Anarquismo Negro

Janos Biro Marques Leite
Filosofia fictícia
3 min readJan 29, 2023

Este zine é a transcrição de um discurso dado por Ashanti Alston no Hunter College de Nova York, em 2003. Foi publicado no Brasil em 2014 pela Editora Deriva. A tradução é de Mariana Santos (Das Lutas). Alston foi membro do Partido dos Panteras Negras e do Exército Negro de Libertação. Neste texto, ele fala sobre algumas limitações do anarquismo clássico e da atualidade do anarquismo para a luta antirracista.

Alston começa falando sobre sua experiência no Partido dos Panteras Negras e como ele foi lentamente se aproximando do anarquismo enquanto estava na prisão. Como as referências anarquistas ainda eram os anarquistas clássicos, ele se perguntava como aplicar aquilo na comunidade negra.

“Eu ainda era um anarquista ‘no armário’ neste momento. Eu ainda não estava pronto para sair e me declarar anarquista, porque eu já sabia o que as pessoas iriam dizer e como eles iriam olhar pra mim. Quem eles veriam quando digo ‘anarquista’? Eles veriam os anarquistas brancos, com todos aqueles cabelos engraçados, etc. e dizer ‘como diabos é que você vai se envolver com isso?’” (p. 16).

Mas enquanto os Panteras Negras estavam se dividindo por conflitos internos, Alston começou a trabalhar com grupos anarquistas:

“Uma das lições mais importantes que eu também aprendi com o anarquismo é que você precisa olhar para as coisas radicais que já fazemos e tentar incentivá-las. É por isso que eu acho que há muito potencial para o anarquismo na comunidade negra: muito do que já fazemos é anarquista e não envolve o Estado, a polícia ou os políticos” (p. 18).

“Você realmente tem que olhar para as pessoas que estão tentando viver e não necessariamente tentando chegar com as ideias mais avançadas. Precisamos tirar a ênfase do abstrato e focar no que está acontecendo na base” (p. 19).

Para descrever a importância participação na organização anarquista, Alston a compara com o jazz: “Considere o jazz: é um dos melhores exemplos de uma prática radical existente porque ele assume uma conexão participativa entre o individual e o coletivo e permite a expressão de quem você é, dentro de um ambiente coletivo, com base no gozo e no prazer da música em si. Nossas comunidades podem ser da mesma forma” (p. 18).

O anarquismo funciona com base no apoio mútuo, que significa criar estruturas para fazermos juntos o que não podemos fazer sozinhos, sem que isso implique numa institucionalização da luta. “É por isso que temos que encontrar maneiras de amar e apoiar uns aos outros através de tempos difíceis” (p. 23). Ao mesmo tempo é sobre confrontar radicalmente o inimigo, o que significa apoiar e expandir as resistências e lutas radicais já presentes nos grupos menos privilegiados:

“É claro que vamos e devemos entrar em conflito com os nossos opressores e precisamos encontrar boas maneiras de fazê-lo. Lembre-se daqueles das classes subalternas, que são mais afetados por isso. Eles podem ter diferentes perspectivas sobre como essa luta deve ser feita. Se nós não podemos encontrar caminhos para nos encontrarmos cara-a-cara afim de resolvermos essa situação, velhos fantasmas reaparecem e nós voltaremos à mesma velha situação em que estivemos antes” (p. 25).

Link para o texto: https://bibliotecaanarquista.org/library/ashanti-alston-anarquismo-negro

Link para o zine: https://monstrodosmares.com.br/produto/anarquismo-negro/

Originalmente publicado em http://contrafatual.com em 29 de janeiro de 2023.

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Janos Biro Marques Leite
Filosofia fictícia

Graduado em filosofia, escritor, tradutor e criador de jogos.