Cadeiras de rodas de baixo custo são produzidas no IFCE de Maracanaú

Alunos da Engenharia Mecânica constroem cadeiras como trabalho final da disciplina

Bia Sousa
Feed Universitario
5 min readNov 26, 2019

--

Alunos do curso de Engenharia Mecânica do IFCE de Maracanaú produziram para uma disciplina, cadeiras de rodas de baixo custo. A ideia partiu do professor Rodrigo de Freitas, ministrador da disciplina de Resistencia dos Materiais. “Essa ideia surgiu, quando eu estava de carro e vi um cadeirante numa cadeira simples, porém muito deteriorada e mesmo assim a pessoa ainda a estava usando”, continua Rodrigo de Freitas

As cadeiras de rodas surgiram na Grécia Antiga e até hoje servem como auxílio para a locomoção de deficientes. Ao longo dos anos foram se aprimorando, mudando desde os materiais usados para a construção até a forma na qual se locomovem. Antigamente as cadeiras de rodas em grande parte eram movimentadas com as mãos dos cadeirantes, era colocado o impulso nas rodas e elas começavam a se locomover, hoje já se tem cadeiras que são movidas com pensamento.

Engenheiros do instituto de tecnologia École Polytechnique Fédérale de Lausanne, iniciaram o desenvolvimento de um sistema de inteligência artificial que permitirá ao cadeirante que seja tetraplégico, ou seja, não pode se movimentar do pescoço para baixo, que mova a cadeira de rodas com o pensamento. Testes já estão sendo feitos no Centro de Neuroprotéstica do instituto, e começam a ter efeitos positivos, pois o sistema já responde a comandos cerebrais para virar À direita, esquerda e seguir em frente.

No IFCE de Maracanaú, alunos do curso de Engenharia Mecânica produziram para a disciplina de Resistência dos Materiais, cadeiras de rodas de baixo custo, tendo canos de pvc como matéria prima. A turma foi dividida em diversos grupos e cada grupo poderia fazer as cadeiras da forma que de desejasse, porém todas deveriam utilizar o pvc como matéria prima.

O professor da disciplina também sugeriu uma competição entre os grupos, nos quais os critérios seriam: criatividade, peso, velocidade e custo. O grupo vencedor iria apresentar o projeto na SETIN — Semana de Tecnologias Industriais — Edição 2019. Rosiane Xavier, William de Oliveira e Gabriel Sampaio foram os alunos que venceram a competição e apresentaram o projeto no evento, eles contam como foi todo o processo de criação das cadeiras e como pretendem dar continuação no projeto.

“Praticamente todo o material dessas cadeiras foi doado, as rodas foram de cadeiras por meio de doação, os canos foram do almoxarifado do IFCE, o que a gente comprou mesmo foi só essas conexões, pedaços de madeira a gente arranjou também. Mas se a gente fosse construir ela, sem ter nada doado seria por volta de 200 reais, quase 300, isso por conta do valor das rodas, pois são mais caras.” conta Rosiane.

Cadeiras de rodas custam em torno de 300 a 500 reais, isso se falarmos de modelos simples de cadeiras. Esse modelo dependendo do uso do cadeirante, dura pouco, pois questões como o peso e o solo em que a cadeira se locomove são determinantes para a duração do objeto. A produção das cadeiras do grupo de alunos vencedor custou menos do que o preço mínimo de uma cadeira simples no mercado, fator positivo no projeto de Rosiane, William e Gabriel.

Sobre a pretensão para o futuro sobre o projeto, os alunos tem o desejo de dar continuidade para além da disciplina. Relatam que alguns fatores ainda precisam ser ajustados, como a questão da durabilidade, a qual ainda é uma incógnita para os alunos.

“Fazer essas cadeiras de baixo custo para futuramente transformar em um projeto, e realmente entre nós, gostamos muito da experiência. A gente ainda não conseguimos distribuir para outras pessoas, mas pensamos em transformar em um projeto de extensão, estamos pesquisando mais sobre o assunto, para fazer cadeiras que contenham até outros aspectos, que a gente não estudou a questão da durabilidade.”

O professor Rodrigo de Freitas pensou em toda a logística do trabalho. Seriam em etapas que consistiam em: pensar no projeto, colocar no papel e fazer os cálculos e partir para a execução. “Esse trabalho foi passado no início do semestre para ser entregue no final, como a última nota da disciplina. Fico muito feliz pois todos conseguiram entregar projetos criativos.”

Gabriel conta que para a competição as cadeiras deram certo, porém foram questão de minutos de manuseio das cadeiras, então seriam necessários mais testes sobre elas. Outra questão levantada pelo aluno foi o fato de que mesmo com poucos minutos sendo usadas, as cadeiras apresentaram alguns problemas, como por exemplo: a cadeira que aguentou 150 quilos, não conseguiu se locomover da mesma forma que estava antes de ser testada.

“Então a gente testou com 150 quilos, andou mas depois a gente foi testar de novo e mal conseguia andar, porque ela meio que tinha arriado, e até porque a gente os estudos, todo o relatório de esforços de flexão, torção aí ela vai aguentar, mas quando ela vai andar de repente tem alguma coisa que impede. A situação ideal é bem diferente do real, e tem várias questões também, andando num piso plano é bom, mas no piso real que há buracos, ela tem um mal desempenho. Mas isso é que a gente tem que estudar e aprimorar mais futuramente.” Completa William sobre a produção das cadeiras.

Com a decisão de prosseguir com o projeto na busca de aprimoramento para as cadeiras, os alunos podem estar criando uma boa saída para pessoas com deficiência que não conseguem ter uma cadeira em boa qualidade pelo alto preço a se pagar por elas. Jardel Braga, 34, ficou paraplégico em 2011, conta que desde o acidente que precisa do auxílio de cadeira de rodas e que em razão de pisos esburacados, ou até mesmo na terra batida, as cadeiras não duram muito e para trocar se torna caro, pois ele recebe apenas um salário mínimo do governo e que boa parte do dinheiro vai para os remédios.

“Fiquei sabendo desse projeto porque meu sobrinho estuda no IFCE. Fiquei com esperanças de se tornar real, porque essas cadeiras podem ser mais baratas e até mesmo melhores que as que uso hoje.” conta Jardel sobre o projeto

O projeto de cadeira de rodas de baixo custo dos alunos do curso de Engenharia Mecânica, mostra uma alternativa a cadeirantes que não podem possuir uma cadeira de rodas de boa qualidade. O projeto ainda é amador, porém tem chances de ser continuado até virar realidade .

--

--