Look do dia : O Nerd veste…H&M

Larissa Henrici
fashionistadobem
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6 min readFeb 1, 2019

A ciência de dados em parceria com uma das maiores fast fashion do mundo

Cristopher Wylie, Denunciante do escândalo das eleições americanas que colocou Zuckerberg de calça curta na corte dos EUA, aponta seus algoritmos para a Indústria têxtil — Tecnologia, política, moda, aquela combinação que dá o que falar.

Você deve estar se perguntando o que o irmão canadense do Felipe Neto nerd da modelagem de dados, pode oferece a H&M?

imagem : https://www.w3qc.org/how-cambridge-analytica-used-millions-of-facebook-profiles-data/

Hoje pela manhã vi a notícia de que a rede fast- fashion sueca H&M, contratou seus serviços de consultoria.

Olhando para ele, podemos dizer que o mundo da moda lhe cai muito bem! No entanto esse rostinho não é frequentador dos bastidores da moda, pelo menos, não era até agora. Você já deve ter cruzado com ele em notícias que não eram sobre cores da estação mas, sobre a polêmica nas eleições americanas, de repente a foto num look mais formal te ajude a lembrar.

https://www.c-span.org/video/?443189-1/cambridge-analytica-whistleblower-christopher-wylie-casts-doubt-brexit-result

Não soube da polêmica? Te dou um dado :

A empresa Cambridge Analytica, foi contratada para a campanha de Trump e foi denunciada por Wylie ex-diretor de pesquisa, por obter indevidamente os dados do Facebook de mais de 50 milhões de norte -americanos. O escândalo levou Mark Zuckerberg à corte dos EUA, — Arrisco à dizer que em umas das cenas mais bizarras em um congresso, (o que anda cada vez mais concorrido). Parlamentares pressionaram o todo poderoso do Facebook, sem terem estudado para o show de perguntas, e Mark em suas respostas vagas sobre perguntas vazias, deixou claro que faz tempo que não coloca a mão na massa lá na empresa e deixa tudo na mão da “equipe” — Talvez ele tenha aprendido com os próprios políticos a governar por whatsapp… só um palpite.

Falando sério, o que aconteceu nas eleições americanas foi um projeto de manipulação de informações para potencializar o comportamento de perfis de pessoas que votariam no Trump, mas a essência desse mecanismo vai muito além, é o uso mais sofisticado das estratégias de marketing, de micro influência e personalização num nível profundo na forma de falar e entender o público-alvo.

O W3GC.org, explica melhor o método “ Cambridge”:

Os passos em que eles acreditavam eram: “precisamos mudar as unidades de cultura, que são pessoas, para mudar a cultura, a fim de mudar a política”.

A essência do plano deles era a criação de uma arma cultural, destinada a lutar em uma guerra política. O dinheiro de que precisavam para poder continuar com o prejuízo era fornecido por um bilionário de Nova York; Robert Mercer, que investiu 15 milhões de dólares na Cambridge Analytica.

A estratégia que eles decidiram seguir nesse momento era recuperar dados pessoais de potenciais eleitores americanos e combiná-los com um perfil psicológico. Uma vez feito isso, a Cambridge Analytica seria responsável por analisar esses dados e aplicar a propaganda de micro direcionamento.

A propaganda micro-alvo consiste na criação de propaganda individualizada de acordo com o que cada pessoa pensa, gosta e acredita, com o mesmo objetivo no final. Isso significa que mesmo que eles pudessem me direcionar com base em meu próprio perfil psicológico e, em seguida, segmentá-lo com um diferente seu, o resultado final seria direcionado para o mesmo resultado obtido; nos faz mudar nossa cultura e ideologia em um determinado assunto, pessoa ou partido político.

Em resumo: moldar o pensamento das pessoas, com argumentos que pegam nos seus “pontos-fracos” . Assim, elas irão percorrer um caminho individual que no final leva ao mesmo destino, concordando com a mesma coisa.

Nas eleições brasileiras o mesmo fenômeno aconteceu, mas em diferente plataforma.

Onde entra a moda no contexto de tal política?

Eu gosto muito da definição mais matemática da moda, que simplifica todas as teorias sociais sobre ela: Moda é repetição.

Em estatística, moda é uma das medidas de tendência central de um conjunto de dados, assim como a média e a mediana. Ela pode ser definida em moda amostral e populacional — Google.

Esse caminho facilita o entendimento da ligação de Wylie e H&M nesse momento. Mapear os números da moda.

O site Business of Fashion já tinha soltado a notícia no final do ano passado, mas essa semana foi confirmada a investida da fast-fashion que anda com grandes problemas de estoque, sendo que ano passo atingiu sua maior marca, arrebatadores 4.3 bilhões de dólares.

Haja cheque especial para esse errinho no orçamento né!?

A tarefa do rebelde digital é trazer para a marca maior conhecimento sobre seus clientes, para poder otimizar sua cadeia de suprimentos e oferecer exatamente o que as pessoas desejam ao invés de oferecer o que eles “acham” que seu cliente quer.

Com tanta inovação e tecnologia realmente não dá para a moda ficar apostando no consumo como um jogo de cassino. O investimento na produção é muito alto e o retorno vem sem garantias, aos poucos quando as roupas já estão prontas na prateleira, suplicando para serem levadas.

A indústria tem pescado com dinamite e os efeitos tem sido aterrorizantes, desvalorizando a mão de obra, acelerando coleções, queimando literalmente toneladas de roupas como no caso Burberry e a própría H&M.

ativista Livia Fith, demonstrando preocupação que o uso de dados seja direcionado a perpetuar o sistema predador do fast-fashion

Por um lado podemos ficar receosos com essa parceria já que no último emprego o Nerd dos dados usou seus poderes para interesses nada éticos e desastrosos num nível global.Por outro lado no evento BOFvoices, ele declarou “ existem coisas incríveis que podemos fazer com os dados, não precisa ser algo mal”.

Realmente não precisa ser mal, ele mesmo até cita que seus objetivos na moda são orientados à contribuição para a sustentabilidade e ética. O que seria o melhor dos mundos, atender as pessoas em suas REAIS necessidades, extinguir o desperdício na cadeia de produção para poder remunerar de forma justa seus steakholders, utilizando todos os seus recursos de forma assertiva e consciente.

Tendo a dimensão da influência que os meios de comunicação tem de se conectar intrinsecamente à nossa vida, formando o que nos acostumamos à chamar de “bolha”, potencializando seus efeitos pelos canais digitais. É de se preocupar que tipo de bolha pode surgir nessa empreitada.

A frase “ você cria sua realidade”, deixa de ter um contexto de livro de auto-ajuda e passa ser muito palpável ou pior, descobrir que ao autorizar o uso dos seus dados você está dando o direito de uma empresa ou sei lá quem, criar sua realidade… por você.

Será que o futuro seremos convencidos a consumir mais ainda, e estaremos cada vez mais visceralmente manipulados como ratos na rodinha à manter o ritmo de mercado fast-fashion? Ou, os dados serão usados para que o mundo possa construir uma cultura mais positiva, construtiva e sócio-ambientalmente responsável?

Ficamos então à observar o dilema de Star Wars que Christopher está lidando e torcer para que ele fique no lado da Força.

Seguimos na revolução da moda!

fontes :

https://www.bloomberg.com/news/articles/2019-01-30/h-m-hires-cambridge-analytica-whistleblower-wylie-for-ai-work

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Larissa Henrici
fashionistadobem

Sem pretensões. Com mais ideias soltas que lições. Caçadora de cores e palavras, fiz um mochilão de volta ao mundo e não sei bem escrever sobre isso.