O CENÁRIO DA CONVOCAÇÃO OLÍMPICA DO ‘TEAM GB’

Amanda Viana Silva
De Primeira — Futebol Feminino
10 min readMay 26, 2021

Popularmente conhecido como ‘Team GB’, o Time Olímpico da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte é composto pelos seguintes países: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Diferentemente da Copa do Mundo onde temos cada nação citada competindo separadamente, na Olimpíada esses territórios se “unem”, sendo considerados uma única equipe olímpica.

Divulgação oficial/Team GB

Trazendo nosso foco para o Torneio Olímpico de Futebol Feminino que acontecerá no próximo mês de julho em Tóquio, o ‘Team GB’, sorteado no grupo ‘E’ juntamente com o anfitrião Japão, o Canadá e o Chile, é forte candidato à conquista de uma medalha olímpica. Mas para tratarmos dessa equipe é necessário contextualizarmos a situação da Seleção Inglesa de Futebol, já que por estar melhor ranqueada que as outras nações que compõem o time olímpico (atualmente está em 6º no ranking da FIFA — Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte estão, respectivamente, em 23º, 32º e 48º), tende a formar grande parte da base da convocação.

As quatro nações acordaram antes da Copa do Mundo de 2019 a tentativa de levar o Time Olímpico da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte à Tóquio. Para isso ficou decidido que, por estar à frente no ranking, a Inglaterra tentaria buscar a classificação. As Lionesses, como conhecidas, performaram bem no Mundial e terminaram em 4º lugar, garantindo, assim, a vaga olímpica. Isso se deu porque ficaram posicionadas entre as 3 melhores seleções da UEFA na Copa (atrás apenas de Holanda e Suécia). A última participação do ‘Team GB’ tinha sido em 2012 por ser sede (Londres). Em 2016, no Rio de Janeiro, acabou ficando de fora — a classificação, no caso, poderia ter acontecido, visto que a Inglaterra terminou a Copa do Mundo de 2015 em 3º lugar, estando em zona de qualificação. Mas, mesmo antes do evento acontecer, não houve acordo entre as 4 nações pela vaga, abrindo mão, assim, da participação nos Jogos.

Com a classificação assegurada, a seleção inglesa começou a projetar a Olimpíada e o plano era ter seu treinador, Phil Neville, na condução do ‘Team GB’. Vivendo um pós-Mundial conturbado, o time sofreu com atuações pobres, resultados não satisfatórios e a falta de evolução. Bastante contestado no comando, Neville anunciou em 2020 que deixaria o cargo no final de seu contrato com a FA (julho de 2021). Graças ao adiamento dos Jogos Olímpicos devido à pandemia do coronavírus, a posição de treinador do ‘Team GB’ ficou em aberto. Caso a competição ainda ocorresse em 2020, o comandante (provavelmente) seria Neville, mas pelas circunstâncias (adiamento para 2021) ele deixou de ter a vaga garantida. A Federação Inglesa se mexeu rápido para preencher o cargo de técnica de sua seleção contratando a holandesa Sarina Wiegman, porém, por ainda ter compromissos com seu país natal, ela só assumirá em agosto de 2021. No início de 2021, Neville anunciou sua saída antecipada como treinador por ter aceitado uma proposta para dirigir o Inter Miami, clube dos Estados Unidos que disputa a Major League Soccer. Com isso, além da vacância do cargo para conduzir o time olímpico, surgiu-se outra na seleção inglesa. Em fevereiro de 2021, a norueguesa Hege Riise assumiu interinamente o comando da Inglaterra, sendo, um mês depois, confirmada como treinadora do ‘Team GB’ para a disputa da Olimpíada.

A equipe inglesa teve sua preparação prejudicada, especialmente em 2020, muito por causa dos efeitos da pandemia. Em virtude das diversas proibições de circulação e abertura de locais, as Lionesses não conseguiram realizar amistosos no ano, se limitando apenas, quando possível devido à logística e aos protocolos, a treinamentos internos. Já sob o comando de Riise, a equipe conseguiu realizar seu primeiro jogo em fevereiro (vitória contra a Irlanda do Norte) depois de quase um ano, disputando outros dois (derrotas para França e Canadá) na Data Fifa do último mês de abril.

Passada essa construção temporal sobre a seleção inglesa, vamos à situação do ‘Team GB’. A FIFA exigiu a cada participante dos Jogos Olímpicos o envio de uma lista prévia com 50 atletas para formarem a futura convocação. No início do mês de março, já sob a responsabilidade de Riise, essa lista foi reduzida para 35 nomes, dos quais sairão as 18 representantes do time olímpico, além das 4 alternates (suplentes). A treinadora confirmou — na Data Fifa do mês de abril — que 26 jogadoras inglesas estão nessa pré-lista, sendo elas:

· Goleiras: Ellie Roebuck; Sandy MacIver; Carly Telford; Karen Bardsley

· Defensoras: Lucy Bronze; Rachel Daly; Niamh Charles; Leah Williamson; Millie Turner; Millie Bright; Lotte Wubben-Moy; Demi Stokes; Alex Greenwood; Steph Houghton

