histórias de date: paris, mon amour

escrevi alguns casinhos que vivi em paris pra entreter a sua quarentena

Dalila Coelho
falo de amor
6 min readMay 16, 2020

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analógica que fiz durante um date bem bonitinho num dia chuvoso no pompidou

paris. essa cidade que é um pouco brega gostar, mas com a qual tenho uma longa história de amor. paris me atravessou em dois momentos diferentes de vida e ambos foram marcados por uma semelhança muito grande: os encontros inimagináveis que tive naquela cidade. parece que paris tem mesmo essa energia absurda do romance e as histórias que vivi lá são sempre as que eu mais gosto de contar por puro entretenimento. por isso — e porque sempre quis deixar essas histórias registradas em algum lugar antes que eu esqueça tudo — resolvi contar algumas aqui. nas próximas quatro semanas vou postar algumas das histórias mais memoráveis que vivi em paris, começando pela primeira vez que fui pra cidade. lá vai:

meu primeiro francês

a primeira vez que eu fui pra paris foi no limbo de terminar o ensino médio e não passar no vestibular, daí fui fazer um mês de curso de francês em paris pra aprender o idioma, exatamente durante a copa do mundo aqui no brasil. eu tinha 18 anos, tinha acabado de terminar um casinho intenso que durou alguns meses e como eu era uma menina muito apaixonada, planejei a viagem pra sofrer por ele em paris — mas não preciso nem falar que foi só pisar na cidade pra eu nunca mais lembrar dele. eu fui sem saber falar nada de francês, caí numa casa de pessoas que não falavam nada de inglês, mas no fim deu tudo certo, deu pra aprender bastante. a escola de idiomas em que eu fui estudar recebia novas turmas de alunos toda semana e promovia muitos eventos de integração entre todo mundo. pra minha sorte, todo mundo falava inglês e tinha a mesma idade entre 18 e 20 e poucos anos.

logo na primeira semana a gente foi em uma festa erasmus, que reúne um monte de intercambistas e dá um adesivinho na entrada com a bandeira do país pra você se identificar. coisa meio baranga, mas é o que tem quando você não conhece a cidade. não me lembro de ter pegado a bandeira do brasil pra colar na minha roupa, porque não gosto dessas coisas, mas tive a grande sorte de nesse dia beijar um francês que por puro acaso tinha acabado de voltar de um intercâmbio em uberlândia (!!!!!!) e falava português muito bem. talvez ele me disse isso quando chegou em mim, mas eu não escutei nada e fiquei lá beijando, e só fui entender que ele era francês e falava português quando a gente sentou pra conversar. ele era um querido, e como eu esperava do estereótipo de homem francês, foi super romântico comigo, ficamos juntos até o final da festa e nos encontramos uns três dias seguidos, porque ele estava em paris à trabalho e logo ia ter que voltar pro sul.

andamos pela champs élysées, fomos até a torre eiffel, passeamos em um parque, ele me levou pra jantar, eu pedi a mesma coisa que ele porque não conseguia entender o cardápio e fui surpreendida com um hambúrguer pra comer de garfo e faca — uma missão dificílima, convenhamos — e no final do fim de semana bonitinho eu encarnei mais ainda a personagem de comédia romântica e fui até a estação ferroviária me despedir dele. me perdi no caminho, acabei atrasando um pouco e quando ele estava indo pegar o trem, eu fiz questão de puxá-lo pra uma photomaton e tirar uma foto instantânea pra ele levar de lembrança do fim de semana. 100% entrei na onda de paris e segui todo o roteiro. nunca mais vi esse menino, não lembro o nome dele, mas acho que ainda somos amigos no facebook. a gente continuou conversando por alguns dias depois dele ir embora, até que ele começou a mandar umas mensagens meio ciumentas e eu deixei pra lá.

