Somar ou dividir

Editor FC
Família Cristã
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6 min readApr 12, 2016

Como alguns casais jovens lidam com o dinheiro e os desafios encontrados na questão financeira.

Robson dos Santos e Josiele Ventura, casados há dois anos, esperam a primeira filha, e a cada duas semanas sentam para planejar os gastos da família

Por: Viviani Moura, fsp
Fotos: Arquivo pessoal

Na vida a dois, além de muito amor, fidelidade, responsabilidade, transparência, é necessário saber lidar com as finanças e aprender juntos a administrar o dinheiro. Agora casados, não tem mais a presença do pai e da mãe, e aí vêm as contas para pagar, bem como: luz, água, telefone, condomínio, internet e, junto, surgem as dúvidas de como fazer um planejamento financeiro. O especialista em finanças, Altemir Carlos Farinhas, especialista em Finanças Comportamentais, recomenda o uso de uma planilha, na qual se deve anotar as receitas e despesas, a fim de planejar e acompanhar melhor os gastos da família: “Com o casamento, forma-se uma família e surge a necessidade de colocar na ponta do lápis, o que os dois ganham e o quanto cada um contribui para a manutenção do lar, que custa caro”.
A analista de controle interno Giselle Guimarães e o contador Celso Filho, casados há três anos, utilizam o recurso da planilha e dividem as despesas do casal. Por causa do trabalho cada um mantém uma conta individual, mas, um pouco antes de casarem, por causa do financiamento do apartamento, abriram uma conta conjunta onde fica concentrada todas as despesas da casa. “Todo mês a gente faz as contas, prevê mais ou menos o quanto a gente precisa depositar e cada um deposita uma metade. Em relação às contas individuais, não é uma falta de compromisso um com o outro, porque a gente tem conhecimento da quantia que o outro possui na conta, estamos sempre nos comunicando sobre isso”, afirmam.

Dívidas — Muitos casais, em determinado momento, passam pela experiência dos problemas financeiros. Começam a aparecer as dívidas e, para quitá-las, fazem novos empréstimos com juros altos para pagar os que estão pendentes e, quando se dão conta, já foram além das possibilidades financeiras. Além disso, recorre-se ao limite do cheque especial, ao cartão de crédito ou também aos financiamentos, e o débito acaba afetando a saúde física e mental. Isso acontece porque acabam gastando muito, motivados pelo impulso, sem nenhuma pesquisa de preços e sem um verdadeiro discernimento: se o que quer comprar é um simples desejo ou uma real necessidade. Para o especialista em Finanças Amilton Dalledone Filho, é preciso definir uma cota mensal das despesas, com base no que se ganha.

“Um casal se afunda nas contas porque gasta mais do que tem, às vezes não se sabe nem o quanto ganha e vai gastando, aí acaba se endividando”, ressalta.

Em muitos casais, existe o perfil consumista, aquele que, de forma impulsiva, gasta sem avaliar as consequências. Mas essa compulsão de compra é provocada por uma baixa autoestima e uma fragilidade emocional. Mara Avelino, psicóloga e consultora familiar, explica o que está na origem de tal atitude. “Sentem que precisam se agradar, pois merecem receber algo. Trabalham tanto. Mas não avaliam as consequências de suas atitudes em relação ao dinheiro e ao relacionamento. Depois precisam enfrentar os resultados negativos de uma conta bancária estourada ou a falta de dinheiro para quitar as dívidas”, completa.

David Costa, Patrícia Lima e os dois filhos procuram ser fiéis às metas orçamentárias, mas ressaltam que os cartões de crédito fazem o dinheiro ir para o ralo

Casados há 13 anos, a auxiliar de enfermagem Patrícia Lima e o empresário David Costa diariamente vão amadurecendo a forma de lidar com o dinheiro. Possuem uma loja, e David controla todo o financeiro do estabelecimento e da casa, em anotações separadas. Uma forma de economia encontrada foi a de guardar as moedas em um cofrinho no formato de uma porca. A estratégia teve resultado, pois no último ano conseguiram arrecadar um valor considerável e realizar uma viagem. De acordo com Patrícia, o esposo tenta satisfazer as vontades dela e dos dois filhos na medida do possível, e mesmo com o controle, acabam não sendo fiéis às metas de consumo estabelecidas a cada mês. “Ao estabelecer uma meta, eu tenho que gastar tanto neste mês, mas sempre ultrapassa. O David faz uma planilha com os gastos das contas fixas e do que não é fixo, mas o que faz com que o nosso dinheiro vá pelo ralo são os cartões de crédito”, destaca.
De acordo com Mara Avelino, o assunto dinheiro também é causa de conflitos conjugais. “Existem muitos casais que vivem situações críticas de brigas e sofrimentos por não conseguirem administrar a vida financeira pessoal e, muito menos, como casal, porque não receberam essa formação. Não aprenderam o valor do dinheiro, e isso gera desconforto na relação, podendo até chegar a uma separação”, destaca. Segundo a psicóloga, as discórdias são geradas, sobretudo, quando as emoções negativas pesam, por conta das opiniões divergentes em relação ao uso do dinheiro.

