Nunca me achei bonita

Amanda
Fale com Elas
Published in
3 min readJun 29, 2018

Sobre ter certeza absoluta de que você não é interessante o bastante

Nunca me achei bonita. No ensino médio não chamava a atenção de ninguém. Usava óculos e aparelho, era alta demais e sempre fui muito desastrada. O período em que namorei me deu muita confiança. O término me mostrou que eu era sim interessante. Quase três anos depois eu não tive mais nenhum rolo e minha auto estima encontrava-se lá no fundo do poço. Qual a relação entre tudo isso? Eu só me amei quando me senti desejada.

E tem algo de muito errado nisso.

Na minha vida inteira, tudo e todos com quem eu interagia me levaram a acreditar hoje em dia, que eu não sou uma garota bonita. E eu não estou falando aqui só das capas de revistas, mas da minha família e dos meus amigos (principalmente meus amigos homens).

Ano passado percebi que as conversas entre eu e meus amigos sempre envolviam falar sobre outras pessoas. Normalmente de outras mulheres, normalmente sobre as belezas delas. Percebi também que cada papo desses me deixava pra baixo, eu não me encaixava em nenhum dos aspectos considerados belos por eles. Também não era delicada e muito menos sensual.

Bani esse tipo de conversa do meu dia a dia, infelizmente para mim era tarde demais e minha auto estima já estava toda ferrada. A faculdade me revelou o quão injusto é ser mulher nesse nosso mundo. Mesmo que eu seja muito estudiosa, que eu tenha viajado para lugares muito exóticos, que eu seja engraçada e consiga conversar sobre diversos assuntos, no final do dia eu serei sempre reduzida a minha aparência. Reduzida à única coisa na minha vida da qual não possuo controle algum. Por que você já pensou que não podemos controlar o rosto com o qual nascemos? Ou a pele? Ou o cabelo?

Não me achar bonita me faz ter vergonha de me expor e eu acabo quieta e na minha. O medo de me expor me priva de tomar a frente pelas causas nas quais acredito. Ouvir todo mundo falar o quanto minhas amigas são lindas e perfeitas faz eu me afastar delas, porque não quero ser o patinho feio, não quero me sentir pior do que já estou. Não consigo chegar nos caras que eu quero, não tenho confiança para me abrir sobre nada e, constantemente, me pego pensando em quão diferente seria a minha vida se eu me achasse bonita.

Tantos “nãos” entraram na minha cabeça de uma forma tão persistente que eu preciso me esforçar um pouquinho todos os dias para tentar esquecer que isso tudo é uma construção social, de que eu sou bonita sim, que sou interessante e não preciso que um homem me deseje para que eu me sinta assim. Estou no processo de aceitação Estou tentando desconstruir minha mente e entender que este é o corpo que me foi dado, é com ele que eu vou andar por ai pelo resto da minha vida e de que está tudo bem em ser como eu sou.

De uns tempos pra cá resolvi externar tudo o que acho de belo nas pessoas ao meu redor, principalmente para outras mulheres. Não estou elogiando por elogiar, pelo contrário, venho praticando com outras como uma forma de aceitação de que elas são sim belas e que isso não exclui em nada a minha própria beleza.

Gostaria que mais pessoas abandonassem seus egos por alguns instantes para notar que não há padrões para o extraordinário.

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Amanda
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Redatora, tradutora e professora de inglês. Aqui: @fale-com-elas-e-sobre-elas e @revistahelenas , IG @clubedochorolivre -rtorres.amanda@gmail.com para serviços