CRÍTICA | Turma da Mônica: Laços

Expectativa de um filme emocionante, realidade de uma adaptação que não compromete

João Pedro Viegas
Fale de Cinema
5 min readJun 19, 2019

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“Turma da Mônica: Laços” estreia nos cinemas na próxima quinta-feira, 27/06.

O alvoroço coletivo criado na internet com o anúncio de um filme em live action de Turma da Mônica foi real. É realmente empolgante ver, nas telas do cinema, algo que acompanhamos durante nossas infâncias e que está presente na rotina do brasileiro por mais de 30 anos.

As adaptações dos gibis de Maurício de Sousa já ganharam as telonas com filmes animados da turminha, além das vezes em que a turma já ganhou vida em espetáculos, shows globais de fim de ano, Crianças Esperanças, e por aí vai. Mas interpretados por atores mesmo, de verdade, é a primeira vez. Turma da Mônica: Laços estreia no fim do mês, mas o Fale de Cinema já assistiu.

A trama é adaptada da HQ (sim, HQ, e não gibi) de mesmo nome, de Vitor e Lu Cafaggi, lançada em 2013 pela Panini. Floquinho, o cachorrinho de estimação do Cebolinha (Kevin Vechiatto) desaparece misteriosamente, assim como outros dogs do bairro do Limoeiro. Determinado a ter seu companheiro de volta, Cebolinha conta com a ajuda de Mônica (Giulia Benite), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) em uma aventura repleta de desafios e superações para encontrar os animais desaparecidos.

Pontos positivos

Bem, vamos lá. Se você é daquelas pessoas que espera ver aquele conteúdo mega colorido das páginas no cinema, parabéns, esse filme é uma ótima pedida para você. A direção de arte mandou muito, mas muito bem. Em Laços, fez-se a opção de seguir a linha visual do gibi, e não da HQ que originou a história.

O filme consegue transportar toda aquela ambientação dos gibis para o filme: realmente enche os olhos a forma como o bairro do Limoeiro é representado. As casas, carros, figurinos e locações te fazem lembrar da época que você sentava e lia, sem parar, os quadrinhos da turma da mônica.

A Turma, em si, é bem parecida, principalmente Magali, Mônica, Cascão e Cebolinha (nessa ordem). Causa um certo estranhamento ver esses dois últimos com tanto cabelo, visto que eram os mais… carequinhas, por assim dizer. Os personagens secundários, como Titi, Aninha, Jeremias, os pais da turma (com exceção do sr. Cebola, que também entra nessa de ser cabeludo), os vendedores ambulantes… é tudo muito bem escolhido e apresentado. É show. É caprichado, beira à perfeição.

A boa notícia é que isso não demora a aparecer! Vem logo um pacotão de memórias afetivas nas primeiras cenas. E realmente o filme começa muito bem. A sequência de ação inicial é muito bem construída, por ser justamente aquilo que o fã espera: um plano “infalível” que dá errado, uma perseguição e coelhadas.

Cena de “Laços”, HQ que inspirou o filme de Daniel Rezende.

A participação do Louco (Rodrigo Santoro) é, para mim, um dos destaques do filme. Sério, é maravilhosa. E nesse esforço de inserir todos os personagens, conseguimos ter um gostinho até da Turma do Penadinho, com a aparição do que eu acredito ser o Cranicola. Pode ser só uma tremenda coincidência, mas mesmo assim é bem legal.

Dado o desenrolar do filme, talvez fique claro o porquê da escolha dos diretores de brindar o público logo de cara com essas cenas extremamente bem adaptadas: o desenvolvimento da história e o plot deixam um pouco a desejar. E é aí que surgem minhas principais críticas para Laços.

Pontos Negativos

Se você esperava um filme de emoção, para chorar copiosamente lembrando da sua infância, eu arrisco dizer que esse objetivo pode ficar comprometido. A parte que deveria ser sensível… Não é.

E eu não consegui entender o porquê, já que o filme tem quase uma hora e meia de duração. Da metade do filme para o fim, que é justamente nas cenas que os personagens enfrentam conflitos sentimentais, essa abordagem da atuação é deixada de lado. E isso é perceptível. E não critico os atores, critico a direção que falhou nesse aspecto, de deixar transparecer a sensação de “fala decorada” e sem emoção em determinados trechos. São coisas, por exemplo, que idealmente deveriam ser ditas com entonação alta e expressão facial bem marcada, mas são ditas naturalmente, como se um script estivesse sendo lido pela primeira vez.

O longa também dá umas vaciladas nas interações entre os personagens. Cebolinha e Cascão, por vezes, não tem a química característica dos melhores amigos. E mesmo que mais apagada nas histórias, senti que perderam a chance de dar mais destaque para a Magali, que, na minha opinião, tem histórias divertidíssimas nos almanaques e gibis. E isso foi o que mais me incomodou, porque me frustrou. Essas falhas acontecem justamente no momento que seria o gatilho para o fã na poltrona chorar desesperadamente. Eu esperava ter chorado nesse filme, mas o máximo que esbocei foram alguns olhos marejados.

Uma outra coisa que foi meio deixada de lado foi a causa, o motivo que leva o vilão a fazer o que faz. Claro, mostra o que é, e você subentende que é por aquela razão, mas é literalmente coisa de segundos. É algo que poderia ter sido melhor explorado no tempo que o filme tem.

Outros pontos

As referências aos gibis e também à esse fenômeno das adaptações live action são muito bem feitas em Laços. Tem uma cena com um plot ótimo sobre a questão dos sapatos, já que Cebolinha é o único da turma que está sempre usando tênis, enquanto os outros personagens não. É sutil, mas quem acompanhou os gibis vai sacar na hora.

Quem esperava uma cameo do Maurício de Sousa, à lá Stan Lee, também vai ser agraciado como uma participação sen-sa-cio-nal do criador de tudo aquilo. Além disso, temos Leandro Ramos, o Julinho da Van, de Choque de Cultura, também em participação especial muito divertida.

Turma da Mônica: Laços é um filme bem adaptado de histórias em quadrinhos, feito para agradar o público com memória afetiva e também às crianças que estão conhecendo a história, mas que desliza em certos pontos de roteiro e direção.

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João Pedro Viegas
Fale de Cinema

Jornalista em formação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Escreve sobre entretenimento, cultura e esportes.