· Meias: Fran Kirby; Georgia Stanway; Ella Toone; Jill Scott; Jordan Nobbs; Keira Walsh

· Atacantes: Lauren Hemp; Chloe Kelly (lesão*); Beth England; Ellen White; Beth Mead; Nikita Parris

Assim, restam 9 vagas para atletas não-inglesas, ou seja, da Escócia, do País de Gales ou da Irlanda do Norte. A comandante, porém, não revelo oficialmente nenhum desses nomes, mas tentarei especulá-los aqui:

· Defensoras: Rachel Corsie (Escócia); Jen Beattie (Escócia/lesão*)

· Meias: Kim Little (Escócia); Caroline Weir (Escócia); Erin Cuthbert (Escócia); Sophie Ingle (País de Gales); Jess Fishlock (País de Gales)

· Atacantes: Lisa Evans (Escócia/lesão*)

· Sobra 1 vaga que seria provavelmente de uma jogadora da Irlanda do Norte, mas como não conheço, prefiro não chutar aqui.

*Jogadoras que estão, atualmente, lesionadas, mas não estavam nessa situação no momento do envio da pré-lista.

O fato de Hege Riise ser uma “comandante dupla” nessa situação é mais um aspecto que contribui para que boa parte das selecionáveis sejam Lionesses. Como a preparação não foi a ideal e a convocação será realizada sem que o time olímpico tenha tido algum contato conjunto em treinamentos, parece mais lógico que a comissão técnica opte por mais inglesas, mas também, ao compor com as jogadoras de outra nacionalidade, enxergue as conexões pré-existentes entre as atletas nos clubes que defendem.

Em entrevista coletiva no último mês de abril, Riise declarou que todas as jogadoras participantes da pré-lista estavam cientes das expectativas sobre elas, considerando a versatilidade e a resiliência física e mental fatores importantes para a chance de sucesso do ‘Team GB’. Além disso, a comandante afirmou que as qualidades em questão seriam necessárias para fazer face às exigências do campeonato, tendo em vista a elevada frequência de partidas em um curto período de tempo (assunto detalhado na primeira matéria da “Série Olímpica” — “O Torneio Olímpico de Futebol e suas peculiaridades”).

Pensando agora na escolha das 18 atletas, uma divisão mais básica de setores seria: 2 goleiras, 6 defensoras, 5 meias, 5 atacantes. No entanto, com a ausência da Chloe Kelly (lesionou LCA do joelho direito), vejo uma chance mais provável de irem 6 meias e 4 atacantes. Ao observarmos as opções selecionáveis inglesas, inferimos pela qualidade dos nomes disponíveis que as goleiras, as defensoras e as atacantes sairão todas, muito provavelmente, dessa gama de atletas. Logo, restariam as vagas de meio-campistas para mesclar entre inglesas e não-inglesas — o meio-campo (principalmente o meio defensivo e central) é o setor mais carente das Lionesses e, por sorte, é o setor mais forte de opções de jogadoras não-inglesas que podem ser um encaixe perfeito nesse elenco.

Vamos tentar entender então, por alto, como eu imagino que se encontra o cenário de cada setor:

1- Goleiras:

* Ellie Roebuck, que fez temporada muito boa pelo Manchester City, é uma certeza e deve ser a titular da equipe nos Jogos.

* A outra vaga deve ficar entre Carly Telford e Karen Bardsley, muito pelo fator experiência, já que imagino uma reticência de Riise em levar 2 goleiras inexperientes em grandes torneios de seleção. Telford atuou muito pouco pelo Chelsea (não passou a melhor das impressões e foi figura determinante na única derrota do time na Women’s Super League — WSL). Bardsley tem atuado mais agora que está no OL Reign e vem tendo um rendimento ‘ok’ nos Estados Unidos, porém deixou má impressão na última derrota da seleção inglesa contra o Canadá.

* Sandy MacIver, jovem muito promissora e que fez boa temporada pelo Everton, deve ir como alternate.

2- Defensoras:

* Lucy Bronze, Steph Houghton (única preocupação aqui é que terminou a temporada com uma lesão no tendão de Aquiles, mas se estiver bem fisicamente, vai), Millie Bright e Leah Williamson são certezas. Formam a base defensiva do time e já possuem experiência em grandes eventos.

* Restando 2 vagas, imagino que uma delas será de lateral esquerda (Demi Stokes ou Alex Greenwood, ambas com boa experiência) e outra de jogadora versátil (Lotte Wubben-Moy — faz lateral e zaga; Rachel Daly ou Niamh Charles — fazem lateral e posições de ataque).

· Stokes é mais ofensiva, porém ficou boa parte da temporada lesionada, sendo, para mim, uma incógnita física. Greenwood fez boa temporada pelo Manchester City (superior à concorrente), tendo a versatilidade de jogar, também, na zaga (seria a minha escolha).

· Daly, por ser mais experiente, é favorita sobre Wubben-Moy e Charles, ambas muito jovens ainda e sem participação em grandes eventos pela seleção.

