Sobre crescer

Crescer não é nada fácil, e não há forma menos clichê de se colocar algo tão simples e tão verdadeiro.

Amanda
Fale com Elas
3 min readOct 23, 2019

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Cena do filme “O Clube dos Cinco” (recomendo, inclusive)

Quando estava no ensino médio tudo o que eu mais queria era ir embora dessa cidade. Consegui durante algum tempo. Passei em uma faculdade pública no interior do estado, dividi apartamento com um amigo, me dediquei a um monte de projetos dentro da instituição, comecei a construir o que achei ser uma base, relativamente, sólida de contatos e apoiadores, consegui um emprego como professora de inglês, aí decide abdicar de tudo isso para viver um outro sonho, mas quando este também chegou ao fim, me vi obrigada a voltar “de mala e cuia” para a casa dos meus pais.

Para aquele mesmo quarto de onde, deitada na cama, eu escrevia sobre me tornar a próxima J. K. Rowling ou a criadora de algum tipo de organização que tirasse o meu povo da pobreza.

Não deu certo.

As vezes eu sinto que todo o meu processo de crescimento foi baseado em fantasias que eu mesma criei. Me disseram que eu não teria mais espinhas, que eu alcançaria meus sonhos, que eu viveria numa cidade grande influenciando milhões de pessoas a serem altruístas, mas nada disso aconteceu. E eu confesso que tenho medo de assumir que, talvez, a culpa seja toda minha.

Quando me inscrevo em mais uma vaga de sei-lá-o que em sei-lá-onde me deparo com uma lista de coisas nas quais me enfiei durante e antes da faculdade; cursos e organizações e eventos e trabalhos voluntários. Eu sei que me esforcei, mas lá no fundo ainda tem uma vozinha chata que insiste : “será que você se esforçou o bastante?” Quantas noites a mais sem dormir teriam feito a diferença?

Não sei se é efeito dos vinte e cinco anos, ou se é culpa dessa moda da produtividade que vem assolando o mundo, só posso dizer que eu estou enlouquecendo. Eu e, pelo menos, 80% do resto da juventude brasileira que acorda todos os dias e se depara com um país afundado no caos. É a primeira vez na vida em que a nossa situação político-econômica me faz pensar que talvez não tenhamos um futuro.

Parar de ler o jornal não me deixou mais calma, pelo contrário, me deixou vazia, com a sensação de que o mundo está acontecendo e eu estou estagnada sem tomar parte nele. Ao mesmo tempo em que cada manchete aumenta a vontade de me enfiar no quarto e nunca mais sair de lá.

Não sei se crescer colocou um filtro poluído de maldades nos meus olhos, ou se é o mundo que está ficando cada vez pior. É como se houvesse apenas espaço para a dor. Meu peito sufoca-se na minha ansiedade. Se me perguntarem se estou bem, responderei que sim, só porque não sei dizer o quê estou.

Queria ajudar o mundo, mas ele me repele todos os dias quando arremessa na minha cara que eu não sou boa o suficiente.

E eu, em resposta, apenas aceito.

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Amanda
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Redatora, tradutora e professora de inglês. Aqui: @fale-com-elas-e-sobre-elas e @revistahelenas , IG @clubedochorolivre -rtorres.amanda@gmail.com para serviços