cheiro de cuidado.

Carol Gazzi
ficaprocafe
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1 min readMay 4, 2020

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Na casa dos meus pais, sempre era minha mãe quem fazia o café pela manhã. Como saia cedo pra trabalhar, dificilmente durante a semana eu conseguia pegar a mesa posta. Mas, todo domingo, aquele cheiro de café sendo passado vinha me tirar da cama. Sem pedir licença, me acordava para um novo dia. Era um aconchego tão gostoso quanto as cobertas ou o travesseiro amassado. Era cuidado.

Talvez por isso, café pra mim é refúgio. Se estou chateada ou feliz a ponto de querer me dar um mimo, procuro um café fresquinho. E nem é preciso toma-lo, viu? É a simples sensação de segurar a xícara quente e sentir o cheiro de cuidado.

O tempo passou, saí de casa e fui ganhando minhas responsabilidades — inclusive, fazer café aos domingos. Essa pequena atividade rotineira é uma dentre tantas outras que traz a vida adulta. E sobrecarrega. E cansa. E faz a gente ranger os dentes à noite de tanta coisa guardada ainda por fazer.

Assim como o cheiro de café, é preciso encontrar cuidado com a gente, com a mente, com os dentes! É preciso desapego, resgate, aceitação. E, ainda que esse cuidado esteja nas pequenas coisas, ele está longe de ser pequeno.

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