Opinião: Uma competição de 32 dias não serve para desenvolver atletas

Raffa Carolina
De Primeira — Futebol Feminino
3 min readJan 16, 2021

A edição de 2020 do Brasileiro Feminino sub-18 vem aí, mas ter uma primeira fase em apenas 10 dias e seis jogos não ajuda no desenvolvimento de novas atletas

Foto: CBF

A pandemia do Corovírus afetou diversas competições e diversas categorias dentro do futebol feminino e com a base isso não foi diferente. Para se ter uma ideia, para fazer com que o calendário do ano de 2020 do futebol feminino se encerre o mais rapidamente para podermos ter espaço a uma nova temporada, a partir do dia 26 de Janeiro se inicia o Brasileiro Feminino sub-18, já não bastasse esse calendário que foi apertado, atletas de 14 a 18 anos terão que jogar seis jogos em 10 dias na primeira fase, e uma competição que vai ter 13 datas até o final em 32 dias.

13 datas para se ter uma noção é o equivalente ao Brasileiro Feminino A1 e A2, competições que tiveram em média de 4 a 7 meses para ocorrer, sem contar com a parada por conta da pandemia do COVID-19. O fator que mais agrava esta questão de calendário é que na teoria, as competições das categorias adultas nacionais, as atletas já estão em plena formação, e já passaram por todas as fases necessárias para se estar jogando em uma intensidade maior. Mas ainda assim temos um grande número de lesões e muitas atletas precisam ser poupadas para que possam ter descanso em meio a um calendário maluco.

A educadora física Carla Índia, uma de nossas colaboradoras e inclusive ex-jogadora de futebol, comentou sobre esta questão de tantos jogos em tão pouco tempo para atletas que estão em formação: “Embora considere que as atletas (em formação) ainda não joguem em uma intensidade de uma categoria adulta, acho que são muitas partidas em pouco tempo, elas ainda não tem o desenvolvimento e o corpo de adultas”.

De acordo com pesquisas mais recentes, para que um atleta esteja completamente recuperado, necessita entre 48 e 72 horas, pois assim toda a musculatura e as vitaminas foram absorvidas pelo organismo, isso sem contar com o fato de uma boa alimentação e uma estrutura que muitas vezes, as grandes equipes com mais poder aquisitivo podem fornecer as jogadoras. Pois além do treinamento, a alimentação que a jogadora possui influencia na recuperação.

E como sabemos que o Brasil tem dimensões continentais, sabemos que muitas equipes, principalmente no futebol feminino, ainda estão no início e não conseguem fornecer o mínimo e até mesmo a equipe necessária para auxiliar na evolução da equipe. Muitas jogadoras tem uma dupla, tripla rotina, sem poder ter a mínima condição de recuperação entre um jogo e outro.

Sem contar com o fato de que muitas equipes, mesmo sabendo do início da competição, só iniciaram os treinamentos a partir deste mês ou no mês passado. O que pode acabar prejudicando o rendimento de muitas equipes no Brasileiro Feminino sub-18.

Nós sabemos o quanto as competições de base são necessárias para que as atletas entendam a dimensão do futebol feminino, você apertar o calendário e fazer com que atletas joguem em 32 dias o que poderia ser muito melhor distribuído e levar pelo menos de 03 à 04 meses para ocorrer. Isso mostra a importância e a dimensão com que clubes, federações e a confederação tratam a competição. As que saem perdendo (mesmo com a disputa da competição) e podem ter o início da carreira prejudicados são as atletas, que pelo sonho de jogarem bola e serem jogadoras profissionais acabam sendo colocadas em condições que não seriam aceitas em qualquer outro tipo de competição.

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