O que se passa com a Liga Feminina Colombiana?

VOLTA PRA MARCAR
De Primeira — Futebol Feminino
4 min readFeb 3, 2021

A DIMAYOR anunciou que a Liga Feminina 2021 terá duração de apenas um mês e meio e gerou revolta entre atletas e jornalistas. O que falta para a modalidade crescer no continente?

Partida pela Liga BetPlay Femenina 2020

Ontem (2), a DIMAYOR — División Mayor del Fútbol Colombiano, divulgou um comunicado trazendo algumas informações sobre a Liga Feminina 2021, sendo a principal delas o cronograma da temporada, tendo início em 18 de julho e finalizando nas primeiras semanas de setembro. Vale lembrar que não há informações sobre a quantidade de clubes interessados, nem sobre o formato de disputa.

O comunicado gerou revolta entre as atletas e jornalistas que cobrem o futebol feminino afinal, uma liga nacional com duração de apenas um mês e meio é uma vergonha até mesmo para os parâmetros do nosso continente.

Independiente Santa Fé e América de Cali, no Estádio El Campín

Mas porque uma Liga tão curta em um país que tem grande potencial na modalidade? Bom, a DIMAYOR se justificou dizendo que o cronograma tem relação com a realização da Libertadores Feminina 2020, que será disputada em março deste ano, e a Libertadores 2021, que será disputada em setembro. Entre essas competições ainda haveria a Copa América masculina e os Jogos Olímpicos de Tóquio. Além das datas FIFA que são prioridade para a Federação Colombiana.

Contudo, em 10 de janeiro deste ano, em entrevista à RCN Radio, Fernando Jaramillo, presidente da DIMAYOR, assegurou que as atletas teriam uma “liga digna”. Na mesma entrevista ele afirmou:

“A Liga Feminina segue com o apoio do Governo Nacional e isso é um alívio imenso (…) A BetPlay também patrocina a Liga Feminina e devemos ver quais recursos nos darão para isso”.

Fernando Jaramillo Giraldo, presidente da DIMAYOR

Outro ponto essencial é saber que o Ministro do Esporte, Ernesto Lucena, tem especial interesse em desenvolver a modalidade no país, tendo sido inclusive o Governo o financiador da candidatura da Colômbia como sede da Copa do Mundo Feminina 2023. Com apoio do governo e patrocínio de uma grande empresa, o que falta para que a Liga Feminina Colombiana se desenvolva e torne-se realmente competitiva em nível continental?

A título de comparação, desde que a Liga ganhou status de “profissional” em 2017, o número de equipes só vem diminuindo e o tempo de duração também. Se no primeiro ano foram 4 meses de duração, em 2018 foram 3 meses e meio, até chegar em 2 meses em 2020 e, agora, um mês e meio.

O diagnóstico feito por atletas e jornalistas para tamanho retrocesso é um: falta de interesse da DIMAYOR. Com campeonatos tão curtos, o número de clubes interessados também diminui afinal, porque custear uma comissão técnica e atletas durante uma temporada para uma competição tão curta? Com a desobrigação de manter uma equipe feminina para este ano por parte da CONMEBOL, a tendência é que o torneio seja ainda mais esvaziado.

Carolina Pineda, jogadora do América de Cali e da seleção colombiana foi uma das diversas atletas que criticaram a decisão da DIMAYOR, ressaltando mais uma vez que o problema vai além do econômico.

“O torneio colegial dura mais que esta liga (…) No ano passado, houve equipes que conseguiram recursos através da Secretaria de Equidade de Gênero e ao final nem sequer pagaram os três meses completos às suas jogadoras”.

O caso colombiano nos mostra que, não se trata apenas de uma questão financeira, mas sim de interesse político e esportivo por parte das Federações e da CONMEBOL, para que a modalidade desenvolva. Que clube irá abrir despesas para uma competição tão curta? Qual empresa se interessaria em patrocinar um torneio com exposição tão pequena? Que emissora se disponibilizaria à garantir os direitos de transmissão em um torneio desinteressante?

Santa Fé, campeão da Liga Feminina 2020

A tão sonhada profissionalização da modalidade parece cada vez mais distante nesse momento de pós-pandemia e obriga as atletas e outros trabalhadores da modalidade à buscarem alternativas fora do continente ou até em outra área. Até quando a CONMEBOL vai fingir que está tudo bem? Enquanto organizam um grande “Congresso de Futebol Feminino” cheio de sonhos e utopias, a modalidade perece em todos os cantos do continente.

Twitter: @mathguima526

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