo de “ser humano”.

Sou nômade, poeta, escritora. Arqueóloga e antropóloga por formação. E também sou muito mais do que isso. Meu nome é Dayanne. Se você gostou do poema, me escreva! E leia mais:

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