7 referências sobre fact-checking para graduandos e professores de jornalismo

Taís Seibt
Farol Jornalismo
Published in
4 min readApr 15, 2018

A preocupação com as fake news na campanha eleitoral de 2018 colocou o fact-checking em destaque no debate político — e também no meio acadêmico. Jornalistas, graduandos e professores de jornalismo de diversos lugares têm entrado em contato comigo para pedir indicações de referências sobre o assunto.

Minha resposta soa um pouco desanimadora de início, porque ainda temos poucos estudos sobre essa prática no Brasil. Natural, em se tratando de um gênero jornalístico ainda pouco presente na mídia hegemônica nacional. Além disso, as iniciativas em atuação são ainda relativamente jovens (fundadas de 2014 para cá). Todo esse debate em torno da verificação neste ano eleitoral deve despertar o interesse de mais pesquisadores — e esperamos que de mais leitores também, né?

Pois então que resolvi fazer este pequeno compilado de referências sobre fact-checking, com ênfase em produções em português, para socorrer estudantes, pesquisadores e professores que se lançam no estudo deste tema. Os estudos mais consolidados estão em inglês. No Brasil, temos poucos trabalhos de fôlego (tenho notícia de uma dissertação de mestrado recém defendida). A reflexão está presente em textos de tom mais ensaístico e há alguns artigos publicados em anais de congressos. A maior parte dos trabalhos em português versa mais sobre o debate político do que a prática jornalística em si.

Aí vão 7 indicações para começar. A partir de cada uma, dá para chegar a outras referências:

  • Deciding What’ True
    Professor na Universidade Winsconsin-Madison, o jornalista Lucas Graves escreveu sua tese de doutorado, defendida em 2013 na Universidade Columbia, sobre fact-checking. Ele estuda três iniciativas pioneiras de checagem nos Estados Unidos, com um capítulo especial contando sua experiência (em primeira pessoa) no PolitiFact, vencedor do Pulitzer em 2009. Para Graves, o fact-checking é um gênero jornalístico estreitamente adaptado ao ecossistema de mídia contemporâneo, uma resposta à fragmentação da vida pública ocorrida nas últimas três décadas e um movimento de “reforma” do jornalismo que parte de um princípio fundamental da ideologia profissional: a objetividade. Dá para fazer download da tese neste link. E dá para comprar o livro pela internet também, só que sai um pouco caro por causa do envio.
  • Fact-checking research database (IFCN)
    No site da International Fact-checking Network (IFCN), rede que reúne iniciativas de verificação do mundo todo sob um mesmo código de princípios, há uma seção com estudos recentes sobre fact-checking, fake news e desinformação. Todos os links são comentados pelos pesquisadores do instituto Poynter, que fazem a seleção.
  • Um estudo de caso sobre o Truco nas eleições de 2014
    O Truco é uma iniciativa de fact-checking ligada à Agência Pública de jornalismo investigativo. A jornalista Desirèe Luíse Lopes Conceição defendeu faz pouco sua dissertação de mestrado em Ciências Sociais na PUC-SP tendo como objeto de estudo o Truco nas eleições de 2014. A discussão tem mais ênfase na participação política do que no jornalismo, mas é a pesquisa brasileira de mais fôlego a que tive acesso até agora.
  • Fact-checking como ferramenta de accountability no jornalismo
    Este artigo da Tatiana Dourado, apresentado em 2016 no 40º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), traz uma abordagem interessante relacionando fact-checking e transparência pública. A Tatiana também é jornalista e faz doutorado na linha de Comunicação e Política do Programa de Comunicação e Cultura Contemporâneas (Póscom) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A tese dela é sobre o debate político nas redes.
  • O papel do leitor nas checagens
    No VII Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores e Comunicação e Política (Compolítica), realizado em 2017 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Deivison de Campos e Ângelo Neckel apresentaram um artigo sobre o engajamento dos leitores com as checagens do Truco durante as eleições municipais de 2016. Você encontra o artigo neste link.
  • Fact-checking e o controle da mentira na propaganda eleitoral
    Mestre e doutorando em Direito na Universidade de São Paulo (USP), o advogado Fernando Gaspar Neisser publicou um artigo sobre o fact-checking como ferramenta de controle da mentira no debate político. Neisser defende uma prática de checagem acadêmica não vinculada institucionalmente à imprensa, mas é interessante ver como pesquisadores de outras áreas veem o tema. O artigo está disponível aqui.
  • Guia prático de fact-checking
    Por fim, indico o Guia Prático de Fact-checking, recém editado pela Pensamento.org. A Pensamento é uma ONG de jornalismo e direitos humanos com sede em Porto Alegre que lançou há pouco tempo uma vaquinha virtual para desenvolver seu braço de checagens, o Filtro Fact-checking. Sou uma das fundadoras dessa iniciativa. O Guia Prático de Fact-checking traz resultados preliminares da minha pesquisa de doutorado em Comunicação na UFRGS, na qual estudo o jornalismo de verificação no Brasil. Este e-book foi concebido como material didático para as oficinas de checagem do Filtro, é uma carta de princípios da nossa iniciativa e pode servir como referência tanto para jornalistas que pensam em desenvolver iniciativas semelhantes quanto para professores de jornalismo que queiram inserir essa temática em suas aulas. O Guia é uma das recompensas da nossa vaquinha, mas tem uma prévia aqui.

Antes de concluir, queria dizer que o pessoal do Brio Hunter também tem uma lista de leituras obrigatórias sobre fact-checking (todas em inglês). No blog do Brio, você encontra a parte 1 e a parte 2. Boa leitura!

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Taís Seibt
Farol Jornalismo

Jornalista diplomada, doutora em comunicação, amadora de vôlei e cantora nas horas vagas