A arte ensina a desistir de ser perfeito

Reflexões sobre criatividade e humildade

Filipe Henz
Filipe Henz
Published in
3 min readMar 18, 2020

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A postura do artista é de humildade. Ele é essencialmente um canal . — Piet Mondrian

O processo criativo artístico nos torna menos pretensiosos, mais humildes.

Há um sentimento que pode se prolongar durante toda a vida de um artista: o medo do fracasso. São conflitos que envolvem tentativas, erros e persistência até que uma ideia encontre minimamente o seu lugar neste mundo, que chegue a alguém, comunique.

Esse embate constante, essa brincadeira de se colocar frequentemente em situações de autoenfrentamento, movido pelo propósito maior da autoexpressão e da comunicação, é o que possibilita ao artista o desenvolvimento tanto de sua sensibilidade, no sentido de aprender sobre os melhores caminhos para si, dentro de suas capacidades, preferências estéticas, poéticas, quanto o torna resiliente e menos duro consigo ao aceitar que nunca haverá ideias perfeitas, nunca existirão manifestações exatamente espelhadas do mundo imaginário neste mundo material.

Na maioria das pessoas, o desenvolvimento e a expressão das habilidades criativas têm sido e inibidos por ambientes que estimulam o medo do ridículo e da crítica — o atual mundo pragmático, mecanicista, cartesiano, em que vivemos, no qual a fantasia é vista como perda de tempo e no qual predominam atitudes negativas em relação ao arriscar e ao criar.

Ao longo dos processos criativos, o artista chega ao momento em que, por estar tão próximo de sua criação, se apega a algumas ideias sobre o que está fazendo. Acredita que o resultado de seu trabalho tem de corresponder exatamente a um sentimento ou imagem mental que vem formulando há tempos.

O sujeito pensa que o fruto da precipitação de suas ideias no plano material acontecerá exatamente como na imaginação. Assim, frequentemente, encontra-se em um estado de insatisfação um tanto comum aos que possuem uma personalidade mais artística.

O indivíduo comprometido com sua criatividade se propõe a exercícios constantes de humildade, ao passo que percebe que é apenas um canal pelo qual fluem as energias criativas e que nada realmente lhe pertence.

O desenvolvimento da humildade acontece com a percepção de que mesmo as melhores ideias, geradas por um árduo trabalho de dedicação e estudo, não pertencem ao indivíduo; é necessário deixá-las fluir, abandonar o apego às suas formas, às preconcepções de suas manifestações.

Esse apego é um dos principais bloqueadores da criatividade. É o que gera medo e insegurança, impedindo o artista de aprofundar-se em sua imaginação, forçando-o agarrar-se ao senso comum e às ideias pré-formatadas, tolhendo-o de contribuir para com a humanidade por meio do lhe é mais valioso: sua auto expressão genuína, única.

Segundo Dylan Thomas, a criatividade é a força que através da haste estimula o desenvolvimento da flor. Ou seja, é a verdadeira natureza do ser humano.

Os bloqueios que ocorrem são entraves a esse fluxo natural, decorrentes do medo e da falta de autoconfiança na própria capacidade de expressão.

Comece a aceitar os pequenos desafios, a ponto de desenvolver uma confiança criativa. Diminua suas expectativas sobre si mesmo. E, acima de tudo, tenha consciência de que nada é seu.

É no reconhecimento desses aspectos que a humildade se desenvolve. Dessa maneira, também se aprende a importância do tempo para que as ideias amadureçam.

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