Meu pai, minha mãe e eu na matéria “Filhos do Coração”​, para o jornalzinho da empresa onde meu pai trabalhava.

Adote oportunidades. E permita-se apaixonar à primeira vista.

Carol Gazzi
ficaprocafe
Published in
3 min readMay 4, 2020

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Muitas e muitas vezes.

Era madrugada em uma pequena cidade no sul do Brasil, quase fronteira com a Argentina. Uma adolescente dá à luz a uma menina.

Nesse mesmo dia, a 1.000km de distância, um casal recém-casado se prepara para pegar um voo às pressas, carregando apenas o que cabia dentro da correria. Seus corações quase saindo pela boca. Eles estão prestes a ter seu primeiro bebê.

É tarde da noite quando o casal chega ao hospital local. Eles andam por um longo corredor acinzentado e de repente se veem de frente a um bebê gorducho dormindo em um berço improvisado no vestiário dos funcionários. Foi amor à primeira vista. Bom, pelo menos é o que diz meu pai. E eu acredito, já que foi dessa forma que minha jornada começou: minha adoção.

Meus queridos pais me criaram dizendo que essa história deveria ser “um segredo nosso” — o que entendo totalmente. Crianças sabem ser bem maldosas quando querem, elas provavelmente ririam de mim e isso poderia destruir toda a estrutura psicológica que meus pais trabalharam tão duro para me dar. E vamos ser honestos: se você conhecesse alguém e soubesse desde o princípio que essa pessoa foi adotada, sua primeira reação seria pensar em uma história triste ou sobre todas as novas oportunidades que essa pessoa recebeu?

Recentemente, me dei conta de que quanto mais compartilho a história da minha adoção, mais encorajo as pessoas a falarem a respeito e, quem sabe, criarem suas crianças com uma perspectiva diferente. Além do mais, trago a leveza libertadora de abraçar e honrar nossa própria história. E é essa minha intenção.

Minha vida mudou mesmo antes de eu nascer. Abriram mão de mim para que eu tivesse melhores oportunidades. Meus pais (e meus avós, que para minha sorte vieram no pacote) mudaram minha vida, mas sei que também mudei a deles — de repente, diga-se de passagem. Afinal, os nove meses de preparo psicológico foram resumidos a 2 dias de correria maluca

Faço um convite para pensarmos muito além do significado literal de adoção em toda essa história. Afirmo que todos nós podemos ser pais adotivos de alguma forma. Não estou dizendo para sair por aí sendo a próxima Angelina Jolie ou o próximo Brad Pitt. Claro que você pode literalmente fazer isso se seu coração pedir (eu apoio!). Mas estou me referindo a um tipo diferente de adoção. Adotar oportunidades para você e para os outros. Adotar a mudança que quer ver no mundo. Ouse e use lentes mais coloridas para ver seu entorno. Não importa onde, seja no campo profissional, trabalhando em grandes corporações ou mesmo andando pela rua, vivenciando novas experiências, sorrindo para um desconhecido ou testando uma rotina diferente. Estar aberto e disponível ao que a vida traz.

Adote uma oportunidade e deixe-se apaixonar à primeira vista muitas vezes. Viva os dias adotando oportunidades. Você nunca sabe quando poderá mudar a vida de alguém — ou a sua própria.

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