A vida de quem lida com a morte

Jornalismo UNIFAAT
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3 min readNov 26, 2019

No ambiente hospitalar o profissional se depara com frustrações, mortes, doenças e negações

Por: Pedro Rangel e Vinicius Gustavo

Durante a história, foram diversas as maneiras que o homem lidou com a morte. Por séculos, a morte ocorreu em casa, presenciada por familiares e pela comunidade, que se tornavam espectadores, pois os recursos e saberes eram escassos. Com o avanço tecnológico, a morte mudou de lugar e a instituição hospitalar se tornaria o lugar mais apropriado para morrer.

Apesar de ser a única certeza da vida, ela ainda assusta a todos, principalmente no contexto hospitalar, onde a morte é real e acontece com bastante frequência aos olhos de enfermeiros e médicos. Diante deles, por conta do convívio diário e todo cuidado com os pacientes, uma perda pode causar uma grande tristeza.

Os profissionais da saúde que trabalham diariamente com vidas, encaram a possibilidade da morte como um resultado não desejável diante do objetivo da sua profissão, que é a busca da saúde e cura de doenças. O óbito pode fazer com que o trabalho da equipe seja encarado como frustrante e desmotivador.

Em pesquisa divulgada pelo 2º Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, 148 pessoas morrem por dia devido a erros em hospitais públicos e privados. O documento se refere a esses óbitos como “eventos adversos graves”, listando como exemplos infecção generalizada, pneumonia, infecção urinária, infecção do sítio cirúrgico, complicações com acessos e dispositivos vasculares.

Arusi em seu local de trabalho

Para a psicóloga Arusi Kemeyanna dos Santos, 26, especialista em psicologia hospitalar, o luto no hospital pode influenciar grande parte dos profissionais da empresa. “Acaba sendo não apenas da família, mas da equipe multidisciplinar. Dependendo do período de internação e vínculo com o paciente, o luto é ainda mais intenso”, explica a profissional.

Por se tratar de um grande desafio, os profissionais da saúde devem estar sempre propensos a encarar a morte. “Não creio que há necessidade de treinamento, pois não podemos “treinar” para a morte. Eles precisam de amparo, escuta e acolhimento, é aí que entra o trabalho do psicólogo”, completa a especialista. O psicólogo tem como função justamente de ouvir essa dor, achando um meio mais saudável para ambas as partes de vivenciar a rotina de forma mais leve.

No cotidiano da enfermagem, a morte está sempre presente, e é um tema de extremo desconforto para esses profissionais, que muitas vezes apresentam dificuldades quando precisam ajudar a confortar a família do paciente em situação de óbito. De acordo com a enfermeira, Juliana Berto, 35, especialista em Terapia Intensiva e Alta Complexidade, a perda de um paciente não influência diretamente na vida dos profissionais da saúde. “Acredito que a morte não influência a vida dos profissionais, porém, muitas vezes fica a sensação de impotência e frustração, colocando-o em uma posição de não saber lidar frente ao sofrimento e a dor de alguém”, explica a enfermeira.

“No início da vida profissional, quando tudo é novo, é sempre muito mais difícil, com o passar do tempo, uma cabeça mais madura na profissão, lidar com o processo de perda é mais “aceitável” analisando cada caso especificamente. Perder alguém nunca é fácil, porém, muitas vezes a morte é a melhor saída para aliviar um sofrimento incurável”.

Apesar das instituições hospitalares serem compostas por diversas áreas, o profissional de enfermagem é quem está mais próximo dos pacientes e de seus familiares nos momentos difíceis, tornando-se o acompanhante de todo processo de óbito.

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