Na semana de comemoração a data da Consciência Negra. Estamos conscientes sobre as ações afirmativas e inclusão nas Universidades?

Anna Ruth Gordiano
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3 min readNov 26, 2019

Uma população que ainda vive sob o reflexo de uma cultura de discriminação e preconceito enraizada ao longo dos séculos

Zumbi dos Palmares

Na última quarta-feira (20/11), o Dia da Consciência Negra foi comemorado em todo o território nacional. Em memória ao dia da morte de Zumbi dos Palmares. A data foi oficializada somente no governo de Dilma Rousseff através da Lei nº 12.519 de 10 de novembro de 2011. Desde então várias leis de inclusão e ações afirmativas foram criadas com foco no acesso das minorias à educação. Mas será que estabelecer essas medidas é o suficiente para solucionar o problema?

Foto: Edson Júnior Pio

A abolição da escravidão no Brasil foi há cento e trinta e um anos, mas as marcas deixadas em mais de três séculos de exploração ainda não foram reparadas. O deputado Renato Roseno, 47, (Psol) abriu o primeiro expediente da sessão plenária da Assembleia Legislativa do Ceará, nesta quarta-feira (20/11). “O racismo já é uma condição arraigada à estrutura do ser social brasileiro. Esse perfilamento racial não é obra do acaso. É uma construção social histórica profunda. Temos que assumir essa constituição segregada e lutar por políticas afirmativas e equitativas em todos os setores da sociedade”, defendeu.

Universidade Federal do Ceará

O sistema de cotas foi regulamentado no Brasil em agosto de 2012 através da Lei n° 12.711. Mas muitos jovens que se autodeclaram pretos e pardos, continuam sem acesso à universidade. Segundo a professora de história Maria Auxiliadora Barbosa, 56, existe uma desigualdade educacional muito forte entre ricos e pobres, negros e brancos. “O problema surge de muitas outras questões sociais que se iniciam desde o sistema básico de educação, que não atende as necessidades de inúmeras famílias, com renda mensal inferior a um salário mínimo, e que não podem oferecer uma educação melhor aos seus filhos. ”

A jovem Maírla Alencar da Guia, 19, sempre estudou em escola pública no interior e hoje mora em Fortaleza em busca de oportunidades nos estudos e trabalho, mas teve que deixar a faculdade particular. Hoje a jovem está grávida de três meses e apenas trabalhando, mas afirma não perder a esperança nos estudos. “Tive muitas dificuldades nos meus estudos. Não tinha acesso à internet na minha escola, nem os livros para estudar e minha família não tinha como me dar. Além disso, tinha que ajudar meus pais em casa, e nem sempre podia ir pra escola. Tudo influenciou para que hoje eu ainda não tenha conseguido passar em uma universidade pública e infelizmente não tenho condições de continuar pagando uma particular. ” Relatou, Maírla.

A jovem Maírla Alencar

O deputado Renato Roseno falou ainda, em entrevista exclusiva para esta reportagem, sua perspectiva sobre o papel do legislativo na busca de soluções. “O legislativo tem obrigação de fazer leis, para que essa desigualdade seja combatida e as políticas públicas de inclusão implementadas. E em segundo plano, tem que ser o palco de repúdio ao racismo. Mas o que lamentavelmente tem acontecido nos parlamentos brasileiros é a negação da existência do racismo. O Brasil nunca foi uma democracia racial, isso é um mito. Inclusive sempre houve uma invisibilidade e uma certa legitimação do racismo”, conclui.

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