Série ‘A Amiga Genial’ respeita o ritmo da narrativa de Elena Ferrante

É lenta, densa, fidedigna e violenta

Julia Latorre
Fale com Elas
4 min readDec 13, 2018

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Imagem: Reprodução/HBO

‘ A Amiga Genial’ (My Brilliant Friend), a série baseada na tetralogia da escritora pseudônima italiana Elena Ferrante, estreou no Brasil, transmitida pela HBO, no dia 25 de novembro de 2018. Foi o momento de acalmar o coração de alguns dos 30 milhões de leitores que fizeram da ‘Série Napolitana’ um best-seller contemporâneo.

A primeira temporada retrata em 8 longos capítulos (cerca de 1 hora duração) a trama que se desenrola no primeiro livro da série (que também se chama ‘A Amiga Genial’) e mostra a infância e descobertas da juventude das protagonistas Lila e Lenu.

A adaptação televisiva foi feita pelo diretor italiano Savério Costanzo, que teve aval, para benefício da nossa imaginação, de rodar a série em italiano e com dialetos napolitanos.

Grande parte da história da primeira temporada se passa no bairro periférico de Nápoles Rione Luzzatti, mas a série foi gravada na comuna de Caserta, na Itália, a cerca de 40 km da Nápoles, caso você, como eu, esteja planejando em algum momento conhecer pessoalmente os cenários dos livros e as locações da série, na Itália (quem leu tudo pode até incluir Pisa e Florença no roteiro, rs).

Imagem: Reprodução/HBO

Pouco se nota que apenas uma atriz da primeira temporada escalada para interpretar um fase das personagens protagonistas, segundo crítica da Amiga Genial, no El País, era a única com experiência prévia. Muito se percebe que, conforme divulgado, Elena Ferrante tenha cuidado com zelo de cada detalhe da temporada ‘A Amiga Genial’.

Quem é Elena Ferrante?

Apesar de afirmarem que Elena Ferrante realmente é a tradutora Anita Raja, ela manteve-se seu marketing, ops, mistério, ao supervisionar toda a série por e-mail. Quem leu os livros e assiste a série não tem dúvidas disso.

Fidedignidade da Série Napolitana em ‘A Amiga Genial’

Seu detalhismo de cada página é mantido, seja nos olhos gigantes e cativantes da versão de Lila criança ou na construção do personagem Donato Sarratore, que vive em uma época pós-Primeira-Guerra, mas carrega a vaidade masculina egotrip do seu mais atual ex, leitora, aquele que se acha moderno e tem afeto para distribuir.

Os personagens coadjuvantes na televisão podem não ter bem o tom de pele ou corte de cabelo que você imaginou enquanto devorava as páginas. A Itália napolitana que sai nas cenas dirigidas por Costanzo pode não ter a vivacidade das cores que costumam fazer parte da paleta italiana de um imaginário comum do brasileiro.

Mas se é para falar de fidedignidade, exaltemos a proporção rítmica da adaptação da narrativa dos livros para a TV. Quem leu sabe que Ferrante gosta de respeitar e representar o tempo das coisas em seus quatro grandes livros.

Assim como acontece no primeiro livro (e no segundo), as coisas vão se passando devagar, respeitando o tempo do tempo.

E na série isso acontece. É lenta. Pode ser chata para quem não leu. Pode fazer perder a paciência quem está tentando dar uma chance.

Mas é lenta. E densa. Esse ritmo da narrativa é responsável por fazer as atrocidades normalizadas naqueles contexto verdadeiras agressões, dignas de possíveis gatilhos em tantos momentos.

Quem assiste será obrigada (o) a lidar com relacionamentos abusivos, insegurança masculina traduzida em patriarcado escorrendo pela tela, a desigualdade de oportunidades, que é tema geral da série, além de amizade marcada pela competição feminina (ainda bem que sororidade salva).

Você que leu a Série Napolitana provavelmente não terá problema em matar um pouquinho da saudade desses personagens de Elena Ferrante. Você que não leu pode se entediar com a vagarosidade de cada capítulo, pode confundir com novela. Mas se isso acontecer, considere ler o livro, e não desista antes de chegar na metade dele.

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Julia Latorre
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Comunicadora especializada em gênero.♀ Escrevo aqui sobre o que dá vontade. linkedin.com/in/julialatorre