histórias de date: o problema não é você, sou eu

(é você sim) mais algumas histórias, dessa vez sobre como a carência é mesmo a mãe da roubada

Dalila Coelho
falo de amor
8 min readMay 30, 2020

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refiz essa foto quase 3 anos depois de um date no pompidou e achei simbólico demais o que fizeram com o adesivo

quando se trata de date, nem tudo é um mar de rosas. na verdade, o que mais acontece é a gente quebrar a cara mil vezes enquanto procura por alguém legal pra dar uns beijos com alguma frequência. na minha saga de dates em paris, por causa da carência da solidão de estar morando sozinha em uma terra tão distante, eu acabei dando alguns murros em ponta de faca e às vezes escolhi continuar insistindo no erro porque o rosto parecia compensar. quer ver?

o vizinho

eu morava em um studio em uma residência estudantil enorme e tinha um restaurante universitário embaixo da residência. eu almoçava e jantava nesse restaurante várias vezes por semana e comecei a ficar familiarizada com alguns rostos que frequentavam bastante ali pra comer sozinhos. tinha um menino que às vezes tava no caixa e às vezes tava comendo que era simplesmente maravilhoso. e absurdamente simpático. ele percebeu que eu falava português quando me viu conversando com uma amiga e começou a falar em português comigo, porque ele tava estudando a língua sozinho. essa minha amiga também ficou babando nele e eu ficava pensando em como iria passar meu telefone pra esse menino. aí um dia eu tava me recuperando de um resfriado horrível, fui jantar sozinha quando o restaurante tava quase fechando e ele apareceu pra jantar e sentou do meu lado. a gente começou a conversar horrores, ele era muito legal e simpático e interessado no brasil. a gente terminou de jantar, continuou conversando, ele era uns cinco anos mais velho que eu, tava cursando matemática e era atleta profissional de salto em distância. ele também morava na residência e a gente subiu junto e ficamos sentados na escada de incêndio conversando por tipo uma hora. eu queria muitooo beijar ele mas tava resfriada e também tava me contendo por causa do estigma da mulher brasileira. ele falou que queria me levar pra conhecer um aquário, salvou meu número e eu fui pro meu studio sem acreditar que tinha dado certo.

alguns dias depois ele me chamou pra ir ver uma apresentação de stand up comedy de um amigo dele. a gente chegou horas antes do bar abrir, sentamos em um café em frente, ele sendo super simpático e querido e engraçado, quis pagar tudo e ficava insistindo pra eu comer, ficava fazendo umas brincadeiras com a mão pra matar o tempo, encostava em mim enquanto a gente conversava, mas nada de me beijar. os amigos dele chegaram, ele me apresentou pra todo mundo, a gente foi pro bar e era um lugar lindo e intimista com um palquinho e decoração burlesca e eu nunca teria conhecido aquele lugar se não fosse esse meu vizinho. mas era um show de comédia em francês e obviamente eu não entendi quase nada por causa da falta de referência cultural. foi um date bem legal, nada do que eu esperava e até um pouco exagerado, com isso de conhecer amigos e dar rolê em grupo com alguém que eu queria mas ainda não tinha beijado. ele fez piada sobre como ele tinha que me levar pra dormir, a gente foi embora e ainda assim NADA.

dois dias depois a gente foi no aquário que ele tinha falado que queria me levar. mais uma vez um lugar lindo, um date fofo e planejado, mas tava sendo demais pra mim. ele ficava encostando em mim, mexendo no meu cabelo e gostava de brincar sobre como eu era a petite fille dele, por causa da diferença de idade (e falava em um português puxadíssimo “minha garota”), mas nada de me beijar. eu senti que aquilo tava ficando sério demais e tava chegando o dia de saint valentin e eu tava com medo do que ele iria querer fazer. ele percebeu que eu tava estranha e eu falei que era cedo demais pra ter esse envolvimento todo que ele queria e que não iria dar certo. ele fechou a cara e a gente foi embora, mas como morávamos no mesmo prédio, eu tive a volta pra casa mais climão da vida.

porém contudo entretanto eu ficava indignadaaa comigo mesma porque a gente não tinha se beijado. continuei vendo o vizinho no restaurante e ele era absurdamente bonito e minha amiga ficava botando pilha que eu tinha que ficar com ele. aí depois de um tempo eu mandei mensagem, pedi desculpa, falei que ele era legal demais e que queria voltar a sair com ele. combinamos de sair e fomos em um restaurante caribenho que tinha perto de onde a gente morava. só tinha a gente no restaurante e ficamos degustando rum por um tempo. na volta pra casa a gente finalmente se beijou (nada de língua!), eu fui pro apartamento dele, a gente foi ver um filme e eu não tava afim de transar, queria só ver o filme mesmo. ainda assim ele ficou só de cueca, o que me deixou super desconfortável, e ficava tentando me convencer, mas eu não queria, daí ele começou a dormir e eu fui embora. eu sei que foi muito escroto, mas já falei o quanto ele era lindo??? ele fazia piada sobre ser o brad pitt preto e olhando de certo ponto até parecia, se o brad pitt tivesse 1,80 e tantos e porte de atleta. sério, até a panturrilha desse menino era bonita. aiai. fiquei com ele pela última vez uns dias depois, porque ele fez chantagem de que a gente já tinha combinado de sair (antes dele me deixar desconfortável) e que ele tinha desmarcado outras coisas pra ficar comigo. ficamos conversando no apartamento dele e não transamos. um dos meus arrependimentos de coisas que não fiz em paris, mas ele realmente me tratava de um jeito que me deixava desconfortável.

