Companhia de dança Arreios: Um resgate da cultura no interior cearense

Anna Ruth Gordiano
Feed Universitario
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3 min readDec 8, 2019

O grupo de jovens da cidade de Trairi- CE que revolucionaram a maneira de fazer arte, levando a dança para a cidade

Espetáculo Tambores, em 2000.

A companhia de dança Arreios surgiu de uma iniciativa tímida, porém corajosa, de jovens do interior que amavam dançar. No ano de 1998, no distrito de Gualdrapas da cidade de Trairi, Antônio Alves e mais quinze jovens, muitos deles filhos de agricultores da localidade começavam uma trajetória encantadora de uma paixão que se tornaria profissão. Seus espetáculos contam a história da própria comunidade, que a cada apresentação se tornam muito mais que uma companhia, mas uma escola de dança que transforma a vida de muitas crianças e adolescentes.

Antônio Alves, 44, é diretor da companhia Arreios, especialista em Artes pela Universidade Estadual do Ceará, produtor de dança e responsável também pelo Festival de Dança do Litoral Oeste e Bienal de Dança. Ele trabalha na área há mais de trinta anos, resistindo as dificuldades e insistindo em lutar pela cultura local. “Começamos sem estrutura, sem oportunidades, sem perspectiva de continuação daquilo que a gente fazia com tanto prazer, leveza, suavidade e com tanto amor. Quando eu falo que fazer dança não é fácil, eu falo também pelo fato de que moramos no interior e as oportunidades que temos são poucas, na maioria das vezes os produtos que produzimos, após apresentar uma ou duas vezes, são engavetados. E isso me incomoda profundamente, porque são trabalhos de muita qualidade e técnica, de profissionais da dança. Falta patrocínio, espaço, enfim. São tantos outros problemas que a gente vem driblando todos os dias. ” Relata, Antônio.

Espetáculo Vila do Livramento, em 2004.

O diretor da companhia conta também como é especial construir espetáculos que falam da própria comunidade e valorizam a cultura de seu povo. Ele fala que o objetivo era simplesmente fazer dança, levar a oportunidade para esses jovens e criar a possibilidade de dias melhores através dessa arte. “Eram filhos de agricultores, meninos que saiam da roça, deixando suas enxadas, suas cabaças e seu descanso para ir dançar! E eu lembro de tantas alegrias porque eles esqueciam a fadiga do sol a pino do dia a dia pra ir dançar com a gente. Quando nós estreamos o “Seu Zé”, nosso primeiro espetáculo, foi encantador. Nós falamos da comunidade e ela aplaudiu de pé. Esse foi um divisor de águas pra nossa vida. ” Relatou.

Antônio Alves e os agricultores no espetáculo “Seu Zé” em 1999.

A bailarina Karine Sousa, 33, que também é filha da terra de Trairi, é formada em dança pelo Porto Iracema das Artes e fala um pouco sobre sua experiência. “Eu danço desde pequenininha, sempre quis ser professora de dança. Então dava aulas na minha comunidade mesmo, juntava os amigos na rua pra poder montar danças e se apresentar. ” Karine também conta como entrou para a companhia e a importância disso em sua vida. “Foi por conta disso que o Antônio Alves me falou da companhia, e em 2008 eu passei a fazer parte e trabalhar profissionalmente [..] Meu sonho é que cada vez mais as pessoas se sintam contagiadas pela arte através da dança. Eu acredito muito no poder transformador disso, e minha motivação é o amor. Porque não é fácil viver de dança no Brasil. A Arreios faz parte diretamente da minha vida, porque eu sou a companhia, eu também construí essa história e é um trabalho constante. ” Conclui Karine.

Companhia Arreios no Festival de Dança do Litoral Oeste, em 2018.

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