Mais do que uma crença ética, é preciso ter ética na crença

“Ausência de evidência não é evidência de ausência” (Carl Sagan)

Gilberto Miranda Junior
Filosofando na Penumbra
14 min readDec 30, 2022

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Pois então, mais um assunto um pouco espinhoso que irei me dedicar. O filósofo Daniel Dennett propôs em seu livro “A Perigosa Ideia de Darwin” três princípios pelos quais podemos estabelecer a existência de alguma coisa, o que também serviria, em tese, para se analisar uma crença como verdadeira: 1) consistência lógica, 2) coerência com as leis fundamentais do universo sob consenso científico e 3) evidência física.

1) Consistência lógica é uma exigência que pode descartar algo como não existente logo de saída, mas não é suficiente sozinha para confirmar a existência. Ou seja, é o famoso “necessário, mas não suficiente”. Em geral trata-se de rejeitar o valor de verdade de algo que entra em contradição ou cria um paradoxo em relação àquilo que o define. Por exemplo, um triângulo redondo, fogo líquido, claridade escura, nazista antifa, etc. Se fere a consistência lógica não tem como existir (ao menos neste universo), mas se não fere, também não prova que existe. Uma crença que fere diretamente a consistência lógica é uma crença falsa, como por exemplo, um ser tão poderoso que fosse capaz de criar uma pedra mais pesada do que ele próprio seria capaz de carregar.

2) Coerência com as leis fundamentais do universo sob consenso científico é algo que tem lá sua controvérsia em tempos de terraplanismo e geocentrismo, mas (ainda bem) continua funcionando. Você pode imaginar o que quiser, mas a partir do momento que o objeto de sua imaginação fere as leis da física, da química, da biologia, etc., há grandes chances de que o que imaginou só exista em sua imaginação ou que você participe de algum grupo delirante de fanáticos com objetivos escusos. Quando alguém (mesmo que seja médico) receita um antibiótico para tratar um vírus, é totalmente improvável que haja eficácia no tratamento. Por isso é falsa a crença de que se deve prescrever hidroxicloroquina para tratar o SARS-COV-2 (que é um vírus), mas é verdadeira a crença de que se deve prescreve-la para tratamento de malária. Malária é causada pelo Plasmódio, um protozoário parasita unicelular.

No entanto, se você acredita que dragões já existiram, dependendo do tipo de dragão, é possível considerar a hipótese. Se eles apenas voassem, não feriria, supostamente, nenhuma lei da física, mas se eles, além de voar, também emitissem fogo pelas ventas (como grande parte das lendas propõe), aí ficaria incoerente com todo o conhecimento acerca dos organismos existentes em nosso planeta. Neste caso, seria necessário analisa-lo pelo próximo princípio.

Preciso falar um pouco sobre “consenso científico”. O consenso faz parte do que chamamos na prática científica de “revisão por pares”. Só há consenso a partir da revisão por pares. Nenhuma hipótese sobre a realidade e o mundo ganha o status científico se não passar, sistematicamente, pelo escrutínio de outros cientistas. Estes, por sua vez, irão se esforçar ao máximo (acredite) para encontrar algum erro ou equívoco em toda e qualquer pesquisa que reivindique este status. Por mais que tenhamos o direito de desconfiar de financiadores, conspirações e conchavos institucionais que possam impedir algum tipo de pesquisa ser feita, não temos como deixar de validar aquelas que são aceitas, pois a metodologia é cruel e incisiva contra erros.

3) Evidências físicas são, talvez, a cereja do bolo. Se sua crença tem consistência lógica e não fere leis científicas em consenso ela está próxima de ganhar um grau de certeza razoável, mas de nada irá adiantar se faltar evidências físicas a seu favor. No caso do dragão, por mais que seja possível sua existência, devemos considera-la, pelo menos, improvável. Existem seres atuais que conservaram algum aspecto taxonômico com eles? É possível mapear seu genoma identificando aspectos que nos remetam a dragões? Existem fósseis reais que possam servir como base para essa crença?

Você pode crer em dragões pelo que eles representam, pelo valor simbólico que possuem e faz (a você e a outros que creem) sentirem-se irmanados e co-pertencentes a uma certa cultura de culto às características draconianas. Você pode se sentir muito bem com isso, ter uma vida que faz sentido e acreditar que sua crença realmente lhe faz bem. Mas se você for honesto mesmo, verá que nada disso fará com que seu objeto de crença (a saber, o dragão) seja real, verdadeiro.

