Tipos de microfone: suas diferenças e aplicações no áudio

Fábio Mazzeu
Feedgurus
8 min readJun 8, 2017

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Se alguém te der um microfone de qualquer tipo e mandar gravar algo, dá pra fazer?

A resposta sempre tem que ser “sim”. Mas por quê? Porque quando você conhece as características de um microfone, você sabe exatamente o que precisa fazer para tirar o som esperado, mesmo que seja necessário usar outros equipamentos em complemento.

Sério, qualquer tipo de microfone serve para qualquer coisa. As baterias do Van Halen eram gravadas com microfones dinâmicos (como o Shure SM57/58) considerados baratos em todas as peças (inclusive no bumbo). Ou seja, sem desculpas!

Hoje, vamos falar sobre os tipos de microfone mais usados no áudio e suas principais aplicações. Para isso, dividi o post em 3 partes (você pode clicar para ir diretamente na seção):

Não se engane, para dominar a arte da microfonação você precisa conhecer os três aspectos 😉 Vamos lá!

Padrão de captação (polaridade)

O padrão de captação de um microfone (ou polar pattern) define como o microfone capta o som à sua volta. É a forma de mostrar como o mic “escuta” os sons, quais posições estão bloqueadas e quais têm a melhor captação.

Vamos ver cada um deles!

Cardioide

O cardioide é um dos tipos mais comum de padrão de captação. Ele capta tudo que está logo à frente do microfone, e rejeita o que está na parte de trás.

O microfone cardioiode costuma ser ideal para performances ao vivo, ou para captar fontes que precisam rejeitar bastante o vazamento de outros instrumentos (como tons e surdos de bateria, que precisam rejeitar o vazamento dos pratos).

Super/hiper cardioide

O super (ou hiper) cardioide é uma versão turbo dos cardioides. Eles têm a área de captação ainda mais reduzida que os cardioides, e rejeitam bastante os sons que não estão exatamente à frente do microfone.

Porém, o lado negativo é que a 180o da cápsula do mic (ou seja, atrás) ocorre um leve vazamento por causa do ângulo reduzido.

Omni

Os microfones omnidirecionais são aqueles que captam em 360o. Ou seja, ele capta tudo que está a sua volta! Ele é excelente para captar detalhes e nuances, mas, obviamente, não tem nenhuma rejeição de sons indesejáveis. Pode ser usado para gravar coros, ou até mesmo para captar a sala em uma gravação de bateria.

Uma aplicação comum dos microfones omni é para a medição da performance acústica de salas, já que ele tem uma “visão” completa das reflexões da salas.

Figura 8

Os microfones de figura 8 são beeem interessantes. Eles captam todos os sons que estão à frente ou atrás do microfone, rejeitando o que está dos lados. É uma aplicação bem legal para fazer um overhead de bateria (e captar reflexões da salas) ou para gravar duas pessoas conversando (em um podcast, por exemplo).

Shotgun

Os microfones Shotgun são muito famosos no mundo da televisão. Sim, são aqueles microfones gigantes que ficam acima da cabeça dos atores. Eles possuem um padrão de captação extremamente direcional, e rejeitam os sons vindos das laterais através do cancelamento de polaridade (ou de fase).

Tamanho do diafragma

Agora que você já sacou os padrões de polaridade usados nos microfones, vamos entender o que é o diafragma e porque ele é importante para escolher o tipo de microfone certo.

O diafragma é um material (geralmente fino e sensível) que se move ao entrar em contato com o som. Essa vibração transforma energia cinética (criada pelo movimento) em energia elétrica. E assim é formado o sinal sonoro que ouvimos. 😉

O tamanho do diafragma afeta a sua capacidade de lidar com a pressão sonora, sua sensitividade, alcance de frequência e nível de ruído interno.

Pequeno

Microfones com diafragma pequeno são conhecidos como pencil mics, por causa do seu tamanho reduzido e formato cilíndrico. Seu design compacto permite que ele seja mais leve, além de ser facilmente posicionado.

Curiosamente, microfones de diafragma pequeno são desenvolvidos para aguentar pressões sonoras elevadas e entregar um alcance de frequências mais amplo.

Captar violões, chimbal e overheads são algumas das principais aplicações dos pencil mics. As principais limitações de microfones com diafragma pequeno é o alto ruído interno e a baixa sensitividade ao som.

Médio

Os microfones com diafragma de tamanho médio são considerados híbridos. Eles possuem o som “cheio” e warm dos microfones de cápsula grande (vamos falar sobre eles já já), mantendo a sensibilidade a agudos que os mics de cápsula pequena possuem.

