O rapto das sabinas

Eu vi essa foto na semana passada e fiquei feliz em ver que eu tenho registros bonitos de um tempo que agora parece sonho de tão distante. E eu digo distante não pelos anos que se passaram, que ainda não são tantos assim; mas pela distância de contexto, de Leticia, de história.

A cena, apesar de linda, conta uma parte triste da história-lenda da fundação de Roma: o rapto das sabinas. Os homens que, recentemente haviam fundado Roma, não possuíam esposas. A fim de gerar descendentes “viris-heróis-romanos-filhos de Troia e de Vênus”, raptaram as mulheres do povo vizinho, os sabinos.

Entre 1574 e 1580, Giambologna esculpiu esse grupo marmóreo. Apesar da cena violenta, a escultura também representa as três idades humanas: a juventude (moça raptada), a vida adulta (romano que sequestra) e a senioridade (senhor desesperado ao chão).

Eu poderia falar sobre a beleza do momento capturado por Giambologna, de como a escultura, o seu movimento e os veios da pedra são capazes de emocionar e nos fazer questionar a ação seguinte. O que será que aconteceu ao povo sabino e suas filhas? Mas por agora eu só quero admirar e pensar em como a arte dá conta de tanta coisa!

Ao longo desse processo de pandemia muita coisa aconteceu. Eu tomei (um pouco) as rédeas, mas isso não foi um processo bonito, como de uma heroína idealizada. Longe de mim romantizar essa situação toda. Hoje, um pouco como as sabinas, acho que a gente se sente sequestrado da própria vida, outros rumos vão sendo tomados e a gente tá num eterno catando cavaco ou caindo e levantando, ou só caindo: sem fundo.

O que vai acontecer? Não dá pra saber… Por enquanto as “Filhas da Memória” deixarão de existir como página do Instagram (por motivos de não ser uma plataforma legal pra isso) e ocuparão um espeço mais íntimo e privado… Acho que uma lista de e-mails para aqueles que se interessam de verdade pode ser interessante. Vou organizar e logo anuncio.

Por ora, vamos de incertezas, medos, desesperos e, um pouquinho de beleza pra acalmar os ânimos.