Vamos supor que, pelo bem que sua crença lhe faz (que não deixa de ser também uma crença), você queira refutar quem exige estes princípios para considerar real o que você crê. Você e seus amigos seguidores de dragões alados criam uma nova característica para dragões que ou dispensa evidência física, ou pode ser usada como evidência física indireta. Você e seus amigos decidem que a prova da existência de dragões é a quentura de seu bafo de fogo que é sentida quando vocês realizam o ritual do dragão. E pasmem, vocês passam a sentir essa quentura sempre que realizam o ritual. Às vezes até sozinhos quando oram para o dragão. Eis a evidência física que tanto reclamam.

Em suma, crer em dragões, à princípio, não prejudica ninguém — a não ser que você queira transformar o mundo em crentes de dragão e/ou condene quem se recusar a crer, ou, ainda, exija que toda a sociedade aja de acordo com as regras draconianos — porém, por mais ética, benéfica ou agregadora que uma crença possa ser, ainda assim ela pode ser falsa. Não descarto a possibilidade (bem real, aliás) de que muitas pessoas, mesmo sabendo que alimentam crenças falsas (ou que não possuam consistência ou possibilidade de serem justificadas), continuem acreditando e vivendo de acordo com suas crenças por causa de seus resultados agradáveis ou confortáveis. Assim sendo, a crença, no fundo, se dá pela utilidade de crer em determinada coisa e não pela realidade da coisa.

Quando uma ação é realizada uma vez, ela é certa ou errada para sempre; nenhuma falha acidental de seus frutos bons ou maus pode alterar isso. O homem não seria inocente, apenas não teria sido descoberto. A questão do certo ou errado tem a ver com a origem de sua crença, não com o resultado dela; não o que era, mas como ele adquiriu; não se acabou sendo verdadeiro ou falso, mas se ele tinha o direito de acreditar nas evidências que estavam diante dele. (CLIFFORD, 2008) — [tradução minha]

Clifford exemplifica seus argumentos com dois exemplos emblemáticos. Em um deles, nos apresenta a suposição de que alguns habitantes de uma ilha fizeram acusações pesadas contra alguns professores, mas que após todos os trâmites do processo serem cumpridos, ao final, não apenas não foram encontradas quaisquer evidências de culpa, como foram encontradas diversas evidências da inocência de cada um dos acusados. A população da ilha, ao final do processo, ficou revoltada contra os acusadores, porque restou provado que nenhum deles possuíam evidências suficientes para acusar nenhum professor. Cada um dos acusadores amargou a fama de homens desonrados com sua atitude. Não importa que cada um dos acusadores acreditasse honestamente que existisse algum comportamento condenável nos professores, o fato é que nenhum deles possuía evidências concretas para fazer a acusação, coisa que deferia ao menos ser evidenciada no inquérito investigativo. Ou seja, nenhum deles tinha o direito de continuar crendo diante da ausência de evidências, por mais preconceitos ou achismos que pudessem alimentar. Ou pior, por mais que, eventualmente, o resultado final confirmasse a suspeita.

Clifford, portanto, se permite ir além. Ele nos faz supor que, ainda que todas as questões anteriores não se alterassem, se uma investigação mais detalhada tivesse conseguido alguma prova de má conduta em um dos professores:

Isso faria alguma diferença na culpa dos acusadores? Claramente não; a questão não é se a crença deles era verdadeira ou falsa, mas se eles a nutriram por motivos errados. Eles sem dúvida diriam: “Agora você vê que afinal estávamos certos; da próxima vez, talvez você acredite em nós”. E eles podem ser acreditados, mas não se tornariam homens honrados. Eles não seriam inocentes, apenas não teriam sido descobertos. Cada um deles, se quisesse examinar-se in foro conscientiæ, saberia que havia adquirido e nutrido uma crença quando não tinha o direito de acreditar nas evidências que estavam diante deles; e aí eles saberiam que havia feito uma coisa errada. (CLIFFORD, 2008) — [tradução minha]

Para Clifford, e é difícil refutá-lo nesta questão, é preciso que haja uma ética na formação de nossas crenças. Não se pode formá-las ou nutri-las escamoteando e abafando nossas dúvidas, mas empreendendo honestamente uma investigação diligente e paciente. Esta investigação precisa ser diacrônica (ou seja, diá = através + khrónos = tempo, ao longo do tempo) em duas dimensões: 1) como formamos e mantemos nossas crenças ao longo do tempo e 2) como renunciamos ou revisamos nossas crenças ao longo do tempo.

