Quatro dias de Fiup
Vou precisar de um tempo para assimilar tudo que vi, escutei e senti ao longo de quatro dias de Festival União dos Povos Indígenas, que rolou em Mogi das Cruzes entre 16 e 19 de junho, quatro dias de intensa programação.
Que privilégio assistir ao lançamento da pré-candidatura de Sônia Guajajara a deputada federal em um palanque histórico — ainda outra candidatura de peso representando os povos originários será anunciada em breve.
Que lucidez e quanta clareza, aliados a dados, inteligência e tecnologia acumulados por lideranças como Dario Kopenawa Yanomami, na luta pela demarcação de terras, pelo controle de nossas fronteiras, contra o crime organizado e retrocessos na lei, atuando como guardiões da mata. Afinal, enquanto os povos indígenas do mundo correspondem a 5% da população, eles são responsáveis pela preservação de 82% da biodiversidade do planeta.
Que alegria conhecer tantos jovens escritores como Julie Truduá Dorrico, que, seguindo os passos do incansável guerreiro Daniel Munduruku (com 54 títulos publicados em 28 anos de carreira literária), estão assumindo a pena e mostrando para o mundo — em português da melhor qualidade — versões fidedignas da cultura, dos modos e valores de seus povos, bem distantes do olhar colonial, raso, estereotipado e desumanizante com que nossos nativos sempre foram retratados na ficção.
Que deleite conhecer o trabalho e a jornada do brilhante DJ Eric Terena, que mesmo ao largo dos grandes festivais nacionais nesta semana se torna o segundo artista brasileiro da história a se apresentar no Glastonbury com seus mixes de eletrônico, rap, cantos de rezo e mensagens de protesto. Paralelamente, no esforço de suprir a completa falta de indígenas na grande imprensa, ele se mantém na linha de frente do Mídia Índia.
Que dádiva receber a medicina sonora de vozes potentes como a de Kenewma, além dos sopros ancestrais e da sabedoria de Catarina Tupi Guarani e do cacique Txana Ikakuru Huni Kuin.
E que honra colaborar com um projeto especial e necessário como FlorestaTV (segue lá e se inscreva no YouTube).
Vida longa à Fiup, o futuro será feminino, indígena e ancestral!