Esses mics são modernos (e relativamente recentes) e estão ganhando espaço tanto ao vivo, como em estúdios. Porém, você pode priorizar outros tipos de microfones se estiver no começo de um novo home studio ou montando uma nova casa de show.

Grande

Quanto maior for o diafragma de um microfone, mais sensível ele é às vibrações do ar, o que significa que mais detalhes serão captados pelo microfone.

Ao contrários das cápsulas pequenas, que são mais rígidas, os mics de cápsula grande (ou cápsula larga) se movem facilmente e captam facilmente pequenas variações na pressão sonora vinda de uma fonte. Isso é traduzido em um som mais transparente e natural.

Essa fidelidade tornou os mics de cápsula larga um dos tipos de microfone mais usados dentro de estúdios. Eles são aplicados em basicamente qualquer coisa, desde tons e bumbo de bateria, até vocais e instrumentos acústicos.

Tipos de microfone

Os tipos básicos de microfone podem ser colocados em três categorias:

  • Dinâmico;
  • Condensador;
  • Ribbon (de fita).

Cada um deles tem características próprias e podem ser usados em diferentes situações. Vamos conhecer mais sobre cada um deles.

Dinâmico

O microfone dinâmico é o que você mais vai ver na vida. SM58, 57, MD421, Samson Q7 e várias outras figurinhas carimbadas de estúdios de ensaio e gravação são microfones dinâmicos. Eles aguentam pressões sonoras elevadas e são muito usados em instrumentos “altos”.

O SM57 é um clássico para gravar caixa de bateria e microfonar guitarras. O MD421, da Sennheiser é muito usado em tons e surdos, e o SM58 deve ser o mic de vocal mais usado na face da terra. Isso acontece porque o diafragma dos microfones dinâmicos são formados por uma bobina magnética móvel, que é resistente a altas pressões sonoras (SPL, Sound Pressure Level).

Se você procura por um tipo de microfone versátil, então o dinâmico é a melhor opção. Uma grande característica dos microfones dinâmicos é rejeitar sons que estejam além do ângulo de captação, o que é muito bom para situações ao vivo ou em gravações onde é preciso rejeitar outros vazamentos (como pratos de bateria, por exemplo).

Condensador

Microfones condensadores possuem um diafragma diferente dos dinâmicos. O diafragma é fino e conductivo, situado próximo a uma fina placa de metal.

Esse sistema funciona como um capacitor eletrônico, onde a pressão sonora faz o diafragma vibrar, e ele converte a sua capacitância (quantidade de energia elétrica acumulada, ou capacidade de acumular energia elétrica) em áudio. Ficamos meio técnicos agora, né 😛

Como o mic condensador utiliza a capacitância ao invés de uma bobina eletromagnética (como o microfone dinâmico) o som captado é mais fiel ao original.

Uma das grandes diferenças do microfone condensador é que ele precisa de energia para funcionar. Como o capacitor, ele precisa ser “carregado”.

Então, esses mics precisam da famosa phantom power. O PP é uma corrente elétrica de 48v utilizada pra componentes eletrônicos ativos (ou seja, que precisam de energia para funcionar).

As duas principais funções do microfone condensador no mundo do áudio são para a gravação de voz em estúdios, e também como microfones de overhead para a bateria.

Ribbon (de fita)

Os microfones de fita eram muito populares nos anos 50 e 60, principalmente nas emissoras de rádio. O seu diafragma possui uma fina fita de metal, que não capta apenas a movimentação do ar (causada pela fonte sonora) mas também a velocidade com que o ar se movimenta.

Isso permite que os microfones ribbon tenha uma alta sensitividade a agudos, sem a “aspereza” de outros microfones.

Os microfones de fita têm aquele famoso “som vintage” que muitos procuram ao gravar. Atualmente, eles voltaram às graças de muitos produtores. Em grande parte, isso é devido ao aumento na resistência dos mics, que sempre foram muito sensíveis.

Curiosamente, esse é um microfone com várias aplicações. Ele pode ser muito bem usado para “colorir” algo. Eu gosto bastante de usar ribbons como microfones de sala para gravar bateria, e também para captar amps de guitarra.

Um segredo que muitos caras usam é somar um microfone de fita com um dinâmico (como o SM57) para gravar guitarra. Fica animal!

Agora que você já sabe quais são as características de cada tipo de microfone, vai ficar fácil escolher o mais adequado para qualquer situação!

Mas o mais divertido aqui é experimentar. Quando estiver gravando, teste, tente, invente e encontre combinações inesperadas. É daí que vem os melhores sons. 🙂

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Publicado originalmente em fabiomazzeu.com.

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