A discussão sobre a necessidade de ética nas crenças evita muito charlatanismo, enganação, prejuízos e, substancialmente, violência e morte. Não é à toa que boa parte do repertório retórico dos charlatões inclui chantagem emocional ou ameaças que acionem medos e temores inconscientes daqueles que creem. O terrorismo psicológico que muitos gurus, pastores e sacerdotes fazem com seus fiéis oblitera criminosamente toda capacidade crítica na formação de suas crenças, mesmo que os fiéis anseiem ser mais éticos.

Vocês que chegaram até aqui podem estar pensando que este texto seja uma defesa do ateísmo, mas não se trata disso. John Locke, o chamado “pai do liberalismo”, contratualista e iluminista, foi um obstinado defensor da liberdade e da tolerância religiosa, mas também concordaria com Clifford:

Aquele que acredita sem ter nenhuma razão para acreditar, pode estar enamorado de suas próprias fantasias; mas nunca busca a Verdade como deveria busca-la, nem presta a devida obediência ao seu Criador, que quer que ele faça uso das faculdades de discernimento que Deus lhe deu, para o preservar do engano e do erro. (LOCKE, 2014, p. 953–954)

Por que, então, recorrentemente, o ser humano forma crenças sem nenhum sentido? Por que, mesmo nas crenças que intuímos possuir algum sentido, nos recusamos, sistematicamente, colocá-las em dúvida e não procuramos formar ideias claras e distintas através da presença de evidências e consistência lógica? Em geral crenças que se comportam desta maneira parecem possuir fundo religioso ou estão diretamente ligadas à religião e experiências místicas. Dificilmente sem essa base perceptual dada pela suposta experiência mística, alguém insistiria em uma crença que desrespeitasse os princípios de Dennett, a não ser que esteja acometido de alguma patologia mental.

Ao que tudo indica só religiosos possuem o salvo conduto para crer sem ter que responder como, porquê e sobre quais bases foram construídas sua crença em divindades. Este salvo conduto é cultural e histórico, obviamente, mas não significa que confere à crença um valor de verdade. Ao menos os próprios religiosos estão sempre se digladiando e enchendo o peito dizendo que sua religião é a portadora definitiva da verdade e seu deus é o único verdadeiro em relação a todos os outros. Mas será que a experiência mística é o bastante como evidência para a verdade da crença religiosa? Talvez encontremos um esboço razoável de resposta no trabalho de William Alston que desenvolveu o que chamamos de Teoria Doxástica da crença religiosa.

O primeiro problema que Alston enfrenta é a clara distinção entre percepção sensível e percepção mística:

(…) o primeiro tipo é rico, detalhado, disponível em todos os momentos em que estamos acordados e, basicamente, em um grau ou outro a todos os seres humanos. O segundo tipo, por outro lado, é pobre em informações, pouco detalhado, disponível a um número reduzido de pessoas e mesmo a esse grupo de pessoas episodicamente. (SILVEIRA, 2016, p. 97)

Alston, em um primeiro momento, não irá recorrer a uma equivalência entre os dois tipos para justificar a experiência mística, porém irá tentar, por um lado, elevar o status da experiência mística a um tipo válido de percepção e, por outro lado, desacreditar a capacidade da experiência sensível em formar crenças justificadas e confiáveis. Para isso, Alston lança mão do conceito de “Práticas Doxásticas” (práticas que formam crenças) e inclui a percepção sensível neste conceito, descrevendo de que forma o aspecto comunitário e social forma crenças através do compartilhamento das experiências sensíveis numa certa comunidade. Ou seja, se a experiência sensível constitui uma prática doxástica também por seu caráter comunitário, então a experiência mística pode ser justificada da mesma forma, na medida em que comungam das mesmas características neste aspecto, a saber: entrada (inputs), resultado (outputs) e sistema de cancelamento (correção). Se nossa crença naquilo que percebemos através dos sentidos físicos (por exemplo, a refração de um objeto dentro da água) é confiável porque compartilhamos a mesma percepção comunitariamente, a crença na existência e na presença de Deus é confiável e se justifica no compartilhamento da experiência mística no seio de uma comunidade afim. Segundo Silveira, para Alston:

Práticas doxásticas são socialmente compartilhadas e, geralmente, engajadas pelos seus participantes pré-reflexivamente, ou seja, antes de qualquer crítica quanto à sua justificação ou racionalidade. Assim, a percepção sensorial pode ser caracterizada como uma prática doxástica, já que leva de certos dados de entrada fenomênicos a resultados doxásticos e possui um sistema de cancelamento, ou seja, modos de testar se certas percepções são genuínas ou não. (SILVEIRA, 2016, p. 97–98)