· Rachel Corsie e Millie Turner atuam apenas como zagueiras e não fizeram temporada de grande destaque por Birmingham e Manchester United, respectivamente. As vejo unicamente com chances de ir como alternates, mas acredito que tenham opções melhores para a vaga.

3- Meias:

* Keira Walsh e Fran Kirby fizeram ótima temporada, especialmente a última (considerada MVP da WSL), e são certezas e pilares do time.

* Vejo, aqui, 4 vagas em disputa:

· Kim Little ou Jess Fishlock: se for, vai uma ou outra, não há espaço para as duas por terem perfil parecido. Super experiente, a meia escocesa esteve presente no elenco da Olimpíada de Londres, além de ter jogado a Copa do Mundo de 2019. Teve algumas lesões durante a temporada e não fez um ano de extremo destaque pelo Arsenal, fatores que podem jogar contra. A galesa, que fez ótima temporada na WSL pelo Reading, também tem grande vivência no futebol e um histórico de lesões, porém nunca atuou em um grande evento com sua seleção. Vejo Little em vantagem para uma possível vaga.

· Jordan Nobbs: a apresento nessa ordem justamente por achar que é provável que dispute uma vaga com Little e Fishlock. Nobbs, liderança no elenco inglês, também é propensa a lesão e, assim como a galesa, nunca jogou um grande evento por seleções (perdeu a Copa de 2019 lesionada), fato que pode pesar contra sua convocação. Pode jogar pelos lados também, o que pode contar a seu favor.

· A escocesa Caroline Weir possui experiência em Mundial e fez excelente temporada pelo Manchester City. A canhota pode trazer uma dose de criatividade e obediência tática à equipe. Seria uma escolha minha entre as 18. A imagino indo ao menos como alternate.

· A volante galesa Sophie Ingle vem de ótima temporada pelo Chelsea. Não é tão experiente quanto suas concorrentes, porém traz para a mesa uma versatilidade importante: pode atuar na zaga (e de maneira bem competente). A vejo da mesma forma como a Weir pela vaga.

· Georgia Stanway: jovem, com experiência em Mundial e que pode atuar tanto no meio, quanto no ataque (quebrou-galho no Manchester City como lateral em alguns jogos também). Sua ausência seria uma surpresa.

· Jill Scott: a inglesa é extremamente experiente e uma liderança para o grupo. Se transferiu para o Everton justamente para atuar e ter chances de estar na Olimpíada. A vejo abaixo tecnicamente (e talvez fisicamente) do que todas as opções de meio-campistas, porém o fator experiência pode ser vital para que ela consiga a vaga. Aposto que vá, ao menos, como alternate.

· A escocesa Erin Cuthbert fez boa temporada pelo Chelsea, alternando partidas como titular e como reserva. Apesar de jovem, tem experiencia em Mundial e é versátil, podendo atuar tanto pelas pontas, quanto pelo centro do campo. A concorrência é alta, então acredito que tenha mais chances como alternate do que entre as 18.

· Ella Toone, jovem meia ofensiva, fez ótima temporada pelo Manchester United. Muito promissora. Não a vejo na disputa por alguma das 18 vagas. Para mim seria até uma surpresa ir como alternate.

4- Atacantes:

* Ellen White e Lauren Hemp são certezas. A última, apesar de não ter experiencia em grandes eventos, está jogando em altíssimo nível pelo Manchester City, tendo feito uma temporada excelente.

* Nikita Parris: a atacante do Lyon não vem, na minha opinião, de um bom momento pós-Copa. Mas a experiência e o fato de ser versátil (pode jogar pelos lados e pelo centro do ataque) deve contar a seu favor por uma vaga.

* Beth England: não dá para dizer que a centroavante fez uma temporada ruim, mas foi definitivamente abaixo da de 2019/2020. Graças ao encaixe perfeito de Harder-Kerr-Kirby no ataque do Chelsea, England acabou perdendo espaço como titular e amargou o banco na reta final da temporada. O que pode jogar contra ela: não é tão experiente quanto a White e não tem, por exemplo, a versatilidade da Parris. Será que a Hege Riise enxerga duas camisas 9 entre suas 18?

* Beth Mead: apesar de também quebrar um galho pela lateral, acho que a ponteira não tem chances nem de pegar uma vaga de alternate. Fez uma temporada bem abaixo pelo Arsenal.

Para finalizar, torna-se necessário um destaque. Antes do fechamento desse texto, o veículo The Athletic soltou na última segunda-feira, 24 de maio, uma matéria contendo um furo com nomes que estariam presentes na lista final do ‘Team GB’. Dentre as 18 estariam: Karen Bardsley, Ellie Roebuck, Caroline Weir, Kim Little, Jill Scott, Steph Houghton, Fran Kirby, Demi Stokes, Lucy Bronze, Leah Williamson e Sophie Ingle. As 4 alternates seriam: Sandy MacIver, Erin Cuthbert, Ella Toone e Millie Turner. Além desses nomes, a matéria traz como presenças na lista Ellen White, Keira Walsh e Georgia Stanway, e como ausência Alex Greenwood. Como essa informação não é oficial (ainda que o The Athletic seja um veículo com grande credibilidade), eu não a levei em consideração na elaboração do texto.

--

--