Autorretrato

Filipe Henz
Filipe Henz
Published in
2 min readMar 15, 2019
instagram: @ave.henz

Confesso que há um bom tempo venho ensaiando maneiras de divulgar minhas produções: desenhos, textos, ideias, perspectivas, WIPs. No entanto, antes de mostrar é preciso produzir, coisa que eu não tenho feito muito ultimamente, não por que me falte qualquer vontade ou o desejo de comunicar, de me expressar, criar (ainda me pergunto quanto a importância disso para o mundo ou aos motivos que me conduzem a querer fazer disso a minha vida), não que eu não queira materializar todas as minhas grandes ideias, me fazer entender para além das palavras, de maneiras mais profundas, que só a arte me permite fazer.

Acontece que há uma hesitação, uma resistência, que se apresenta quando me sento em frente ao computador ou diante do caderno e resolvo transpor para a “objetividade” o que se passa em minha cabeça. E essa é uma das minhas pesquisas sobre mim: descobrir os motivos que me impedem de fazer isso que eu digo a todos que conheço — e inclusive a mim mesmo — ser o que mais gosto de fazer. Percebi recentemente que essa resistência deriva em grande parte do medo, medo expresso em suas variadas facetas, medo de me expor, medo do julgamento (não somente externo, mas principalmente interno), medo de enfrentar os caminhos misteriosos da criação, que provocam inseguranças, ansiedades, angústias, que exigem que eu entre e saia dos lugares comuns, das zonas de conforto. Eu crio os problemas para depois tentar solucioná-los. É disso que se trata o trabalho criativo: criar problemas, questionar e então penar para resolvê-los. E para esse trabalho é necessário se desfazer de um tanto de tralha, de preconceitos, bloqueios, é preciso confiar no que se faz, ser honesto consigo mesmo. Não é um trabalho fácil, mas é necessário. Afinal, como pode ser possível não resolvermos os problemas que nós mesmos criamos?

É necessário mostrar o que se faz, é necessário dizer, comunicar, trocar informação, chegar ao outro, abrir novos caminhos dentro de si, expressar-se livremente, longe de todas as bobagens a que damos ouvidos e que dizemos a nós mesmos e que nos paralisam, nos impedem de ser genuínos. O grande trabalho criativo começa justamente nesse ponto, aprender a confiar em si mesmo, na jornada, nos resultados de cada nova descoberta, num percurso infinito de experimentações de si mesmo. O grande trabalho começa precisamente com o autoconhecimento.

--

--