À esquerda: Maycon Dutra e Graziele Dutra Cardoso iniciaram o planejamento familiar já no noivado. À direita: Letícia Neves e Gustavo Cuman dividem os gastos conforme a disponibilidade de cada um

Planos e metas — Em relação aos projetos a curto e longo prazos, como viagens, estudo, compra e troca de carro, reforma da casa etc., tudo deve ser planejado para que se alcance o objetivo. “Se a conta de supermercado é tanto, posso diminuir o que é supérfluo, porque tem o sonho da viagem em vista” afirma Altemir Farinhas. Maycon Dutra e Graziele Dutra Cardoso, juntos há três anos, acreditam que a experiência do noivado foi fundamental, pois, já na fase de preparação ao casamento, deu-se início ao orçamento familiar, e assim a conversa sobre a necessidade de se adequar em determinadas coisas, sobre o que seria conveniente para ambos, a partir do que era possível realizar e o que não, de acordo com o perfil de cada um. Resultado disso, no ano de 2014 já conseguiram realizar o sonho da viagem.

“Vivemos uma experiência bacana. Gostaríamos de viajar para o exterior e sabíamos que os gastos seriam grandes e precisávamos guardar dinheiro. Como não gostamos de nada parcelado, tudo à vista, conseguimos o dinheiro em pouco tempo, percebemos que fizemos uma boa administração”, salienta o casal.

Já os noivos Letícia Neves e Gustavo Cuman, com casamento marcado, contam que foram dividindo os gastos conforme a possibilidade de cada um e colocando neste período metas que foram sendo alcançadas. “Estamos conversando bastante nesta fase de pagar as contas da festa do casamento. O diálogo é o fundamento, nós temos que conversar para ter o equilíbrio.”
Para o economista Carlos Magno Bittencourt, uma relação duradoura e o sucesso financeiro dependem da cumplicidade e do diálogo constante entre os cônjuges. “O ideal é que o planejamento financeiro do casal seja realizado em conjunto, de tal forma que gere para ambos conhecimento da situação. Jamais omitir do outro alguma despesa feita ou que será realizada”, diz.

Chegada dos filhos — O servidor público Lucas Marsala e a fisioterapeuta Camila Gandolfo, casados há seis meses, esperam o primeiro filho, lembram que os primeiros meses foram importantes para reformar o apartamento ganhado do pai de Camila, pagar as despesas do casamento e da viagem de lua de mel e comprar um carro novo. Antes do casamento, já combinaram entre si quanto ao pagamento das contas, e agora já pensam e planejam a etapa da chegada do filho. “Nós já estamos pensando nas despesas que vamos ter, de reformar o quarto, enxoval, já estamos planejando essa parte. Nosso orçamento ficará apertadinho por mais um tempo”, comenta o casal.
Os esposos Robson dos Santos, administrador, e Josiele Ventura, nutricionista, casados há dois anos, vivem também a alegria da espera da primeira filha, que se chamará Fernanda. Os dois sentam para planejar a cada duas semanas. Possuem várias planilhas de acompanhamento, e a preocupação desde cedo de Robson de como lidar bem com o dinheiro o faz estar sempre atento às melhores opções de investimento, como poupança, ações etc. Ao ser demitido do emprego, na mesma época souberam da notícia da gravidez de Josiele, além de terem comprado um novo apartamento. No entanto, logo conseguiu novo emprego. Contudo, esses acontecimentos provaram que eles estavam preparados com uma folga financeira para algum imprevisto. “Tem o dinheiro que é urgente, o de médio prazo, que eu procuro fazer investimentos, e o de longo prazo, que garante o futuro financeiro”, comenta Robson.
Conforme Carlos Bittencourt, não existe um modelo indicado que ajude os casais a administrar melhor as suas rendas, vai depender de cada situação, o que funciona na realidade em que vivem. “O que deve acontecer é um comum acordo entre os parceiros. Existe perfil enquanto solteiro, mas na união matrimonial deve prevalecer o perfil do equilíbrio em que o resultado deve ser positivo, ou seja, sobra no orçamento familiar”, completa. O Altemir Farinhas complementa: “Ter dinheiro não é uma questão de sorte, é questão de equilíbrio”.

Reportagem publicada originalmente na Revista Família Cristã de março de 2016.

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