Um erro conceitual do Aceleracionismo do NRx

Gilberto Miranda Junior
Filosofando na Penumbra
3 min readDec 5, 2022

Parece-me muito claro que um dos maiores erros conceituais na raiz do Aceleracionismo do NRx, é a ideia de que a concorrência está na base da Inovação Tecnológica que levaria à singularidade proposta por Lang. Essa falsa ideia (fruto de uma clara percepção errônea acerca da causa final e causa eficiente no capitalismo), leva à proposição de gov-corp (cidades-estados autoritárias geridas por CEOs) aos moldes prototípicos de Cingapura ou Dubai, ou, mais conceitualmente, ao neocameralismo de Curtis Yarvin.

Este tipo de construção ideológica tem levado não só a ascenção da Alt-Right supremacista a difundir seu etno-nacionalismo fascista, como tem incentivado a profusão de lobos-solitários racistas promovendo chacinas para acelerar os conflitos que levariam ao fim da democracia burguesa.

Os aceleracionistas argumentam que a tecnologia, particularmente a tecnologia computacional, e o capitalismo, especialmente em sua versão globalizada e mais agressiva, deveriam ser massivamente acelerados — seja porque essa seria a melhor maneira de empurrar a humanidade para frente, seja porque não há alternativa. Os aceleracionistas apoiam a automação. Apoiam uma futura fusão entre digital e o humano. Não raro, apoiam a desregulamentação dos mercados e a redução drástica do governo. Frequentemente acreditam que a revolta social e política têm valor em si mesmas. - Andy Backet para o The Guardian

Segundo o Corpus Neoreaction, sendo a concorrência a característica essencial do capitalismo, portanto, sua causa final, seu Thelos, a melhor maneira de gestão da vida social seria uma descentralização radical da sociedade em pequenas cidades-estados (preferencialmente de caráter étnico) com gestores que concorreriam entre si para atrair e manter cidadãos-consumidores pagadores de impostos em troca de proteção, segurança e bem-estar. Destarte, toda vida social estaria submetida à lógica de mercado enquanto Proxy que proporcionaria o chamado feedback de alta-frequência que Yarvin se apropriou conceitualmente de Hayek.

O problema é que, mesmo que nos esforcemos para fazer sentido esse feudalismo hitech, esse monarquismo geek, o Thelos capitalista jamais foi a concorrência, mas sim a acumulação. Há uma estética highlander no capitalismo, que leva primeiro a oligopólios e depois a uma encarniçada luta por hegemonia monopolista, e por fim, a seu protagonismo final globalizado enquanto metafísica escravocrata em troca da mera existência de cada um de nós.
Esse equívoco conceitual é irremediável, pois seria necessário algo como um Estado para manter a concorrência e o anti-trust; coisa que eles querem abolir logo de entrada.
No capitalismo, a Inovação constante, escalar e geométrica se dá sob o Proxy da concorrência, mas não por causa dela, e sim por causa de seu princípio basilar de acumulação e reprodução incessante. E sua consequência direta é, paradoxalmente, a corrosão do Proxy. Qualquer coisa que se possa pensar sobre um futuro utópico, transumano e disruptivo, onde, finalmente, a tecnologia funcione como redenção ou aniquilação da vida, prescinde desta essencialidade basilar.

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Gilberto Miranda Junior
Filosofando na Penumbra

Licenciado em Filosofia, estudou Ciências Econômicas e participa como pesquisador do CEFIL (Centro de Estudos em Filosofia), registrado no CNPQ e ligado à UFVJM