Almas Anoréxicas — por pe. Zezinho, scj

Editor FC
Família Cristã
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3 min readJul 20, 2016

Muitos crentes morrem de anorexia espiritual. Não se alimentam, mas acham que já assimilaram demais ou o suficiente.

Salmo 22,7: “Mas eu sou verme, e não um homem, opróbrio dos homens e desprezo do povo”. Falo do que disseram os médicos. A alma dela adoeceu, e a modelo A. C. R. M. morreu de anorexia. Acontece também na vida de muitos crentes. Morrem de anorexia espiritual. Não se alimentam, mas acham que já assimilaram demais ou o suficiente. Têm uma ideia distorcida de sua fé, da mesma forma que a modelo tinha uma ideia distorcida de seu corpo. Umas gramas a mais a deixavam em crise. A modelo A. C. tinha 21 anos, media 1,72 metro e, no entanto, pesava 40 quilos, peso de uma menina de menos de dez anos. De tanto lutar contra o crescimento do corpo, acabou por desenvolver aversão a comidas. Foi a idolatria da estética que acabou em visão distorcida das próprias medidas.

No campo da fé, de tanto não ler, ou de ler apenas trechos escolhidos da Bíblia, de tanto não querer crescer em conhecimento, de não ler Teologia, Sociologia, Filosofia ou temas que ajudam a refletir; de tanto não reabastecer a mente e o coração, a pessoa acaba desenvolvendo aversão a livros e ao estudo. Por conseguinte, orando mais por si mesma do que pelos outros, repetindo à exaustão as mesmas palavras, os mesmos temas e os mesmos discursos. Resultado: não quer saber mais e cada dia sabe menos, com a desculpa de que já sabe o essencial e o importante. Não sabe e não sabe que não sabe!

Repetitivos ─ Imagine uma pessoa que por 40 anos cantasse o tempo todo apenas as canções As Pastorinhas: “A estrela d´alva no céu desponta”, — ou Chiquita Bacana: “Chiquita Bacana lá da Martinica…”. Conheci uma ex-professora que se achava culta, mas não saía do passado. Não sabia absolutamente nada do mundo, do noticiário, das novas expressões de cultura. Achava-se bem informada sobre os anos 1940, 1950 e 1960 e era o que lhe bastava para viver. Talvez, para viver, mas não para dar aulas. Estava culturalmente anoréxica. Sua conversa era a de alguém que parara no passado. É assim, também, a conversa de muitos crentes. Jesus é passado, presente e futuro, mas não eles. Como fazem questão de rejeitar a sabedoria que Deus deu ao mundo acabam sem a sabedoria do céu.

Nós, pregadores, precisamos tomar cuidado com o que lemos e com as informações que coletamos. Precisamos ser mais abertos e diversificados. Pode-se morrer por comer apenas alfaces, pepinos e tomates. Sem um conhecimento melhor do mundo, da História, do comportamento humano, das ciências, nosso discurso será alienado, por mais piedoso que seja. Aquela modelo provavelmente desfilava bem, a julgar pelos contratos que conseguia. Mas a obsessão com o pouco peso a impediu de ver os outros aspectos do viver. Há, ainda, a obsessão por favores do céu. Muitos crentes, com a obsessão por graças, milagres e novas conversões, talvez não percebam outros aspectos igualmente importantes da sua religião. Podem morrer de excesso de Igreja e de falta de fé!

Artigo publicado originalmente na Revista Família Cristã de janeiro de 2016.

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