Precisamos falar sobre exames de DST’s

Ou como uma forma de cuidado com o nosso corpo é vista com desconfiança

Camila Figueiredo
Fale com Elas
5 min readFeb 20, 2017

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Preciso começar destacando que todo mundo deve cuidar do seu próprio corpinho e fazer regularmente exames para Doenças Sexualmente Transmissíveis. Camila, por quê isso agora? Porque fiquei impressionada com a negligência tanto de médicos como de pacientes com o assunto.

Dia desses fui a uma consulta com uma ginecologista, era a minha primeira consulta com ela. Conversamos um pouco, ela me examinou e disse que estava tudo bem lá embaixo, conversamos mais e eu disse que queria um pedido de exames de DST’s.

Imagine qual foi a minha surpresa quando, a partir disso, ela pressupôs que eu nunca usava preservativo em minhas relações? Consertei esse engano.

Imagine ainda, como eu fiquei espantada quando, após a minha insistência no pedido, ela disse que eu não precisava fazer esses exames?

Fiquei um bom tempo pensando nisso: em quais são as pessoas que precisam fazer esses exames e quais não. Já comecei achando um absurdo eu ter que insistir para conseguir fazer exames que a ginecologista deveria me indicar. Exames que deveriam ser exames padrão e não esse tabu todo de pessoas que precisam e que não precisam.

Fiquei pensando que, ainda hoje, pessoas acreditam mesmo que DST’s “tem cara”; que são doenças exclusivamente de pessoas homossexuais, pessoas em situação de rua e todos esses estereótipos.

Em 2017, as pessoas ainda se sentem SUPER OFENDIDAS se exigem delas um exame, por motivos de segurança e cuidado com o próprio corpo, antes de se relacionarem sexualmente sem camisinha.

Fico pensando em uma amiga, que tenha namorado quatro caras durante a vida e que tenha transado com todos os quatro sem camisinha, porque confiavam um no outro e nunca fizeram um exame. Fico pensando que esses quatro caras, já namoraram outras quatro meninas, transaram sem camisinha, apenas na confiança e assim vai. Considero também que traições acontecem e acontecem com ou sem o uso de preservativo. De modo que fiquei me questionando algumas coisas:

O quanto você é capaz de confiar no(a) seu(sua) parceiro(a) quando se trata de um assunto que nem ele sabe com certeza? (Se já teve relações sem uso de camisinha e nunca fez exames).

Por que é mau visto você querer garantir a sua saúde e a saúde do(a) seu(sua) parceiro(a) dentro da sua relação?

Porque parece uma ofensa? Porque parece desconfiança e, não, cuidado?

Quando eu penso na quantidade de homens que insistem (e não são poucos) para ter sexo sem camisinha, fico ainda mais preocupada com a saúde das mulheres e com a dos caras também.

Essa coisa de confundir um cuidado com o próprio corpo com desconfiança beira a inocência em algumas vezes. Assim como a ideia de que se você está com um parceiro fixo, tá liberado transar sem proteção e sem correr riscos… A ideia de que o importante mesmo é prevenir a gravidez e esquecer que anticoncepcional e métodos contraceptivos não impedem a transmissão de doenças.

Inocência é um termo muito forte, mas coloco dessa forma porque percebo, em muitos casos, que a mulher tem um parceiro fixo com quem se relaciona sem proteção, eles terminam — porque o homem em questão transou com outra (ou outras) — , a vida segue e a menina sequer cogita a realização desses exames; não se pensa minimamente que o risco existe e muito.

A gente muitas vezes não considera, não sabe ou não liga, mas são pessoas heterossexuais que representam a maior parcela de novas notificações de infecção pelo vírus HIV no Brasil. Em 2012, mais da metade dos infectados eram heterossexuais e desses a maioria eram mulheres.

Além das pessoas heterossexuais, sabe qual a outra preocupação do governo com isso? A quantidade de jovens que tem contraído o HIV. O descaso de jovens com a importância do uso de preservativo é crucial para que essas exposições aconteçam. Além disso, nessa onda de negligenciar os exames, os casos podem demorar anos para serem descobertos e, com isso, repercutir na infecção de muitas outras pessoas.

A gente se sente bem, se sente normal e acha que nunca vai dar nada, logo, vive a vida despreocupada com relação a isso.

Segundo o Boletim Epidemiológico de 2012, do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais de 2012, a forma de transmissão entre pessoas portadoras do vírus HIV, entre pessoas maiores de 13 anos é a relação sexual. E, 86,8% dos casos registrados em mulheres decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV.

Muita coisa né, lindas?! É alarmante, é extremamente preocupante e muitas mulheres não estão se importando. Não quero entrar mais em dados quantitativos, mas essas informações todas podem ser confirmadas e muitas outras podem ser consultadas nesse site aqui: http://www.aids.gov.br/ que não é apenas sobre HIV, mas todas as DST’s no Brasil.

Onde eu quero chegar com tudo isso? Quero dizer que A GENTE PRECISA SE CUIDAR MAIS! Mulheres, homens, não binárias, cis, trans: não importa se você se relaciona com homens ou mulheres ou com ambos. Não importa se você é solteira ou casada há 10 anos, se acredita ou não em deus, se tem ou não curso superior. Não é falta de confiança pedir um exame para um(a) parceiro(a) que nem sabe e, logo, não pode te garantir que não tenha nada.

Querer um exame de DST do outro não é uma ofensa, não é uma vergonha — parem de pensar assim, por favor –, É CUIDADO E SEGURANÇA COM A GENTE E COM O OUTRO.

Principalmente: fazer um exame não significa que você é “puta” (como muitas mulheres costumam pensar). Significa apenas que você cuida do seu corpo e da sua saúde. Mas se ser puta é cuidar do nosso corpo… SEJAMOS PUTAS, VADIAS E TUDO MAIS O QUE OFERECEREM, PORQUE O QUE IMPORTA É QUE NÓS, MULHERES, ESTEJAMOS BEM, SAUDÁVEIS e cuidando do nosso corpo!! Porque se tem uma coisa que precisamos estar nessa sociedade — sempre — é cada vez mais fortes!

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Camila Figueiredo
Fale com Elas

30 anos, mineira, historiadora, profª, aspirante à escritora e tenta manjar de psicanálise. Vive para se encher de sentimentos, escreve quando vai transbordar.