Série ‘A Amiga Genial’ respeita o ritmo da narrativa de Elena Ferrante
É lenta, densa, fidedigna e violenta
‘ A Amiga Genial’ (My Brilliant Friend), a série baseada na tetralogia da escritora pseudônima italiana Elena Ferrante, estreou no Brasil, transmitida pela HBO, no dia 25 de novembro de 2018. Foi o momento de acalmar o coração de alguns dos 30 milhões de leitores que fizeram da ‘Série Napolitana’ um best-seller contemporâneo.
A primeira temporada retrata em 8 longos capítulos (cerca de 1 hora duração) a trama que se desenrola no primeiro livro da série (que também se chama ‘A Amiga Genial’) e mostra a infância e descobertas da juventude das protagonistas Lila e Lenu.
A adaptação televisiva foi feita pelo diretor italiano Savério Costanzo, que teve aval, para benefício da nossa imaginação, de rodar a série em italiano e com dialetos napolitanos.
Grande parte da história da primeira temporada se passa no bairro periférico de Nápoles Rione Luzzatti, mas a série foi gravada na comuna de Caserta, na Itália, a cerca de 40 km da Nápoles, caso você, como eu, esteja planejando em algum momento conhecer pessoalmente os cenários dos livros e as locações da série, na Itália (quem leu tudo pode até incluir Pisa e Florença no roteiro, rs).
Pouco se nota que apenas uma atriz da primeira temporada escalada para interpretar um fase das personagens protagonistas, segundo crítica da Amiga Genial, no El País, era a única com experiência prévia. Muito se percebe que, conforme divulgado, Elena Ferrante tenha cuidado com zelo de cada detalhe da temporada ‘A Amiga Genial’.
Quem é Elena Ferrante?
Apesar de afirmarem que Elena Ferrante realmente é a tradutora Anita Raja, ela manteve-se seu marketing, ops, mistério, ao supervisionar toda a série por e-mail. Quem leu os livros e assiste a série não tem dúvidas disso.
Fidedignidade da Série Napolitana em ‘A Amiga Genial’
Seu detalhismo de cada página é mantido, seja nos olhos gigantes e cativantes da versão de Lila criança ou na construção do personagem Donato Sarratore, que vive em uma época pós-Primeira-Guerra, mas carrega a vaidade masculina egotrip do seu mais atual ex, leitora, aquele que se acha moderno e tem afeto para distribuir.
Os personagens coadjuvantes na televisão podem não ter bem o tom de pele ou corte de cabelo que você imaginou enquanto devorava as páginas. A Itália napolitana que sai nas cenas dirigidas por Costanzo pode não ter a vivacidade das cores que costumam fazer parte da paleta italiana de um imaginário comum do brasileiro.
Mas se é para falar de fidedignidade, exaltemos a proporção rítmica da adaptação da narrativa dos livros para a TV. Quem leu sabe que Ferrante gosta de respeitar e representar o tempo das coisas em seus quatro grandes livros.
Assim como acontece no primeiro livro (e no segundo), as coisas vão se passando devagar, respeitando o tempo do tempo.
E na série isso acontece. É lenta. Pode ser chata para quem não leu. Pode fazer perder a paciência quem está tentando dar uma chance.
Mas é lenta. E densa. Esse ritmo da narrativa é responsável por fazer as atrocidades normalizadas naqueles contexto verdadeiras agressões, dignas de possíveis gatilhos em tantos momentos.
Quem assiste será obrigada (o) a lidar com relacionamentos abusivos, insegurança masculina traduzida em patriarcado escorrendo pela tela, a desigualdade de oportunidades, que é tema geral da série, além de amizade marcada pela competição feminina (ainda bem que sororidade salva).
Você que leu a Série Napolitana provavelmente não terá problema em matar um pouquinho da saudade desses personagens de Elena Ferrante. Você que não leu pode se entediar com a vagarosidade de cada capítulo, pode confundir com novela. Mas se isso acontecer, considere ler o livro, e não desista antes de chegar na metade dele.
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