‘O jornalismo se tornou mais importante do que nunca’, diz Juremir Machado

Juremir Machado da Silva fala de sua trajetória, de projetos recentes, da paixão pela profissão e do papel do jornalismo na atualidade

Fernanda Polo
Feature
3 min readNov 1, 2019

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Alguns pôsteres com publicações de trabalhos em francês e lançamentos de livros ilustram as pequenas paredes do gabinete onde Juremir Machado da Silva costuma estar, na PUCRS. O local inusitado escolhido para o encontro se deve à agenda cheia do jornalista, que pouco fica na redação do Correio do Povo. Apaixonado por jornalismo, para ele não faltam palavras para versar sobre a profissão e o seu papel no atual cenário brasileiro.

Para Juremir, a definição fundamental de jornalismo é publicar o que alguém quer esconder. Na época das fake news, o jornalismo se tornou mais necessário do que nunca. Os jornalistas assumem, nesse novo cenário, um papel decisivo e central: “Quanto mais há informação circulando, mais se precisa de jornalistas. Alguém tem de organizar, checar, dar qualidade a essa informação”, declara Juremir. Além disso, para ele, jornalismo é a “expressão do contraditório”, mostrar um ponto e o seu contraponto. Em tempos de transformação das redações, o jornalismo mantém a sua essência ao buscar, verificar e esclarecer informações, apresentando diferentes visões.

“Eu sempre quis ser jornalista”, revela Juremir, que desde pequeno sonhava em trabalhar na área. Como jornalista, sempre seguiu, em sua admirável carreira, a atual tendência do profissional multifacetado, transitando pelos mais diversos meios: rádio, televisão, jornal e até mesmo blog. Trabalhou na Zero Hora, foi comentarista do SBT, possui um programa na Rádio Guaíba e assina colunas diárias no Correio do Povo. Nas áreas de atuação, também diversificou: jornalismo esportivo, político, cultural… “Tenho feito de tudo um pouco”, como ele mesmo define.

Juremir destaca os dois anos que passou em Paris como correspondente internacional para a Zero Hora como o momento mais marcante de sua trajetória. “Ter sido correspondente internacional foi muito bom. Eu pude viajar bastante e ter uma experiência muito intensa de jornalismo. Fazia de tudo um pouco. Um dia fazia economia, no outro dia fazia esporte, no outro política. Foi muito bom, muito forte”, revela. O encantamento com a França é evidente em sua personalidade e em seu próprio escritório. No entanto, considera outros momentos como tendo igual importância em sua carreira, marcada por sucesso e polêmicas. “Todos esses momentos foram muito fortes.”

A entrevista ocorreu em meados de 2018, em um momento bastante significativo para o jornalista, pois, na semana anterior, ele havia se demitido ao vivo de um programa da Rádio Guaíba, por ter sido proibido de questionar o então futuro Presidente da República, Jair Bolsonaro, em uma entrevista. Apesar da polêmica, Juremir continua trabalhando na rádio e no jornal e elogiou a postura da empresa ao compreender sua demanda em sair do programa. No entanto, episódios como esse são ilustrativos de tempos incertos e de “momentos de incógnita” e, para Juremir, cabe ao jornalismo o papel decisivo de fiscal do poder, sobretudo nesta próxima fase que o Brasil estava prestes a entrar.

O jornalista e escritor também comentou sobre o novo livro “1968: de maio a dezembro”, lançado em novembro, do qual é um dos organizadores. O livro marca os 50 anos dos acontecimentos e baseia-se em relatos trazidos por jornalistas que vivenciaram aquela época. Segundo Juremir, o livro “conta a efervescência de maio de 68, um momento de liberação, de explosão, de utopia e de sonho no mundo, especialmente na França, e conta também como foi dezembro. Maio foi luminoso; dezembro foi sombrio, com o endurecimento da ditadura.” O ano foi marcado pela promulgação do Ato Institucional nº 5, que endureceu a ditadura militar no Brasil, bem como por movimentos libertários em outros países. A obra é uma coletânea que relembra um dos principais papéis do jornalismo na sociedade: o de serviço de memória e denúncia.

Em pouco tempo de conversa com Juremir, pode-se perceber que ele ainda preza pelos valores do jornalismo. Seus pontos de vista sobre a profissão se mantêm atuais, e fica claro o porquê de ele ser um dos maiores jornalistas do estado e do país. Sua carreira serve de modelo e inspiração para aqueles que pretendem conquistar e produzir muito como jornalistas. Ele transmite, agora, os ensinamentos de sua trajetória, ao mesmo tempo que descobre e indica os novos caminhos para o futuro do jornalismo.

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Fernanda Polo
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Gaúcha apaixonada por Portugal, estudante de Jornalismo na UFRGS e viciada no TikTok e no Instagram. Amante da escrita.