Em seguida, a segunda parte de sua argumentação consiste em desacreditar a capacidade de justificação das próprias experiências sensíveis. Segundo Alston, o que justifica a crença advinda da experiência sensível é a própria experiência sensível, o que nos faria incorrer em uma circularidade epistêmica. Se toda prática doxástica baseada na experiência sensível se fundamenta nela própria, que é a base da formação da crença, isto se constitui em uma falha fundacional e, segundo Alston, faz falhar a justificação de qualquer crença. Então, epistemicamente, se a experiência sensível falha em se justificar, o que a faz ser mais confiável do que as outras? Alston responde que é seu aspecto prático: é confiável porque dá certo para as pessoas e para a vida em sociedade. No fundo então, não se trata de fundamentar nossas crenças, elas não são válidas por conta disso, mas sim pelo que elas geram como resultado prático para nossa vida e para a vida em sociedade:

Na vida prática o sujeito epistêmico está pré-reflexivamente envolvido numa quantidade de práticas doxásticas que são indispensáveis para condução das ações cotidianas. Ele não pode deixar as suas práticas e avaliá-las de um ponto de vista neutro e nem há um porto seguro livre de circularidade em que se possa arvorar. Nesse sentido, a única coisa racional a fazer é confiar nas práticas doxásticas nas quais se está engajado com base num raciocínio instrumental ou de meios e fins, contanto que elas possuam algumas características. Essas características são: (i) ser suficientemente socialmente estabelecidas; (ii) não possuir inconsistências massivas internas ou externas, ou seja, em seus próprios resultados e com os resultados de outras práticas doxásticas adotadas; (iii) possuir significativo auto-apoio. Sendo assim, a falta de algum desses critérios é razão para abandonar uma prática doxástica de que se participe ou para nela não se engajar. (SILVEIRA, 2016, p. 99)

Por fim, Alston fecha com chave de ouro estabelecendo quais critérios de racionalidade teriam mais peso para que nossa formação de crenças gozasse de confiabilidade, mesmo que não pudessem ser justificadas: quantidade e anterioridade. Ou seja, quando mais pessoas comungam de uma prática doxástica e quanto mais antiga ela for, maior confiabilidade ela possui. Se para as crenças advindas de nossa percepção sensível é desta forma, não há porque não ser para crenças advindas de nossa percepção mística. Uma prática doxástica que dura no tempo e é compartilhada por um razoável número de pessoas (possui estabelecimento social) só possuem estas características porque promove o bem comum e guia a vida do participante de uma forma útil. Alston ainda salienta que, mesmo que uma prática doxástica não seja compartilhada por muitas pessoas, se ela perdurar por gerações, possui confiabilidade. Ou seja, para Alston, o que justifica racionalmente uma prática que forma crenças verdadeiras e confiáveis é seu estabelecimento social, sua anterioridade no tempo e sua utilidade na vida de quem crê.

Para quem leu meu artigo anterior “ Um pequeno ensaio sobre religião, vieses e falácias “ (clique para ler) pôde constatar que cheguei exatamente na conclusão de Alston por outro caminho. Lá, argumentei que a livre atuação acrítica dos vieses cognitivos tornava os religiosos suscetíveis a serem enganados, justamente porque a partir da suposta santidade e da anterioridade da sua religião, se criava um sentimento de confiabilidade via co-pertencimento e utilidade das práticas religiosas.

Apesar de vários problemas na argumentação de Alston, ela é bem interessante, devemos admitir. Mas destacaria, pelo menos, três problemas:

1 — O primeiro problema é a afirmação da experiência mística como confiável a partir da falha de justificação na experiência sensível. Neste argumento ele comete a falácia “ non sequitur”, ou seja, do fato de, supostamente, a justificação da experiência sensível como prática doxástica falhar através da circularidade epistêmica, não se segue que há razões para se considerar a prática doxástica com base na experiência mística confiável. Uma coisa não justifica a outra. Este argumento é uma reedição do argumento dos criacionistas contra a Teoria da Evolução. E tanto lá quando cá, o argumento religioso inventa falhas que equipara uma coisa com a outra para que a coisa que ele defenda possa também “disputar” confiabilidade com algo tão indigno de confiança quanto suas crenças. Além do “ non sequitur “, trata-se de uma confissão acidental.

