Guilhermino Fugará — uma história de Tumarine

Júnior Pires
Falo Sempre
Published in
3 min readAug 5, 2019

Uma das figuras mais conhecidas de Tumarine é Guilhermino Fugará. Homem respeitado pelo seu caráter e pelos prodígios realizados. Reservado e rude às vezes, porém de imensa bondade também.

Guilhermino trabalhava como ferreiro. Quando não estava trabalhando podia-se vê-lo na varanda de casa cortando as unhas com um facão que levava consigo sempre, fumando seu tabaco ou lendo histórias de faroeste, este que era seu hobby preferido. Seu escritor favorito era o tumariano Muri Goima, que só conhecia através das histórias lidas, já que este havia sumido da cidade fazia um tempo. Chegará o momento que contarei mais sobre ele.

As histórias sobre Guilhermino são muitas. Dizem que ele sozinho colocou o sino na torre da igreja (uns falam que ele até desamassou uma parte do sino com as mãos antes de colocá-lo lá), que certa vez deu um tapa nas costas de Seu Martin do açougue para desengasgá-lo de um osso de galinha que a dentadura do senhor, assim como o osso de galinha, voaram para tão longe que até hoje continuam desaparecidos. Aliás contam que foi desse tapa que Seu Martin ficou mudo.

A história que vou lhes contar agora é a minha preferida de Guilhermino. O ano é 1948 e o verão tumariano estava no auge naquela semana. Para se ter ideia, a menina Arlígia, na volta da mercearia, derrubara uma bandeja de ovos na calçada e todos eles fritaram. A viúva Dolores havia parado para esperar o bonde ao meio-dia e, dado uns instantes, sua roupa preta começa a fumaçar o que logo foi percebido pelo galante Ariosto Braga, que estava ali perto. Dando umas palmadas apagou o início de incêndio, o que gerou uma peculiar aproximação entre os dois, mas isso conto em outro momento. O fato é que foi nesse intenso verão que quase aconteceu uma das maiores tragédias de Tumarine se não fosse por Guilhermino Fugará.

A escola municipal Profa. Aline Aubry fica no prédio da antiga cadeia. Falam que por conta de um caco de vidro que estava no telhado da escola e do sol escaldante daqueles dias um incêndio foi iniciado. O fogo começou pelo teto e foi tomando o lugar. A maioria dos alunos conseguiu sair porém uma turma ficou devido a porta da sala ter emperrado. As crianças do primeiro ano e a professora estavam presas, respirando aquela fumaça e perigando serem queimadas.

O corpo de bombeiros foi chamado mas não conseguiu conter todo aquele fogo.

Guilhermino, sabendo do acontecido, correu para a escola. Ele tentou entrar mas o fogo estava forte. Logo teve uma ideia. Dona Carminha doceira, famosa por seus doces era também conhecida por ter as maiores panelas da região. Ele então corre a doceria e de lá volta com uma tampa de panela imensa.

Parando em frente a escola, apenas com uma abanada com aquela tampa ele conseguiu produzir vento suficiente para abrir caminho naquele fogaréu até a sala de aula, arrancar a porta (dizem que com uma mão só) e salvar as crianças e a professora (abrindo caminho com a tampa no retorno também). A escola infelizmente foi destruída pelas chamas atingindo também o prédio do teatro municipal, que fica ao lado. Este no qual, na reforma devido ao incêndio, foi encontrado uma escada subterrânea, mas não é o momento de falar sobre isso. São muitas histórias. Fico com vontade de contar todas logo, mas cada coisa a seu tempo.

Guilhermino foi exaltado como herói e este feito, como outros, se perpetuam na história tumariana.

Dorival Cunha (Dodô)

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