Os primeiros filósofos

Marcos Ramon
Filosofia no Ensino Médio
3 min readApr 13, 2020

A Filosofia se desenvolve na Grécia por conta de muito fatores. Enumerar esses fatores não é tarefa simples, dado que não nos restam documentos ou outros indícios materiais do surgimento dessa nova forma de se compreender a realidade. Além disso, é importante lembrar que a filosofia como área do conhecimento é algo que surgiu bem depois do aparecimento da atitude filosófica propriamente dita. E ainda aqui existe uma polêmica: como garantir que Tales de Mileto foi efetivamente o primeiro a filosofar?

A resposta para isso é simples: não é possível oferecer nenhuma garantia. Na verdade, é bem provável que indiquemos Tales de Mileto como o primeiro filósofo simplesmente pela nossa necessidade de colocarmos tudo em um plano organizado, inteligível, à maneira de uma história que precisa ter começo, meio e fim para ser bem compreendida. O problema, acredito, é não considerarmos a possibilidade de que o caótico, o não-linear, também possa conter beleza e vivacidade. A necessidade da linearidade, nesse caso, encontra apoio em três fontes importantes: o principal historiador da antiguidade grega, Heródoto, o historiador da filosofia grega, Diógenes Laércio, e o filósofo Aristóteles. Esses três importantes escritores apontam Tales de Mileto como sendo o primeiro filósofo, fato que para muita gente já parece ser um motivo suficiente para afirmarmos que a filosofia começou ali, naquele momento, com aquela pessoa. Mas será que antes de Tales ninguém conseguia racionar de modo filosófico? Nenhuma pessoa sequer?

Apesar da minha ironia, é importante entender que não existe nada de muito ingênuo na afirmação de que Tales é o primeiro filósofo. Os motivos são claros — como veremos nas próximas aulas — e a proposta de apontar um início para a filosofia personificada em alguém não implica em negar que outras pessoas tenham filosofado antes de Tales. A questão é que só temos registros — poucos, mas temos — de que a filosofia se inicia com esta pessoa e não com outras que possivelmente podem ter tido o mesmo espírito inquieto e investigador.

Tales de Mileto

Quando a filosofia começa ainda não existe a palavra “filosofia” para atestar o que ela é — a palavra só veio depois, com Pitágoras. O que vemos, portanto, em Tales, é uma atitude, uma predisposição para o conhecimento bem diferente do que provavelmente ocorria com outras pessoas, algo que costuma ser atestado por indícios de como as pessoas costumavam se comportar diante de problemas e questões sobre a natureza, a realidade e sobre o próprio conhecimento.

Tales identifica na natureza um objeto de estudo que lhe parecia interessante e intrigante. De alguma forma Tales percebia que, partindo da ideia de que as respostas dos mitos não eram suficientes para que compreendêssemos a totalidade do real, precisávamos nos posicionar e nos questionar se não haveriam outras respostas, mais viáveis e valiosas. É assim que Tales se torna não só responsável por apresentar novas possibilidades de se compreender a realidade, mas também incentiva outras pessoas (principalmente seus discípulos) a fazerem o mesmo.

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Marcos Ramon
Filosofia no Ensino Médio

Professor e pesquisador nas áreas de estética, cibercultura e ensino. Produz o podcast Ficções. https://marcosramon.net/