Playlist Feminista Autêntica ❤ ♀

Uma seleção crítica e eclética, dessa vez sem Beyoncé e Karol Conka.

Marcela Viana
Fale com Elas
5 min readJan 27, 2017

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Depois de vinte e muitos anos sem pisar em uma academia, a qualidade de vida falou mais alto e me matriculei em uma para “melhorar meu condicionamento físico”. Uma vez matriculada, resolvi frequentar as aulas de zumba e qual não foi a minha surpresa quando percebi que teria que queimar calorias ao som de “Ô dança aí que eu quero vê/Toda assanhadinha/Se liga na paradinha/Pro bumbum tremer, vai” e muitos outros clássicos da música sexista brasileira e latino-americana que fora dali não ousaria nem cantarolar.

Que bom que mesmo com a enxurrada de letras machistas que rodeiam nosso dia a dia — mesmo quando não optamos por escutá-las, temos a possibilidade de ouvir coisa que põem a nós, mulheres, em nosso devido lugar, que é sendo donas de nós mesmas.

Dito isso, apresento a vocês minha secreta playlist feminista. Bem diferentona ela, já vou avisando, mas boa demais procê prestar bastante atenção nas letras, praticar um pouco de espanhol e de quebra dançar até o bumbum tremer (mas sem macho nenhum mandar)!

  1. Ella — Bebe

Comecei com minha cereja do bolo, pois sou dessas. Bebe é uma cantora espanhola que vira e mexe faz canciones empoderadoras. Essa, em especial, fala sobre uma mulher que cansou de ser submissa e hoje “calçou seu salto alto para fazer soar seus passos e sabe que sua vida nunca mais será um fracasso”. Não tem como terminar esse som sem um sorriso no rosto. Bora praticar o espanhol e ouvir esse temazo!

2. Quien manda — Mala Rodriguez

Ainda tá com o español na cabeça? Então aguenta um pouco mais e se deixe levar pelo rap ácido de outra espanhola foda. Mala Rodriguez nasceu em Andalucía, a região com maiores índices de pobreza do país, e em suas letras fala sobre resistência e problemas sociais. Quando a perguntaram, em uma entrevista, sobre qual importância tem o amor em sua arte, ela responde sem titubear: o estritamente necessário. Ela ahaza!

3. Maria da Vila Matilde — Elza Soares

“Cê vai se arrepender de levantar a mão para mim!”. É com esse refrão que Elza Soares trata, em seu último álbum, Mulher do Fim do Mundo (2015), sobre violência doméstica, pondo o tema em voga para sociedade refletir um pouquinho e fazendo a gente pirar com o empoderamento da mulher que é vítima, mas reage às agressões.

4. Meu cupido é gari — Marília Mendonça

A feminista não assumida, Marília Mendonça, estourou nas paradas ano passado e chegou para mim, que na España estava, através das sugestões do YouTube. Ai gente, amor a primeira ouvida. Ouvi tanto o álbum que a gringaiada que morava comigo já arriscava cantar os hits. Diferente de alguns sertanejões melodramáticos, que adoram chorar uma pitanga, Marília tem disso, não!

Ela liga pro porteiro para avisar que o boy já não pode mais subir, entra em contato com a amante para dizer que “isso não é disputa, eu não quero te provocar” e ainda chama o cupido de gari, pois só lhe traz lixo, lixo, “você é a prova disso”. Além do mais, até hoje não a vi atacando mulher nenhuma em suas letras: troféu sororidade para ela!

5. Ain’t Got No/I Got Life — Nina Simone

Uma mulher com uma energia incrível e um força incomparável, Nina Simone conquistou meu coração após eu ver seu documentário “What happened, miss Simone?”. O marido, que agenciava sua carreira, a agredia fisicamente e o palco era onde ela poderia se libertar! É famosa, também, pela entrevista em que a perguntam o que é liberdade para ela e ela responde: liberdade é não ter medo. Lindo, né?

6. Tá tudo errado — Ludmilla

Ludmilla é daquelas manas que sabem que arrasam e põem os homens em seu lugar, sem mais delongas. Eu acho o máximo! Para mim, só perde pontinhos no feministômetro quando incentiva a rivalidade entre as mulheres. Algo que infelizmente ainda é muito comum no funk e sertanejo feminino, como em “beijim no ombro só pras invejosas de plantão” ou “não sei se dou na cara dela ou bato em você (…)”.

7. Loka — Simone e Simaria part. Anitta

Mas temos que aplaudir quando elas dão bola dentro! As confundíveis Simone e Simaria se uniram à Anitta para falar com a “colega” delas que não vale a pena chorar por homem escroto, não. Ainda mandam ela se arrumar toda para curtir a noite como se não houvesse amanhã. Não que esse seja o melhor jeito de superar crises, mas, ah! É muito lindo as manas se apoiando.

Plus: Na música “Ele bate nela”, Simone e Simaria fazem uma bela duma denúncia à violência doméstica.

8. Antipatriarca — Ana Tijoux

Essa música foi hino na marcha “Nem uma a menos/Ni Una Menos” que rolou em Belo Horizonte, em outubro passado, pelo fim da violência contra a mulher e para mostrar a resistência feminina. Nada mais apropriado. Na canção, a rapper franco chilena, Ana Tijoux, fala sobre uma mulher alegre, emancipada e corajosa. O clipe é uma compilação linda de imagens de mulheres em toda América Latina (incluindo o Brasil).

Ouvir essas mulheres não só é empoderador para gente, como dá um up para a representatividade feminina na música, e muitas vezes em gêneros em que os caras dominam, tipo o próprio rap e o sertanejo. Então, independente do tipo de música, o importante é, com senso crítico, colocar mais mulheres na sua playlist e curtir o som ;)

Se você tem alguma canção autêntica de manas que acha que tem tudo a ver com essa lista, comenta aí em baixo!

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Marcela Viana
Fale com Elas

Breves reflexões sobre a questão do machismo, as questões de gênero e outras questões minhas mesmo. Também jornalista especialista em Gênero e Diversidade.