Conversas que Conectam

Em tempos de desconexão é essencial para a alma termos conversas que conectam.

Theus Petrovich
UHULL
3 min readOct 20, 2020

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Sim, na era da hiperconexão, estamos desconectados. Mais do que físicamente pela reclusão imposta dada a atual situação do mundo, mas estamos desconectados pelas próprias ferramentas que nos seduzem em conectar cada vez mais.

Pra você o que é estar conectado?

Quando penso conexão me vem olho no olho. Me vem aquela conversa que provoca, me faz perder a fala e pensar um pouco, sabe? Aquela que irrita porque percebo que talvez comece a entender um ponto de vista que fazia tanta força pra discordar. Uma conversa que me faz falar tanto que finalmente me ouço, ouço aquilo que tá lá dentro de mim… Ou ainda aquela que o tempo voa enquanto parece estar perfeitamente parado…

Conversas são pontes, entre os mundos que somos e os outros tantos que nos circundam. Mundos que muitas vezes não conhecemos, e que não precisamos jamais voltar, mas que talvez, naquela breve visita, possamos pegar uma pequena semente de algo e trazer de volta, pra plantar no nosso mundo.

Recentemente me percebi desconectado de mim e das poucas pessoas que importavam, buscando satisfazer uma persona criada pela narrativa da hiperconexão. Mais amigos, mais seguidores, mais curtidas, mais interações, mas mais conexões?

Enquanto dizem que o número de boas e verdadeiras amizades vai de 5 a 15, temos hoje a possibilidades de nos frustrar com até a 1 bilhão de pessoas e suas vidas fictícias na rede das fotos felizes. E ainda ganhamos a possibilidade de vender para nós mesmos a felicidade ininterrupta que não vivemos.

Na história que contamos da busca pela felicidade plena, nós nos blindamos de tudo o que incomoda, tudo o que dói, colocamos numa caixinha num canto escuro e esquecemos que existe. No insta não compartilhamos o dia a dia real, compartilhamos como gostaríamos que ele fosse, postamos fotos de onde gostaríamos de estar, vivemos nostalgias do passado em #tbts e nos desconectamos cada vez mais do aqui e do agora.

O agora que pode doer, o aqui onde tudo pode não estar bem. Mas não falamos sobre isso. Não na rede da hiperconexão. Falamos, talvez, com nossos 5 bons amigos.

Com nossos 5 bons amigos falamos sobre todos os temas, sobre tudo que somos, nossas opiniões mais estranhas, pensamentos que ainda estamos formando e não tem como a opinião deles não influenciar na cosntrução da nossa.

Influenciar, influencers. Lá na rede, seguimos alguns desses, seguimos páginas de coisas que gostamos, que ressoam com quem a gente é, ou quem a gente gostaria de ser, curtimos, engajamos e as redes nos mostram mais disso. Ainda que sigamos fontes com outros pontos de vista, não nos conectamos de verdade com eles. Não nos conectamos com o divergente.

Quantos dos seus melhores amigos discordam profundamente de você em um tema sobre o qual vocês de fato conversam?

Será que estar conectado é somente estar de acordo?

Será que você está conectado com os pedacinhos de si que não gostaria que existissem?

Será que você entende a sua tristeza? Angustia? Posicionamento político? Ambição profissional? Estáconectado com o seu grito e o seu silêncio?

Vivemos numa era de hiperconexão, a todo tempo buscando algum estímulo, nos preenchendo com alguma informação, hiperconectados com o mundo virtual, e talvez desconectados de nós mesmos. Não resta tempo para o silêncio, não resta tempo para no vazio ouvirmos o que borbulha espontaneamente na nossa mente. Não nos permitimos sentir nossas faltas, que no fim, nos fazem nós.

Será que você está realmente conectado com essa série que está assistindo? Ou só não sabe mais o que fazer com o tempo sozinho? Será que essa foto realmente te representa? Ou é só o quer que pensem que você é? Alguém que gostaria de ser? Será que você está conectado consigo? Conectado ao ponto de conseguir arriscar uma conversa divergente? Cruzar essa ponte para um mundo de vistas e crenças tão diferentes, e arriscar trazer algo dali de volta pro seu, arriscar que o novo brote?

Concordantes ou discordantes, acho que é tempo de termos mais conversas, conversas reais, provocativas, vulneráveis, talvez desconfortáveis, mas conversas que conectem.

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