harvard boy

meu segundo casinho parisiense é a história que falei por cima no último texto que postei aqui, de uma pessoa que fiquei e que era muito diferente de mim. quase tudo que eu fiz em paris nessa primeira vez foi com as pessoas que conheci na escola de idiomas, porque eles tinham uma programação bem cheia de coisas pra gente fazer. toda semana tinha happy hour, passeio, aula prática de alguma coisa ligada a cultura francesa, festa de recepção…e era bem legal porque conheci gente de vários países. teve um happy hour que um menino asiático de 1,90m me chamou atenção e a gente começou a conversar e conversamos por horas durante o rolê todo. ele era bastante legal e tinha uma vida inimaginável: não só ele tava terminando um ano sabático, depois de ficar meio ano no japão fazendo trabalho braçal, como ele também ia começar a graduação em harvard em setembro. ele era de família japonesa mas cresceu em nova york e além de tudo isso tinha estudado em uma das escolas que inspirou gossip girl e tinha sido expulso de um internato masculino (!!!!!) — ou seja, todas TODAS t-o-d-a-s as coisas que eu via em filme e série e livro de adolescente norte americano, ele viveu (eu sei que parece muito um monte de mentira que você conta quando tá fazendo intercâmbio mas eu continuei acompanhando ele nas redes sociais e sei que é verdade kkkk). enfim, era surreal. a gente ficou a primeira vez nesse rolê e passamos as duas últimas semanas da viagem de casalzinho.

era engraçado porque apesar de todos esses detalhes absurdos que contei aqui, ele era bem tranquilo e não ficava dando cartada de todas as coisas que tinha, mas a cada detalhe que ele me contava da vida dele eu ficava chocada com o mundo que esse menino vivia. teve um dia, quando já devia ter uma semana que a gente tava saindo direto, que nós dois fomos fazer um picniczinho na beira do sena. nesse dia a gente conversou bastante sobre família, mostrei fotos dos meus pais, dos meus irmãos, contei da minha vida, e quando ele foi contar da família dele, ele abriu o site da forbes pra mostrar o perfil do pai. e jogou o nome da mãe no google pra mostrar quem era (ela era uma artista de alimento, tipo vik muniz só que com comida). e me contou que o bisavô foi um dos fundadores de uma marca de carros japonesa e que o avô era o ceo dessa marca. me mostrou um diagrama pra explicar como o símbolo que representava o sobrenome da família dele foi transformado pra virar a logo dessa marca de carro. e me contou que os pais se conheceram em harvard e por isso ele ia estudar lá.

mas ao mesmo tempo ele tava super vivendo a vida real, dividindo um quarto em uma casa de família no subúrbio que a escola de idiomas tinha colocado ele e zero esbanjando nada. teve até um dia que tava frio e chovendo e a gente foi no pompidou e depois entrou em um restaurante pra jantar e a conta ficou meio cara e a gente ia dividir, só que o meu cartão foi recusado e ele acabou pagando tudo e eu paguei ele em dinheiro depois, mas assim que ele passou o cartão a mãe dele ligou pra reclamar do valor e ele teve que se justificar. por fim ele foi mais uma pessoa querida que paris me apresentou e que me apresentou um pouco paris também. a gente deu vários rolês bonitinhos, dates no sena, fizemos coisas absurdas no jardim do louvre, assistimos o 7x1 juntos e ele riu do brasil, e nos despedimos virando a noite em uma balada muitooo bonita na beira do sena logo antes de eu pegar o avião pra voltar pro brasil. nós continuamos conversando por um tempo e nunca mais o vi, mas morro de vontade de reencontrar esse menino pra saber como é a vida pós-harvard.

minha primeira vez em paris foi marcada por esses encontros que me deixaram com vontade de voltar e viver mais vezes essa energia maravilhosa da cidade, só que por mais tempo. por isso, desde que entrei pra faculdade eu sabia que queria fazer um intercâmbio maior em paris dali uns anos. voltei em 2017, mas já numa fase de vida completamente diferente e a vivência foi outra. semana que vem eu conto mais um pouco aqui :)

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Dalila Coelho
falo de amor

jornalista independente tentando registrar umas histórias