A tradição pitagórica

Marcos Ramon
Filosofia no Ensino Médio
3 min readApr 13, 2020

A tradição pitagórica nos legou uma proximidade entre a Filosofia, a Música e a Matemática. Estas áreas, aparentemente distintas, possuem uma íntima conexão — algo que podemos ver também, de certa forma, em toda a natureza.

A realidade é dinâmica e podemos perceber conexões entre cada aspecto da realidade em tudo o que vemos. Nesse sentido, é interessante observar que Pitágoras (570 a.C. a 496 a.C., aproximadamente) nos legou não só o nome Filosofia ou o desenvolvimento do teorema que carrega seu nome, mas toda uma forma de ver o próprio mundo, integrado, conectado, uno.

Para Pitágoras a essência do Universo é a matemática. Isso não significa, necessariamente, que seja preciso entender de equações e sistemas numéricos para contemplar o próprio mundo, mas sim que todo o Universo está escrito em uma linguagem codificada, lógica. Se quisermos, podemos entender essa linguagem, admirá-la, construir outras coisas a partir dela, ver beleza na harmonia. A música, por exemplo, é a demonstração mais cabal dessa conexão entre a matemática e a correspondência com as regularidades da natureza. Mesmo sem nunca ter estudado música é bem provável que a maioria das pessoas reconheça a harmonia das notas dó, mi e sol que, quando executadas em conjunto, formam o acorde de dó maior. A estrutura harmônica que utilizamos na maior parte da música Ocidental até os dias de hoje, foi decifrada por Pitágoras e seus seguidores em seus termos matemáticos já na antiguidade.

Pitágoras, por Augustus Knapp

Pegue um instrumento de corda e toque uma corda solta qualquer. Depois divida essa corda ao meio, aperte o traste correspondente no instrumento e toque a corda de novo. A nota que vai soar na segunda vez será a mesma que soou no primeiro momento, mas com uma oitava acima (portanto, mais aguda). Divida aquela metade ao meio e que nota teremos? Exato: a mesma nota, ainda mais aguda. Essa regularidade é a base da construção dos instrumentos musicais, das escalas, das melodias e harmonias da música. E o mais interessante disso, como já disse antes, é que essa não foi uma descoberta de Pitágoras, mas sim uma constatação.

A natureza possui sua própria linguagem — a matemática — e a tarefa da Filosofia, considerando que esta se propõe uma reflexão sobre o próprio mundo, não pode ser outra que não buscar entender esses padrões, identificar suas conexões e refletir sobre as possíveis contradições e paradoxos de tudo aquilo que não conseguimos ainda entender — e são muitas as coisas que não compreendemos ainda!

Filosofia, Música e Matemática são faces da mesma realidade, do mesmo mundo. Refletir sobre a natureza, admirar a beleza do mundo, identificar padrões em tudo o que existe. Tarefas aparentemente distintas, mas que se uniam na tradição pitagórica. Fizemos bem em separar tudo isso ao longo da história? Não seria agora o momento de resgatarmos a essência do conhecimento como algo uno e inseparável?

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Marcos Ramon
Filosofia no Ensino Médio

Professor e pesquisador nas áreas de estética, cibercultura e ensino. Produz o podcast Ficções. https://marcosramon.net/