A TV precisa de mais pilotos de séries nos finais de ano

Ou então ficaremos com o show de Roberto Carlos, o mesmo há décadas

Bruno Viterbo
Ficção brasileira

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2013 está acabando e com ele vem as atrações especiais das emissoras. Na verdade, especiais é uma maneira sutil de dizer que são atrações requentadas. Pior ainda: este ano são poucas as opções.

Os “especiais” da Globo

A TV americana realiza, ano após ano, pilotos das séries que podem ser exibidas no próximo ano ou temporada. Praticamente todas as séries de sucesso hoje tiveram seus pilotos exibidos muito tempo antes de suas estreias oficiais. Por aqui, a Globo por alguns anos manteve essa tradição: todo fim de ano, pilotos ou especiais eram exibidos como forma de medir a audiência e, quem sabe, conseguir a exibição em temporadas. Foi assim com “A Diarista” (piloto em 2003, serie em 2004), “Toma Lá Dá Cá” (piloto em 2005 e serie só em 2007), “Casos e Acasos” (2007/2008) e “Guerra e Paz” (2007/2008), entre outros.

Mais um telefilme do sem graça Didi Mocó e o especial “Alexandre e Outros Herois”

Nos últimos anos, nenhuma novidade foi apresentada, a não ser os famigerados shows de Roberto Carlos ou as retrospectivas tradicionais de qualquer emissora. Uma pena para uma emissora que é a maior produtora de conteúdo audiovisual no país. Enquanto isso, ficamos à mercê de novelas que pouco acrescentam ou mantém-se acomodadas em seus formatos pouco criativos. Este ano, a Globo preparou apenas “Alexandre e Outros Heróis”, adaptação de dois contos do escritor Graciliano Ramos. É apenas um especial, e não um piloto. Outras atrações são shows (Roberto Carlos, Sintonize e o Show da Virada) e programas de humor de qualidade questionável (Divertics e Junto & Misturado).

O elenco de “Tá Tudo em Casa”, da Record

Por outro lado, a Record investiu pesado em 2013. São seis especiais, todos de ficção. O primeiro deles, “A Nova Família Trapo”, é uma emulação do antigo programa com o cenário de “Sai de Baixo”, que por sua vez também é uma versão inspirada na obra original da década de 1960. Foi exibido no dia 1º/12 e não foi tão bem de audiência (6 pontos, em quarto lugar), além de não contar com um bom texto e elenco. “Tá Tudo em Casa” (dia 8, marcou 5 pontos), “Papepipopu” (dia 15, com 3,8 pontos), “Casamento Blindado” (17), “O Amor e a Morte” (20)e “Noite de Arrepiar” (21) são os outros especiais, com alguns tendo a chance de entrar na grade do próximo ano.

“A Nova Família Trapo”, que de nova não tem nada.

O único porém é que a maioria tende mais para o humor — não precisamos mais de sitcoms. As duas já exibidas (“A Nova Família Trapo” e “Tá Tudo em Casa”) são sitcoms de famílias, o que nada acrescenta à teledramaturgia, ainda que “Tá Tudo em Casa” aposte numa linguagem visualmente mais moderna — claramente inspirada em “Louco por Elas”, da Globo, em que a câmera não é estável e os personagens dão depoimentos olhando para a câmera —, edição ágil e texto e elenco melhores.

Imagem do bom teaser de “Breaking Bad” na Record

A Record também tem em 2014 um bom pacote de séries estrangeiras: a elogiada e premiada “Breaking Bad”, “Once Upon a Time”, “Spartacus”, “Chicago Fire” e“Bates Motel”, além da volta de “A Lei e o Crime” e a serie bíblica “Os Milagres de Jesus”, gênero pouco explorado em nossa TV e que tem dado bons resultados à emissora. As séries estrangeiras sempre tiveram lugar de destaque na programação da Record, sempre exibidas no horário nobre. Ao contrário da Globo e do SBT, que deixam para as madrugadas a exibição de series como “Lost”, “Two and a Half Men” e “Prison Break”. Para 2014, a Globo exibirá “Homeland” nas férias do “Programa do Jô”.

Temos também a Band que, se não investe mais em produções nacionais, tem um bom pacote de séries para 2014: “The Walking Dead”, que já vem exibindo, “American Horror History” e “How I Met Your Mother”. Só um detalhe: a emissora vai “traduzir” os nomes das duas últimas… Coisas do estilo SBT de exibir séries.

Num momento em que a TV aberta perde cada vez mais espaço para a internet e TV paga, seria fundamental que as emissoras apostassem em novos formatos, obras e séries para atrair o telespectador. Não é o que acontece.

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Bruno Viterbo
Ficção brasileira

Redator, às vezes fotógrafo (como na foto ao lado) e às vezes jornalista. Mas sempre encontrando tempo para assistir alguma coisa (boa) na TV.