Feminismo & Maternidade : prólogo
Alguns pressupostos para os textos que virão, em partes, a seguir.
Não sei de quantas partes vou precisar pra explicar meu raciocínio. Só sei que essa é a primeira. Pode ser que o negócio todo fique longo, pode ser que fique curto. Peço paciência. Antes de começar, exercito a minha própria, porém, explicando alguns pressupostos básicos que achei por bem explicitar:
(i) Este não é um debate sobre você, nem sobre mim. Não é um debate sobre a sua experiência de maternidade, nem sobre a minha (lembrando que, tendo nascido, e vivendo nessa sociedade, todxs temos experiências de maternidade em alguma das inúmeras ‘pontas’ do conceito).
(ii) Este é um debate sobre uma ideia - “maternidade” - e sobre a forma como ela se apresenta e se articula na nossa estrutura social (leiam esse “nossa” como sociedades capitalistas globalizadas de cultura ocidentalizada).
(iii) Chamamos de “estrutura”, na sociologia, grosso modo, o conjunto de pressupostos, regras, ideias, visões de mundo, categorias e conceitos, que organizam e produzem socialmente as pessoas, grupos, identidades, instituições, comportamentos.
(iv) Este é um debate sobre o feminismo que, como todo movimento social, procura refletir, discutir e disputar mudanças justamente nessa estrutura. No caso do feminismo, a preocupação central é com a camada estrutural a que chamamos “gênero”.
(v) “Gênero” não é entendido aqui como apenas a “construção social” sobre um “fato biológico” (nascer com pênis ou vagina), mas o sistema de categorias, classificações e hierarquizações que regulam e normatizam a construção da identidade a partir do corpo, do comportamento e de práticas sexuais. A quem interessar possa (não é necessário para entender as demais partes do texto), me pauto sobretudo (mas não apenas) nas elaborações teóricas de Gayle Rubin, Michel Foucault e Judith Butler.