dispensei mais uma vez o vizinho, tive que lidar com a cara ruim dele no restaurante, mas depois de um tempo ficou tudo bem. a gente até conseguiu estabelecer uma boa vizinhança, eu pegava o ferro dele emprestado de vez em quando e dei pra ele algumas comidas que iam perder quando eu fui viajar. pouco antes de eu voltar pro brasil ele me chamou pra sair mais uma vez e eu tive que dar mais um fora. foram três pra conta, mas ele acabou não pedindo música no fantástico. depois que voltei pro brasil, incentivei a minha amiga que também tinha ficado de cara com tanta beleza a ficar com ele, já que ela ficava indignada que a gente não tinha transado. eles saíram uma vez e ela conseguiu entender o desconforto que eu sentia com o jeito dele de forçar a barra.

tinder 1, 2 e 3

já tinha um tempo que eu tava em paris e eu tava ficando entediada e carente, porque as aulas tinham acabado, ainda me restava um tempo na cidade, eu não tinha nenhuma viagem programada, o alfaiate tava me enrolando e eu não tinha mais o que ou quem fazer por lá. eu passeei pelo tinder durante todo o período do intercâmbio, era um ótimo lugar pra ver foto de homem bonito, mas sair mesmo eu nunca tinha saído com ninguém do tinder na vida. daí eu selecionei três pessoas e marquei os dates em três dias seguidos, pra fazer uma verdadeira maratona experimental de tinder.

o primeiro parecia legal mas na hora foi sem graça demais. a gente se encontrou numa cafeteria do lado da minha casa e foi bemmm entrevista de emprego, ele tímido, sem muito papo, a gente sem muita coisa em comum. não rolou nada e voltei pra casa com tipo 1h30 de date.

o segundo tinha um humor bem ácido online e eu tava botando mais fé, ele trabalhava com marketing de moda e eu achei que a gente teria algo em comum. a gente combinou de encontrar no panthéon e quando ele veio na minha direção eu percebi que ele era mais baixinho e com bem menos cabelo do que aparentava nas fotos. deu vontade de ir embora, mas a gente sentou em um bar bem caro que ele escolheu e o papo até que era bom. eu não pude ficar muito tempo porque tinha que encontrar uma amiga, mas acabei combinando de encontrar de novo com ele mais tarde. apesar de não achá-lo muito bonito, eu tava carente e quis investir porque a conversa tava até legal, mesmo. a gente foi em outro bar, dessa vez perto da casa dele, num bairro de rico perto da torre eiffel, e depois fomos pro apartamento dele. ele morava num apartamento grande demais e chique demais pra uma pessoa de 24 anos morando sozinha e deu pra sentir aquela vibe de menino mimado com poucos amigos que se esforça demais pra ser gostado. a gente começou a ver um filme, daí começamos a beijar e eu não tava muito afim, mas era o que tinha, e aí ele foi muito metódico pra preparar todo o cômodo pra gente transar. guardou o notebook, abriu o sofá cama, arrumou tudo, apagou a luz antes de tirar a roupa e eu fui só perdendo o tesão e ficando incomodada com toda a situação. daí ele começou a me chupar e era horrível e ele ficava me perguntando o que fazer e quando ele falou em pegar camisinha eu criei coragem e falei que não ia rolar e que eu tinha que ir embora. ele ficou meio decepcionado, eu juntei minhas coisas e vazei o mais rápido possível. só que quando eu cheguei no portão do prédio eu percebi que tinha esquecido minha jaqueta no apartamento. fiz todo um moonwalk of shame, voltei na casa dele, peguei a jaqueta, pedi desculpas mais uma vez e fui embora.

e o terceiro cara do tinder tinha todo o potencial do mundo, era um psicólogo lindo que atendia pertinho de onde eu morava, mas eu tinha ficado tão atordoada com os dois outros encontros do tinder que acabei desmarcando. a gente tentou remarcar algumas vezes mas parecia haver um esforço mútuo pra não fazer esse date acontecer. uma pena, porque ele era realmente lindo e eu ainda fico pensando que poderia ter sido uma pessoa interessante, como tudo que não foi.

minhas histórias já estão quase acabando, mas pra não encerrar a série nesse tom bad vibes, as histórias que eu vou contar na semana que vem são bem suculentas, então aguardemm ✨ e como eu tô adorando escrever essas crônicas mas já tô sem história pra contar, queria te convidar pra me contar as suas histórias mais memoráveis de date!! pode ser por dm, zap, email ou anonimamente pelo curiouscat. é sério, me contaaaaa!!! adoro conversar sobre essas besteirinhas.

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Dalila Coelho
falo de amor

jornalista independente tentando registrar umas histórias