Para futuros campeões

Editor FC
Família Cristã
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4 min readAug 11, 2016

Em um país sem real política pública de incentivo ao esporte, tornar-se atleta é a primeira grande vitória.

Por: Irene Paz

O desfecho de Enfim, Atleta! (Paulinas Editora), 75º obra da autora carioca Anna Claudia Ramos, mostra que a realidade de um jovem brasileiro que deseja ser um atleta de alto rendimento muitas vezes só tem uma saída: o aeroporto, em um avião rumo a um país desenvolvido. A história da personagem Antônia, que sonha ser tenista, como a de muitos adolescentes daqui, poderia dispensar ruptura tão radical se o Brasil tivesse uma real política pública de fomento ao esporte. Enfim, algo que, desde cedo, os incentivasse. Como se sabe, no entanto, as prioridades nacionais são outras, e a nossa juventude não merece tanta atenção, a julgar pelas 48 mil escolas públicas (cerca de 70% do total) desprovidas de quadras esportivas — os dados constam do Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC) de 2013. O desestímulo e a fuga de talentos, no caso do esporte — mas que se repete no campo da ciência e da pesquisa –, explicam o fato de o Brasil despontar como perdedor ou, em caso de surpresa, zebra em várias disputas.
Resta ao jovem a persistência, o que faz do obstinado que consegue se estabelecer como atleta, em face das dificuldades, vencedor por apenas conseguir competir. É a proposta do barão de Coubertin, criador dos Jogos Olímpicos modernos — “o importante é competir” — revista por vias tortas. Antônia sai de uma pequena cidade, “que nem se encontra no mapa”, após a morte da avó, vai para a casa do tio na cidade grande e de lá, mediante seu empenho, consegue uma bolsa integral para estudar e treinar nos Estados Unidos. “Acho que, quando a gente quer muito uma coisa, não pode parar de sonhar e se dedicar”, justifica Antônia, tão focada quanto sensível. “Dias em que chorava me perguntando por que a vida precisava ser tão difícil e por que não tinha nascido numa família rica. Mas logo mandava esses pensamentos embora, porque reclamar demais era para os fracos, e eu não era fraca. Ou, pelo menos, não podia ser, não havia tempo para isso.”

Ilustrações: Rogério Coelho

Mantra — Antônia é, portanto, a exceção do esforço pessoal e não a regra — que não há — de uma política de incentivo. Mas é o que o jovem brasileiro tem para hoje. Para ele que almeja abraçar a vida de esportista, ou para aquele que tem um outro projeto a realizar, a história de Antônia ensina que nada de valioso nesta vida é conquistado sem sacrifício, renúncia ou muito trabalho. E que em um País onde muito há por ser feito — e refeito — exige-se, por cima, uma dose extra, a chamada missão de matar um leão por dia. Pode ser um bom choque de realidade para garotos ou garotas iludidos que imaginam ter, um dia, uma ideia genial e viver o resto da vida à custa dela. Mais fácil, talvez, ganhar sozinho na Mega-Sena… “O livro mostra para crianças e jovens que seja lá o que eles decidirem fazer bem na vida terão que ter muito estudo, dedicação e disciplina. Muitas vezes vemos um atleta ou profissional de sucesso vencendo, e nos esquecemos do tanto que ele treinou. Horas, dias, meses. Talvez anos. Nem sempre temos ideia dos sacrifícios realizados, como as festas que ele deixou de ir, das dietas que fez, das noites que precisou dormir cedo por ser véspera de competição”, diz a autora Anna Claudia. A grande lição de Antônia, no entanto, fica por conta do seu técnico Rafael, que faz as vezes de mentor e espécie de pai adotivo: “Ninguém sabe nada sem aprender e ninguém aprende sem estudar”. Uma frase que, como mantra, vale sempre a pena ser repetida a uma criança ou jovem. Ou mesmo para os adultos que se negam a crescer.

Divulgação

Reportagem publicada originalmente na Revista Família Cristã, edição de julho de 2016.

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