TV em ebulição

O baixo índice marcado por “Além do Horizonte” é uma amostra concreta do futuro da TV brasileira: o povo quer o feijão com arroz. O bom, deixa para a TV paga.

Bruno Viterbo
Ficção brasileira

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O dia 4 de dezembro de 2013 ficará marcado na história recente da TV brasileira. Pela primeira vez uma novela das sete atingiu 14,6 pontos de audiência em São Paulo. “Além do Horizonte” chega aos 27 capítulos como o maior fracasso do horário. Os 14,6 pontos é o menor índice já registrado por uma trama das sete.

O “Cidade Alerta”, comandado por Marcelo Rezende, chegou a ficar apenas um ponto atrás da novela. Na média, ficou com 10 pontos. Uma diferença de três pontos — inimaginável por Record e muito menos pela Globo.

São indícios de uma transformação cada vez mais latente na TV brasileira. Por incrível que possa parecer, “Além do Horizonte” é a melhor novela exibida pela Rede Globo atualmente. Os motivos são vários: história original, temas pouco explorados (florestas, mistérios, comunidades isoladas e um pouco de ficção científica), cenografia impecável e texto bem amarrado.

Mas esses elementos não fisgaram o telespectador. Uns culpam o elenco jovem demais — que, se não se destaca, não compromete a trama. Outros, culpam os temas que não se aproximam do telespectador . Dois erros. A única certeza é que o telespectador de TV aberta é cada vez mais exigente. Mas, ao mesmo tempo, cada vez mais conservador e preconceituoso com o original e o diferente — vide “Pecado Mortal”, a melhor novela em exibição, amargando baixos índices.

Uma pena. “Além do Horizonte” é a estreia de competentes profissionais (Gustavo Fernandez na direção e Carlos Gregório e Marcos Bernstein na autoria), que não tem culpa nenhuma em relação aos baixos números. Infelizmente, o público está ou vendo o “mundo cão” dos telejornais policialescos ou, mais provável, na TV paga, Netflix e derivados. Estes últimos, o verdadeiro lugar de “Além do Horizonte”.

P.S.: Enquanto isso, a intragável “Amor à Vida” vem mantendo bons índices. Por isso que o gênero telenovela é cada vez menosprezado. Mas isso é tema para outro texto…

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Bruno Viterbo
Ficção brasileira

Redator, às vezes fotógrafo (como na foto ao lado) e às vezes jornalista. Mas sempre encontrando tempo para assistir alguma coisa (boa) na TV.