2 — Alston mente ou se equivoca quando reduz a possibilidade de justificação das crenças que se formam com base na experiência sensível à própria experiência sensível, denunciando uma circularidade epistêmica. É possível que seja incidental, porém lá no início deste artigo já mencionávamos Dennett e elencamos a consistência lógica como um princípio necessário, embora não suficiente. Logo, se a consistência lógica fizer parte da justificação de uma crença, ela também fará parte da prática doxástica dos indivíduos em questão, quebrando a circularidade epistêmica reivindicada por Alston.

3 — Ao considerar que o sujeito epistêmico (aquele que está em prática doxástica — formando crenças) está pré-reflexivamente engajado, Alston nivela todo sujeito ao comportamento do sujeito religioso, no entanto, até mesmo os religiosos, em outros aspectos de sua vida, são convidados frequentemente a questionar as crenças que formam em seu cotidiano. Estamos constantemente aprendendo e substituindo crenças, reforçando algumas e formando outras, muitas vezes em situações que exige de nós a devida criticidade para que estas crenças sejam confiáveis. Ademais, se o sujeito médio possui esta postura, não significa que ela seja obrigatória e nem tampouco desejável, o que nos leva às exigências éticas para a formação das crenças já discutidas neste artigo.

Há de se mencionar que é possível concordar com o fato que, no cotidiano, na vida média de grande parte das pessoas, as crenças sejam formadas de maneira displicente, irresponsável e pouco ética. Não fosse assim não estaríamos vivendo uma verdadeira epidemia de fakenews ou sequer a palavra do ano de 2016 teria sido Pós-verdade. O problema é que a reivindicação de um religioso para que, com base nesse flagrante defeito de construção de confiabilidade das crenças comuns, teríamos que validar e conferir confiabilidade às crenças religiosas, denuncia algo muito perigoso. Se há algo a ser feito para que as pessoas passem a fiar suas relações com o mundo e com os outros de maneira mais justa, solidária e produtiva, é, justamente, nos concentrarmos mais na forma como construímos nossas crenças. O dano social de crenças construídas fora dos preceitos éticos epistêmicos são inimagináveis, embora já estejamos vivendo seus efeitos nefastos.

Penso que o papel da escola e do fomento pedagógico ao desenvolvimento do pensamento crítico dos estudantes sejam imprescindíveis e constituem, ao meu ver, as únicas saídas para o estado atual das coisas ou para o impedimento que elas piorem cada vez mais.

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Referencias

CHIGNELL, Andrew. A Ética da Crença. In: (ORG) L.H. MARQUES SEGUNDO E JULIANO S. DO CARMO Textos Selecionados de Epistemologia — Série Investigações Filosóficas. Tradução de Aluízio Couto. (Online) Pelotas: UFPEL, 2021. p. 69–101. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/nepfil/files/2021/12/SIF4.pdf. Acesso em: 20 Dez 2022. ISBN: 978–65–86440–38–6.

CLIFFORD, William K. A Ética da Crença. In: HAMBURGUER, Editado P. A. A Ética da Crença. [S.l.]: [s.n.], 2008. Disponível em: http://ajburger.homestead.com/files/book.htm. Acesso em: 25 Dez 2022.

DENNETT, Danel C. A Perigosa Ideia de Darwin — A evolução e os significados da vida. Tradução de Talita M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

LOCKE, John. Ensaio Sobre o Entendimento Humano. Tradução de Eduardo Abranches de Soveral. 5ª. ed. Lisboa: FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN, v. II, 2014. ISBN 978–972–31–0856–9.

SAGAN, Carl. O Mundo Assombrado pelos Demônios — A ciência vista como uma vela no escuro. Tradução de Rosaura Eichemberg. 1ª. ed. São Paulo: Cia das Letras, 1996.

SILVEIRA, Rodrigo R. Práticas doxásticas, experiência mística e crenças originárias: um problema na epistemologia de William Alston. FUNDAMENTO, Ouro Preto, n. 13, p. 95–105, Jul-Dez 2016. Disponível em: https://periodicos.ufop.br/fundamento/article/view/2458. Acesso em: 21 Dez 2022.

Originally published at https://anarquia.substack.com on December 30, 2022.

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Gilberto Miranda Junior
Filosofando na Penumbra

Licenciado em Filosofia, estudou Ciências Econômicas e participa como pesquisador do CEFIL (Centro de Estudos em Filosofia), registrado no CNPQ e ligado à UFVJM